Abandono e Superação

Juliana Procópio
Certa feita, perguntaram-me como uma pessoa a qual se tem tão grande estima pode trair a confiança depositada e abandonar aqueles que pelas condições morais espera-se que proteja, mas os abandona a própria sorte? Num rompante podemos dizer que este é um desalmado e que não tem responsabilidade para com quem lhes depositam confiança. Mas se formos buscar nas codificações respostas para esses questionamentos poderemos entender por que algumas pessoas fogem de suas responsabilidades.
Quando um pai ou uma mãe abandonam seus filhos a própria sorte, estão muitas vezes desistindo da missão a que se propuseram na espiritualidade de educar e orientar esse espirito que receberam, ou mesmo de através dessa oportunidade reencarnatória, por fim a dividas adquiridas no passado.
Uma coisa que temos que ter em mente é que ninguém é responsável pelos nossos atos sejam bons ou maus. O que acontece às pessoas em razão de suas escolhas é responsabilidade exclusivamente do resultado dessas escolhas.
Albert Camus diz que “Somos responsáveis pelo que fazemos o que não fazemos e o que impedimos de ser feito”. A cima disso somos filhos do criador que entre todas as suas criações têm a faculdade de raciocinar, portanto de escolha. Então se somos dotados de livre arbítrio, por que então dizer que cabe ao outro a responsabilidade por meus atos, por minhas escolhas e felicidade ou infelicidade.
Em um artigo anterior sobre Os problemáticos Relacionamentos Familiares* abordamos que “muitos dos que temos como circulo de parentesco e amizade foram de algum modo nossos conhecidos em outras reencarnações. São espíritos que como nós, podemos trazer dessas experiências anteriores memórias, mesmo que momentaneamente as esquecemos para nosso benefício, de amor, alegria, raiva, mágoas e que se refletem nas relações atuais de maneira que não sabemos como explicar”.
Atraímo-nos por afinidades, pelos laços de afeto e desafeto que nos unem. Muitas vezes nos propomos a nascer em um lar juntamente com desafetos de outrora na esperança desse resgate, mas o livre arbítrio de cada um e a força dos desafetos, mesmo banhados pelo esquecimento salutar não impede que haja uma incompatibilidade, animosidade e muitas vezes até pura hostilidade por parte de membros de uma mesma família.
No entanto o que fazemos quando somos aqueles que não entendemos essa animosidade é que pode significar um salto em nossa evolução ou estacionarmos por não saber gerir essa situação.
Recordo-me de um caso em que o pai viúvo casou-se novamente e pela influencia da nova companheira deserdou seus filhos e foi viver com esta usurpando o patrimônio destes.
Quão certas são as leis de Deus, que ao envelhecer e perder toda sua fortuna foi agraciado pelo perdão de sua filha, a mais prejudicada de todas, que fora abandonada a própria sorte expropriada de seus bens, tendo marido e filhos, passando pelas maiores dificuldades e cogitado o suicídio, ser ao longo dessa experiência acolhida por muitas pessoas e seu coração ao invés de tornar-se duro como a armadura que criou por fora para se proteger, perdoar e não repetir o que sofreu no passado.
Esta não só perdoou seus algozes do passado, como os acolheu em sua velhice seguindo a máxima de Jesus “que é perdoando que se é perdoado”. Transformou a dor em aprendizado e com certeza deu grandes saltos em sua própria evolução. É claro que ouve de seus familiares e amigos próximos que é uma tola, que nunca faria isso. Que ambos merecem o desprezo com que a trataram. Mas ela responde, “O que eu seria melhor do que eles repetindo o que fizeram?”.
Todos nós sabemos que não é fácil, mas Deus nos oferece o caminho do perdão como oportunidade de crescimento. Por estarmos nesse momento esquecidos de nossas reencarnações anteriores, quem nos garante que não temos dividas muito maiores com esses que hoje acreditamos nos ter traído.
Sabendo que ninguém é inocente e que temos muito a ser resgatado, será que não temos que repensar nossa forma de ver as coisas e dar valor ao que nos é positivo e parar de nos lamentar pelo que nos foi tirado? Alias, tudo nessa existência não nos pertence realmente a não ser as boas coisas que fizemos. Estas sim irão conosco para sempre.
Para refletirmos um pouco mais em nossa parcela nos acontecimentos deixo abaixo uma linda reflexão de Adeilson Salles sobre o nosso despertar que faz parte do livro Estações.
Lembre-se: não existem coitadinhos.
Despertar
Para nós outros, assumir a própria cruz corresponde transitar para a estação do despertamento, pois o amadurecimento psicológico começa quando nos assumimos como resp