A depressão e o suicídio
Rafaela Paes
É tratada na questão 920 do Livro dos Espíritos, a temática da felicidade enquanto encarnados, demonstrando-nos os espíritos que não é possível que nós, homens, gozemos de uma felicidade completa na Terra, “visto que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Mas depende dele (o homem) amenizar seus males e ser tão feliz quanto se pode ser sobre a Terra”.
Mais adiante, Kardec questiona no Livro dos Espíritos: Questão 924 – Há males que são independentes da maneira de agir e que atingem o homem mais justo; não há algum meio de se preservar deles?
Nesse caso, ele deve se resignar e suportá-los sem murmurar, se quer progredir. Mas ele possui sempre uma consolação na sua consciência, que lhe dá a esperança de um futuro melhor, se faz o que é preciso para obtê-lo.
Ocorre que nem todas as pessoas possuem em sua consciência a crença de um futuro melhor, não entendendo que aqui não há felicidade plena, mais sim a possibilidade de uma vida de crescimento, amor, trabalho e caridade, que nos proporcionará tal sentimento no retorno à Pátria Espiritual.
E então, hoje é comum lermos e ouvirmos nos mais variados meios de comunicação, que a depressão é a doença do nosso século. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 2015, 322 milhões de pessoas sofriam com o diagnóstico de depressão. Especificamente no Brasil, a OMS afirma que trata-se do pais com maior prevalência da doença na América Latina, totalizando 11, 5 milhões de pessoas que sofrem com tal enfermidade.
Mas, o que é depressão? É o termo utilizado na psiquiatria para designar um transtorno de humor, uma síndrome em que a principal queixa apresentada pelos pacientes é o humor depressivo e às vezes irritável durante a maior parte do dia. Também estão presentes pensamentos negativos constantes, sentimento de culpa, sensação de inutilidade, diminuição do prazer e do ânimo para atividades cotidianas e de lazer, além da perda da capacidade de planejar o futuro.
Nessa definição, nós espíritas podemos enxergar de forma muito clara uma gigante porta aberta para a influência de espíritos de vibração inferior, que são atraídos pelos maus pensamentos daqueles que se encontram acometidos pela doença. É possível cessar essa interferência? Quem nos responde é a questão 467 do Livro dos Espíritos, onde Kardec questiona: pode-se libertar da influência dos espíritos que nos solicitam ao mal?, ao que os espíritos respondem: Sim, porque eles não se ligam senão aos que os solicitam por seus desejos ou os atraem por seus pensamentos.
Infelizmente, nem todos encontram dentro de si a força necessária para elevar sua vibração e se livrar de influências ruins, e ainda, nem todos creem nessa influência. E então, a depressão pode levar ao ato extremo do suicídio. Diversos são os fatores que podem levar uma pessoa a cometer suicídio, dentre eles a falta de fé, a descrença na vida após a morte, a ilusão de que com a morte o sofrimento acabará, o orgulho ferido, o sentimento de tédio diante da própria vida, que julga não ter objetivos, planejamento, bem como a falta de forças para enfrentar as adversidades da vida e o medo inerente de fracassar.
O suicídio ainda é um tabu em nossa sociedade, mas precisa passar a ser visto e discutido de forma diferente, haja vista sua crescente incidência em solo brasileiro. A título de ilustração da afirmativa, só no ano de 2014, 2898 jovens de 15 a 29 anos tiraram a própria vida. E o que nos dizem os espíritos sobre tal tema?
Questão 946, O Livro dos Espíritos – Que pensar do suicídio que tem por objetivo escapar às misérias e às decepções deste mundo?
- Pobres espíritos que não têm a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda àqueles que sofrem, e não àqueles que não têm nem força, nem coragem. As tribulações da vida são provas e expiações; felizes aqueles que as suportam sem murmurar, porque serão recompensados! Infelizes, ao contrário, os que esperam sua salvação do que, em sua impiedade, chamam de acaso ou fortuna! O acaso ou a fortuna, para me servir de sua linguagem, podem, com efeito, lhes favorecer um instante, mas é para os fazer sentir mais tarde e mais cruelmente o vazio dessas palavras.
SIM! Pois somente Deus tem o direito de dispor da vida (questão 944, O Livro dos Espíritos). Além disso, é de conhecimento daqueles que frequentam centros espíritas, os sofrimentos experimentados pelos suicidas, o que começa no momento de sua consumação e estará ligado ao tipo de morte que este escolheu para si. Se o suicídio se der por meio de veneno, haverá uma sensação lancinante de queimaduras no esôfago, estômago e intestinos. Se por arma de fogo na região da cabeça, haverá dor constante, impedindo o raciocínio e o sangue jorrará de forma contínua. Quando se der por afogamento, existirá sempre a sensação de falta de ar e o desespero para conseguir respirar. Por fim, se por enforcamento, o espírito reviverá no plano espiritual, os mesmos sintomas do afogamento. Em todas, o espírito ficará revivendo o momento de sua morte de forma repetida.
Longe de querer tratar de forma técnica acerca dos dois assuntos abordados, esse artigo tem como intenção principal a conscientização.
Primeiro, a conscientização daqueles que não sofrem com a depressão e pensamentos suicidas e, principalmente, a nós espíritas, que sabemos do dever e do poder de fazer o bem. A caridade é a benevolência para com todos, indulgencia para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas (Questão 866, O Livro dos Espíritos), e por isso, nossa tarefa não é julgar ou ter pena, e sim, ajudar, amparar e ouvir àqueles que precisam e chegam até nós em busca de conforto, e também àqueles que não buscam auxílio, mas nos quais identificamos a necessidade. E claro, isso de forma absolutamente desinteressada, sem esperar intimamente qualquer retribuição.
Importante que tenhamos atenção aos sintomas que podem preceder um suicídio, como a depressão, ansiedade, insônia, pessimismo, a falta de perspectiva de vida, atentar a mudanças bruscas que tenham ocorrido na vida da pessoa em questão, como a perda de alguém querido, por exemplo, as tentativas anteriores de suicídio, que aumentam o risco de repetição desta, anúncios espontâneos da vontade de tirar a própria vida, entre outros. Caso identifique esses sinais, ofereça ajuda médica, e se for o caso, leve-o de forma compulsória, tenha atenção em manter fora de seu alcance quaisquer remédios, armas ou objetos cortantes, converse, não o deixe sozinho, o que o fará sentir-se amado e trate do tema com clareza e sem ressalvas, ou seja, não tenha preconceito.
Segundo, a conscientização daqueles que sofrem; conscientização de que, se você está lendo este artigo, tem depressão e se vê às voltas com pensamentos suicidas, você não está sozinho. Procure ajuda profissional, converse com familiares ou amigos em que você tenha confiança, procure centros espíritas que você conheça e dê o seu grito de socorro. A vida é nosso bem maior, a estrada pela qual devemos caminhar para crescer, evoluir, aprender e chegar à felicidade verdadeira. Nós escolhemos nossas provas neste mundo, e são elas, por mais dolorosas e difíceis que sejam, que nos permitirão chegar a planos mais perfeitos e reconfortantes. O suicídio não o fará alcançar mais cedo uma vida melhor, e tampouco será o fim de tudo. Ele apenas virá a retardar sua felicidade e adicionará mais débitos em sua caminhada evolutiva (Questão 950, O Livro dos Espíritos).
Tenha fé, acredite e confie nos desígnios de Deus... Tudo aqui é passageiro, e isso também vai passar. “Guardemos a certeza pelas próprias dificuldades já superadas que não há mal que dure para sempre” (Chico Xavier).
Que a paz de Deus esteja com todos nós.
Referências:
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/depressao-cresce-no-mundo-segundo-oms-brasil-tem-maior-prevalencia-da-america-latina.ghtml
https://www.significados.com.br/depressao/
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39672513
Palestrante Maércio Abreu – Associação Espírita Alves de Abreu, Marília / SP
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