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CREMAÇÃO E ESPIRITISMO


Silvio Júnior


Existe uma frase (um tanto pessimista) que diz o seguinte: “A vida é o intervalo existente entre o nascimento e a morte”. Para grande parte das culturas, principalmente a ocidental, talvez o vazio existencial e o abismo que se abre a nossa frente após essa reflexão, por conta do seu teor de negativismo em relação as infinitas possibilidades de desfrute do tempo relativo em que passamos experimentando um mundo vasto não só de conteúdo já existente mas também de tudo aquilo que cada um pode acrescentar de bom a si e aos seus semelhantes, possam até fazer sentido; porém somos espíritas, e com estudo das evidencias cientificas expostas por Allan Kardec em sua grande obra, entendemos este intervalo como encarnação e desencarnação. Embora tenhamos consciência destes dois fenômenos com maior naturalidade, vivemos imersos em um contexto sociocultural complexo a ponto de que a pluralidade das crenças por vezes se misturarem e mesmo tendo uma visão distinta de determinados pontos em relação a vida ou mais especificamente a crença religiosa, algumas tradições se tornam comuns. Entre elas o ritual ou processo de destinação do corpo após a morte/desencarne, onde independente da direção que determinadas crenças tomem sobre o que se sucede post mortem, os costumes se assemelham neste tipo de situação.


Os procedimentos mais conhecidos e utilizados em respeito ao corpo pós desencarne atualmente são a sepultura ou a cremação, sendo este segundo, às vezes, alvo de polêmicas por conta da divergência de opiniões sobre o procedimento, pois existem pessoas que são de acordo com a prática e outras que não concordam de forma alguma com isso.


Para espiritas e simpatizantes, vale trazer a visão da Doutrina dos Espíritos sobre o tema para esclarecimento de interessados e melhor entendimento sobre relevância assunto diante da riqueza de informações contidas na literatura espírita sobre o além tumulo.


Kardec, como codificador não deixou nada especificado sobre melhores métodos para destinação do corpo já desprovido de vida ou princípio vital, mas sabemos que nos forneceu com seu trabalho em conjunto com a espiritualidade superior, meios de interpretação para chegarmos não necessariamente a conclusões finais, mas esclarecimentos que se adequem melhor a cada situação.


Partindo do princípio conhecido por nós de que o ser humano é constituído de um espírito, que é a sua essência possuidora de vida, envolto pelo perispírito, sendo este uma espécie de camada fluídica semimaterial que nos dá a forma com as características corporais humanas além de traços particulares a cada indivíduo, e quando encarnados nos encontramos revestidos ainda pelo corpo material, este ao qual estamos relativamente presos até o fim de cada encarnação. Deste modo, seguindo nesta linha de raciocínio, a questão de número 150b de O Livro dos Espíritos nos diz:

(Pergunta) “A alma não leva nada deste mundo?


(Resposta) “Nada mais que a lembrança e a vontade de ir para um mundo melhor. Essa lembrança é cheia de doçura ou de amargor, segundo o emprego que fez da vida. Quanto mais pura ela for, mais compreende a futilidade do que deixou sobre a Terra”.


Percebemos que na primeira linha da resposta encontramos logo uma informação que nos interessa, pois está explicito que resquício algum do corpo resta na alma após o desligamento do corpo físico, deixando este livre para que a família ou encarregados deem o destino da cremação se assim for a vontade destes ou do desencarnado, pelo fato de que, o que fica na terra nada mais interessa ao espirito desencarnado. Assim nos resta entender a posição daqueles que são contra a cremação, para relacionarmos com o nosso tema e chegarmos a uma melhor posição. Bem sabemos que a tradição de conservação do corpo depois da morte tem no amago humano ainda, determinada justificativa, por receio a algum mau, dor que possa se fazer ao portador do veículo anteriormente, ou preservação para um possível fenômeno de volta a vida por ressurreição ou algo semelhante, muito se sabe sobre a mumificação no Egito antigo, por exemplo, que tinha por objetivo conservar a integridade orgânica tanto quanto possível do meio físico para o esperado retorno de um faraó. Mas para quem ainda não estiver convencido, não crendo sequer na ciência que comprova que um corpo sem vida entra naturalmente em estado de decomposição até o seu fim completo, não possibilitando uma espécie de reutilização do mesmo, encontramos na questão número 166c de O Livro dos Espíritos a resposta de que um espírito para voltar a vida mundana precisa necessariamente passar a habitar um novo corpo:


(Pergunta) “Parece resultar desse princípio que a alma, após ter deixado o corpo, toma outro. Dito de outro modo, reencarna-se em um novo corpo. É assim que é preciso entender?


(Resposta) ‘É evidente”.


Depois de termos clareza sobre a inutilidade do corpo depois da sua separação em relação ao espírito, não existindo, ao nosso ver, algo no Espiritismo que se oponha com bases concretas a possibilidade de cremação, outra dúvida surge no tocante ao tempo de espera necessário para execução do procedimento, afinal, a alma se separa da carne no momento exato em que cessa a vida orgânica?


A morte é um fenômeno que se opera das mais diversas formas, e seria razoável imaginarmos que o rompimento dos laços de união entre os corpos físico e fluídico sigam essa multiplicidade de tipologias, cabendo-nos interpretar que, alguém de idade demasiadamente avançada passe com o andar do tempo por um desligamento mais gradual seguindo um fluxo natural de vida, com uma preparação para um rompimento natural para com o corpo, como uma planta que nasce esbanjando beleza e vitalidade e ao termino de um ciclo de vida entrega-se a terra naturalmente devolvendo os elementos materiais que usufruiu; por outro lado, alguém mais jovem que precise quitar débitos com a justiça divina passando por um desencarne violento, teria uma outra forma de rompimento dos laços com a carne por esbanjar energia de vida, pois pelo que sabemos corpo, perispírito e espírito formam um sistema funcionando em devida união cientificamente desconhecida por nós. Kardec, na resposta da questão 155a de O Livro dos Espíritos, diz que, “[...] a alma se desprende gradualmente e não como um pássaro cativo que, subitamente, se liberta. Os dois estados se tocam e se confundem, de forma que o Espírito se desprende gradualmente de seus laços, soltando-se, não rompendo-se”. Por não especificar o tempo demandado para que se realize o processo, Allan Kardec deixa assim, subjetiva esta ideia, corroborando com nosso raciocínio de que a forma e tempo de desligamento dos laços de vida materiais sejam diversos e imprecisos.


A literatura espírita nos mostra que a morte de um suicida, por exemplo, muitas vezes vem carregada de problemas fazendo com que o espírito sinta em alguns casos sensações relacionadas a putrefação do corpo físico, evidenciando a relação mais duradoura entre corpo e alma após a morte.


Contudo, não devemos nos preocupar com o assunto, ficando receosos quanto a cremação, tendo em mente que como exposto acima, não há, de acordo com a Doutrina Espírita problema algum conhecido com o processo, cabendo a cada um tomar uma posição e liberdade quanto a escolha sobre destinação do corpo físico após o desencarne, cabendo-nos ter em mente que Deus nos deu a graça de comunicações com a espiritualidade para conhecimento relativo a nossa evolução, e esclarecimento gradual para sanarmos duvidas desta natureza, trazendo-nos tranquilidade para tomada de decisões que se adequem a cada época. Se existisse algum impedimento sério ou contraindicação, teríamos certamente informações suficientemente necessárias na codificação para chegarmos a esta conclusão, afinal, nosso Pai é infinitamente bom e justo!


REFERÊNCIAS


KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 76.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1995


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