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Psicografia: explorando o fenômeno da escrita mediúnica


Sthephannie de Almeida Silva


A psicografia é um fenômeno que desperta o interesse e a curiosidade de muitas pessoas ao redor do mundo. Trata-se da escrita mediúnica, ou seja, a habilidade de escrever mensagens, textos ou cartas por meio da influência de uma conexão com o Plano Espiritual. É um tema que perpassa diversas culturas, religiões e crenças, e tem sido objeto de estudo e discussão por anos. Neste artigo, iremos explorar a psicografia em suas várias facetas, sua história, contexto espiritual e filosófico que a envolve.


"A ciência espírita há progredido como todas as outras e mais rapidamente do que estas. Alguns anos apenas nos separam da época em que se empregavam esses meios primitivos e incompletos, a que trivialmente se dava o nome de “mesas falantes”, e já nos achamos em condições de nos comunicar com os Espíritos tão fácil e rapidamente, como o fazem os homens entre si e pelos mesmos meios: a escrita e a palavra. A escrita, sobretudo, tem a vantagem de assinalar, de modo mais material, a intervenção de uma força oculta e de deixar traços que se podem conservar, como fazemos com a nossa correspondência. O primeiro meio de que se usou foi o das pranchas e cestas munidas de lápis, com a disposição que passamos a descrever" (KARDEC, 2023, p. 139).


Na Idade Média, surgiram relatos de médiuns que escreviam mensagens sob a influência de Espíritos. Surgida há cerca de 6000 anos, a escrita se organizou como uma tecnologia poderosa em torno da qual todas as sociedades modernas se estruturaram. Santa Brígida da Suécia, como também é conhecida, teria atribuído a autoria de suas cartas a várias autoridades civis e religiosas, enviando-as inclusive ao Papa Clemente VI, contendo, segundo alegava, instruções do próprio Cristo. Escreveu também correspondências endereçadas aos reis da França e da Inglaterra, a fim de que cessassem a Guerra dos Cem Anos. Conforme relatava, a recepção das mensagens era feita por ditados ou, então, por visões do texto a ser escrito, que lhe aparecia claramente diante dos olhos. Apesar de ter se dedicado intensamente a essa forma de escrita durante toda a vida, suas cartas não foram consideradas pelas autoridades da época, mas colaboraram diretamente para a sua canonização pela Igreja, que a chamou, na ocasião, de “correio a serviço de um Grande Senhor” (TAVARES, 1988, p. 99 - 100).


No século XIX, com o crescimento da movimentação espírita, a psicografia ganhou mais visibilidade e se tornou um dos fenômenos mais estudados e discutidos. “O Livro dos Médiuns”, escrito por Allan Kardec, é uma das obras mais influentes sobre o Espiritismo, onde a psicografia é abordada extensivamente. Kardec destacava ainda que, muito embora a mediunidade fosse uma faculdade natural do ser humano, ela não se manifestaria da mesma maneira em todos. O que mudaria, nesse caso, seriam as aptidões de cada médium, que teriam características distintas (KARDEC, 2023).


Ainda que por outros sinais inequívocos se manifesta amiúde a inteligência que atua. Chegando ao fim da página, o lápis faz espontaneamente um movimento para virar o papel. Se ele quer se reportar a uma passagem já escrita, na mesma página, ou noutra, procura-a com a ponta do lápis, como qualquer pessoa o faria com a ponta do dedo, e sublinha-a. Se, enfim, o Espírito quer dirigir-se a alguém, a extremidade da haste de madeira se dirige para esse alguém. Por abreviar, exprimem-se frequentemente as palavras sim e não, pelos sinais de afirmação e nagação que fazemos com a cabeça. Se o Espírito quer exprimir cólera ou impaciência, bate repetidas pancadas com a ponta do lápis e não raro a quebra (KARDEC, 2023, p. 141).


A psicografia indireta ocorre quando o médium recebe a comunicação do Espírito e, em seguida, transcreve a mensagem para o papel ou outro meio de escrita utilizando suas próprias palavras e estilo. Nesse tipo de comunicação, a mensagem espiritual é transmitida ao médium através de impressões, pensamentos ou inspirações, e cabe ao médium traduzi-las em linguagem escrita. O médium atua como um intermediário, captando as ideias e sentimentos do Espírito comunicante e expressando-os com suas habilidades linguísticas e cognitivas. Dessa forma, a mensagem pode passar por uma filtragem ou interpretação pessoal do médium antes de ser registrada.


Na psicografia direta, o Espírito comunicante utiliza diretamente a mão do médium para escrever a mensagem, sem a intervenção consciente do médium na escolha das palavras ou na escrita em si. Nesse caso, o médium pode não estar ciente do conteúdo da mensagem ou pode ter apenas uma compreensão parcial do que está sendo escrito, já que não é ele quem controla o processo. A psicografia direta é considerada uma forma mais autêntica de comunicação mediúnica, uma vez que se acredita que o Espírito comunicante tenha maior controle sobre a mensagem que está sendo transmitida. Essa forma de psicografia também é conhecida como "escrita automática", o médium escreve de forma automática, como se sua mão estivesse sendo guiada por uma força externa.


A escrita é algumas vezes legível, as palavras e as letras bem destacadas, mas com certos médiuns, é difícil que outrem, a não ser ele, a decifre, antes de haver adquirido o hábito de fazê-lo. É formada, frequentemente, de grandes traços; os Espíritos não costumam economizar papel. Quando uma palavra ou uma frase é quase de todo ilegível, pede-se ao Espírito que consinta em recomeçar, ao que ele em geral aquiesce de boa vontade. Quando a escrita é habitualmente ilegível, mesmo para o médium, este chega quase sempre a obtê-la mais nítida, por meio de exercícios frequentes e demorados, pondo nisso uma vontade forte e rogando com fervor ao Espírito que seja mais correto. Alguns Espíritos adotam sinais convenvcionais, que passam a ser de uso nas reuniões do costume. Para assinalarem que uma pergunta lhes desagrada e que não querem responder a ela, fazem, por exemplo, um risco longo ou coisa equivalente” (KARDEC, 2023, p. 177).


Ao longo dos tempos, vários médiuns notáveis se destacaram por seu papel na transmissão de mensagens através da psicografia, fornecendo um canal de comunicação entre mundos aparentemente separados. Esses médiuns, muitas vezes, sacrificaram suas próprias compreensões e vontades em prol da conexão com os Irmãos Espirituais, gerando diálogos e reflexões que transcendem as limitações da existência terrena. É essencial destacar que a psicografia, independentemente da abordagem escolhida, seja ela indireta ou direta, carrega consigo a marca da subjetividade humana.


Em suma, a psicografia permanece como um ponto de conexão e contemplação entre o mundo visível e o invisível, desafiando a compreensão humana e inspirando contínuos questionamentos e investigações. Através dela, podemos explorar a fronteira entre o conhecido e o desconhecido, o material e o espiritual, proporcionando um vislumbre das possibilidades de uma existência mais ampla e complexa do que aquela que percebemos apenas com nossos sentidos físicos. A escrita mediúnica nos convida a mergulhar nas profundezas do mistério, incentivando-nos a refletir sobre a natureza da realidade e nossa conexão com o universo em todas as suas manifestações.


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Referências:


KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes/RJ: Letra Espírita, 2023.


TAVARES, Clóvis. Mediunidade dos Santos. [Obra póstuma, concluída por Flávio Mussa Tavares]. Araras, São Paulo: IDE, 1988.



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