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Dança da Solidão



SOLIDÃO, substantivo feminino: 1. estado de quem se acha ou se sente desacompanhado ou só; isolamento; 2. caráter dos locais ermos, solitários; 3. local despovoado e solitário; retiro; 4. vasto espaço ermo, sem população humana; 5. sensação ou situação de quem vive afastado do mundo ou isolado em meio a um grupo social. Estas são algumas definições que se encontram no Dicionário do Google para o termo. Como podemos perceber a partir delas, a solidão é um estado de espírito (portanto não-permanente) e uma sensação (portanto uma emoção) características do ser que se sente (portanto uma autopercepção) desacompanhado, só, isolado, solitário, afastado, ou seja, sem companhia humana, mesmo que ela exista. Quem se sente solitário pode estar rodeado de pessoas, mas tem dificuldade em se conectar com elas.

Na canção “Dança da solidão”, os compositores Paulinho da Viola e Paulo Cesar Baptista de Faria, interpretada por Marisa Monte no álbum “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão”, lançado em 1994, descrevem o que sente uma pessoa solitária: “Solidão é lava que cobre tudo / Amargura em minha boca / Sorri seus dentes de chumbo / Solidão palavra cavada no coração / Resignado e mudo / No compasso da desilusão”. Esta solidão crônica é a do vazio interior, na qual estão associadas a fobia social, a depressão e ansiedade, ou ainda, a busca incessante pela companhia de qualquer outra pessoa (até em relacionamentos não-saudáveis), mas que não supre a solidão.

Em outro trecho da música, são descritos os tipos mais comuns de solidão: “Camélia ficou viúva / Joana se apaixonou / Maria tentou a morte, por causa do seu amor / Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado / Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado”. No caso de Camélia, existe realmente a ausência de alguém com quem ela conviveu durante algum período de sua vida, é a “solidão real”; para Joana, apesar da paixão, ainda existe a solidão, por falta de compatibilidade de interesses, compartilhamento dos momentos vividos, incompreensão, caracterizando a “solidão acompanhada”; no caso de Maria a solidão culminou na tentativa de suicídio, o sentimento profundo de estar só toma conta da pessoa, ela não vê sentido na vida, nem nas relações, a pessoa não se abastece de si mesma, reúne as mais diversas oportunidades para fugir de si própria, é a “solidão crônica”.

Segundo o espírito Joanna de Ângelis, através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco, no livro “O homem integral”, “o homem solitário, todo aquele que se diz em solidão, exceto nos casos patológicos, é alguém que se receia encontrar, que evita descobrir-se, conhecer-se, assim ocultando a sua identidade na aparência de infeliz, de incompreendido e abandonado. A velha conceituação de que todo aquele que tem amigos não passa necessidades, constitui uma forma desonesta de estimar, ocultando o utilitarismo sub-reptício, quando o prazer da afeição em si mesma deve ser a meta a alcançar-se no interrelacionamento humano, com vista à satisfação de amar”. Quando a solidão é tanta que incomoda, deve-se buscar ajuda psicológica profissional e, aliada a ela, procurar as oportunidades de amar: seja no seio familiar, na roda de amigos, ou amparando e estendendo as mãos em auxílio aos mais necessitados através da caridade. Amor é o recurso terapêutico para toda e qualquer aflição.

É importante salientar, também, que nem toda solidão é negativa. De acordo com o grupo Psicólogos Berrini “o ser humano precisa de momentos solitários para fazer uma autorreflexão sobre seus atos, descansar e até mesmo dar valor aos seus relacionamentos”. É o que afirma também o espírito Hammed, através da mediunidade de Francisco do Espírito Santo Neto, no livro “As dores da alma”, estabelecendo que a solidão saudável é importante momento de reflexão, onde exercitamos o aprendizado que nos levará a abrir um canal receptivo à consciência divina: “são muitos os caminhos de Deus e a solidão pode ser um deles. Jesus Cristo, constantemente, se retirava para a intimidade que o silêncio proporciona, pois entendia que a elevação de alma somente é possível na ‘vivacidade da solidão’.

O Cristo amoroso sabia que, quando houvesse silêncio no coração e no intelecto, se estabeleciam as bases seguras da relação entre a criatura e o Criador, proporcionando a percepção de que somos unos com a vida e unos com todos os seres. A espiritualidade Maior entende que, nos retiros de tranquilidade, criamos uma sustentação interior, que nos permite sintonizar com as leis divinas e com os valores reais da consciência cristã. Ouçamos com os ouvidos internos, pois ninguém pode assimilar bem uma experiência que não provenha de sua própria orientação interior.”

Mais um trecho de “Dança da solidão” traça um paralelo com o que diz Hammed: “Quando vem a madrugada, meu pensamento vagueia / Corro os dedos na viola, contemplando a lua cheia / Apesar de tudo existe, uma fonte de água pura / Quem beber daquela água não terá mais amargura”, descrevendo a sensação de plenitude ao se vivenciar esta solidão saudável. Podemos dizer que esta fonte de água pura é a vivência evangélica em nossas vidas, pois ela preenche o nosso vazio interior. Vivenciar o Evangelho é colocar em ação o “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, o maior mandamento de todos. Quem o cumpre, angaria recursos de companheirismo eterno nos mais variados níveis de vida.

Conforme estabelece Santo Agostinho em resposta à questão 495 de “O Livro dos Espíritos”, codificado por Allan Kardec, jamais estamos realmente sós, pois nossos anjos guardiões, espíritos protetores, estão sempre conosco: “onde quer que estejais, estarão convosco. Nem nos cárceres, nem nos hospitais, nem nos lugares de devassidão, nem na solidão, estais separados desses amigos a quem não podeis ver, mas cujo brando influxo vossa alma sente, ao mesmo tempo que lhes ouve os ponderados conselhos”. Busquemo-los em todos os instantes e, nos momentos de solidão, teremos nossos vazios preenchidos pelo zelo, carinho e afeto com que nos guardam.

Nesta “dança da solidão”, em que ora bailamos num ou noutro compasso da solidão negativa ou positiva, busquemos sempre ser bailarinos sincronizados do grande baile universal, contribuindo para a evolução de nós mesmos e dos que estão ao nosso redor, seguindo os passos do coreógrafo divino, representante do sublime amor, Jesus.

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