CARMA NA VISÃO ESPÍRITA
Maria Thereza dos Santos Pereira
O conceito de “carma” é transcrito no dicionário da seguinte maneira:
“Na religião budista ou hinduísta, a somatória das boas e das más ações, que alguém pratica numa de suas vidas, capaz de determinar o que irá acontecer com essa pessoa numa outra vida.
[Religião] Princípio que afirma estar o ser humano sujeito à causalidade moral, sendo que suas ações (boas e más) têm reações que a ele voltam, com a mesma forma e intensidade, nesta ou numa outra vida.
[Informal] Coisa, pessoa ou situação desagradável, com a qual se tem que conviver durante toda a vida: minha sogra é meu carma!
[Religião] Nas religiões da Índia, encadeamento de causa e efeito, tanto no plano físico quanto no moral.”.
Pela descrição acima, entende-se que o carma seria um castigo por um erro do passado e, por isso, alguém experimenta um sofrimento posterior decorrente disso.
Essa concepção é adotada no budismo e hinduísmo, justificando o motivo pelo qual as pessoas poderiam reencarnar em animais, por exemplo.
A relação de “causa e efeito” também está presente em outras religiões como o catolicismo, que ensina que em razão do pecado praticado, as pessoas podem ir para o purgatório ou inferno após o falecimento do corpo.
Ocorre que entendimento condenatório, que vem desde o Código de Hamurabi, o qual tinha por premissa “olho por olho e dente por dente”, já foi superado, por ser pautado em vingança e violência, mais condizente com as civilizações primitivas.
A vingança pelo erro alheio, inclusive promovida pelo próprio Deus, que em tese poderia escrever o nome das pessoas num livro e condená-las ao sofrimento eterno, não encontra sustentação na atual maturidade do conhecimento humano.
Afinal, o Cristo já nos trouxe diversos ensinamentos de amor ao próximo e perdão, não poderia “Deus” se contrapor de modo a ser Ele mesmo nosso carrasco, sem nos amar e perdoar, como quer que façamos com nossos semelhantes.
Elucidando ainda mais as lições de Cristo, em momento histórico posterior, pela superveniência da codificação da doutrina espírita, temos que Deus “é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”, não o contrário, a causa da destruição de todas as coisas (KARDEC, 2019).
Em vez de sofrimento eterno, temos nos dá inúmeras oportunidades de evolução e crescimento espiritual a cada nova reencarnação, de amar e ser amado, de perdoar e ser perdoado.
Assim, não existe para a doutrina espírita o carma, nem a relação de “causa e efeito” de erro do passado com sofrimento do presente.
Na realidade as situações difíceis vivenciadas podem ser encaradas de uma maneira positiva ou negativa, de acordo com a evolução espiritual de cada um. O sofrimento presente não seria um carma de falha do passado, porém a forma do espírito imperfeito encarar a experiencia vivenciada (de forma negativa).
Tendo em vista que estamos num planeta de provas e expiações, é natural que encaremos uma situação difícil de maneira pessimista, pois esta é a nossa tendência como espíritos classificados em grau três na escala evolutiva de Kardec (2019), como bem explicado no Livro dos Espíritos na questão 101, quando indica as características gerais dos espíritos imperfeitos, sendo uma delas a percepção de que sofreremos por muito tempo, a ponto de acreditar que é para sempre, em razão da punição de Deus.
Resumindo: não sofremos porque temos um carma e, sim, sofremos porque somos imperfeitos. Para nos livrarmos do sofrimento, devemos nos melhorar para evoluir e encarar as situações de maneira positiva e não continuar sofrendo para pagar o erro cometido.
Referências:
Dicio, Dicionário Online de Português, disponível em:
https://www.dicio.com.br/vaidade/. Acesso em: 02 de março de 2020.
KARDEC, Allan; Tradução de Matheus Rodrigues Camargo. O Livro dos Espíritos. 24ª reimp. São Paulo: Editora EME, 2019.
Comments