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Passe à distância: a energia espiritual que transforma

Alan Lira


Tomando como referência os textos canônicos do Antigo Testamento, a imposição das mãos era uma prática comum que se aplicava em diferentes oportunidades, tais como:

 

no ato da bênção (Gênesis 48:14); no ritual de sacrifício (mãos do ofertante colocadas na cabeça da vítima, Êxodo 29:10, 15, 19; Levítico 1:4; Levítico 3:2, 8, 13 ; Levítico 4:4, 24, 29; Levítico 8:14; Levítico 16:21); no testemunho em crimes capitais (Levítico 24:14). A tribo de Levi foi separada por imposição solene de mãos (Números 8:10); Moisés nomeou Josué para ser seu sucessor através de um ato semelhante (Números 27:18, 23; Deuteronômio 34:9)” (LESSA, s.d.).

 

Nos relatos bíblicos do Novo Testamento é possível encontrar alguns momentos em que Jesus recorre à imposição das mãos para promover curas.

 

Mostra-se no Evangelho de Marcos, capítulo 8, Jesus curando um cego fora da aldeia de Betsaida, impondo-lhes as mãos e restituindo-lhe a visão, fazendo-o ver a todos claramente. No Evangelho de Lucas relata-se, no capítulo 4, a eliminação da febre da sogra de Simão e a cura de enfermos que lhe eram apresentados, pondo as mãos sobre cada um daqueles enfermos.

 

A manifestação do Poder Divino de Jesus e a demonstração de Sua compaixão para os necessitados por meio da imposição das mãos é uma representação simbólica da transferência de Sua capacidade de cura para o doente. Bastaria um olhar ou até mesmo uma palavra do Cristo para que o enfermo tivesse sua saúde restituída, entretanto, manteve-se esse costume advindo de costumes anteriores, tal como verificamos nos textos do Antigo Testamento.

 

Com o advento do Espiritismo a partir da Codificação dos textos de Allan Kardec, a imposição das mãos como faculdade de cura é compreendida na segunda parte de O Livro dos Médiuns,  item 131 do capítulo 8, pela capacidade de modificação dos fluidos do organismo por ação da transmutação dos fluidos magnéticos a partir da ação de Espíritos magnetizadores que são auxiliados por outros Espíritos, ou pela ação de Médiuns curadores que “ têm o poder de curar ou aliviar o doente pela só imposição das mãos ou pela prece” (KARDEC, 2023, p. 161).

 

Continuando a tomar como base a Doutrina Espírita, em A Gênese, no capítulo 14, que trata acerca da cura a partir da ação fluídica sobre doentes, no item 32, Kardec destaca a possibilidade de curas instantâneas por meio da imposição das mãos.

 

Essa imposição das mãos com a intenção de favorecimento ao tratamento de enfermidades, sejam de natureza espiritual, física ou psíquica, com a troca de fluidos e energias, é denominada por passe. Carvalho, define passe como uma “transmissão de energias fluídicas de uma pessoa – médium passista – a outra pessoa que as recebe, em clima de prece e com a assistência dos Espíritos Superiores” (2021, p. 54). Na obra O Consolador, Emmanuel, no item 98, afirma que devemos compreender o passe como “uma transfusão de energias psíquicas” cujos elementos “são do reservatório ilimitado das forças espirituais” (2016, p. 40).

 

Entretanto alguns requisitos são indispensáveis para que haja efetiva ação do passe no auxílio a que ele se propõe. Dentre elas a disposição do beneficiado em receber a assistência do médium passista, que necessita, segundo André Luiz: “ter grande domínio sobre si mesmo, espontâneo equilíbrio de sentimentos, acendrado amor aos semelhantes, alta compreensão da vida, fé vigorosa e profunda confiança no Poder Divino” (2019, p. 318).

 

Esses atributos destacados por André Luiz não são pertinentes apenas a quem possui mediunidade ostensiva, ou seja, “aqueles em que a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade” (KARDEC, 2023, p. 142), mas a quaisquer pessoas que busquem elevação moral.

 

Desta forma, destacamos que a mediunidade de cura tem potencial para ser desenvolvida pois:

“O ser humano é detentor de fluidos e de forças curativas e, conforme seu modo de viver, sua reforma íntima e desejo sincero de fazer o bem e a caridade, pode tornar-se médium passista, atuando na doação de fluidos salutares e auxiliando no tratamento de doenças físicas ou espirituais na casa espírita (CARVALHO, 2021, p. 58).

 

O Espírito André Luiz, no livro Missionários da Luz, ao interrogar Alexandre, instrutor que desempenha elevadas funções no Plano Espiritual, em relação aos requisitos necessários dos Espíritos, encarnados ou desencarnados, para o desenvolvimento do auxílio magnético em socorro dos necessitados, é informado que:

 

“O missionário do auxílio magnético, (...), necessita ter grande domínio sobre si mesmo, espontâneo equilíbrio de sentimentos, acendrado amor aos semelhantes, alta compreensão da vida, fé vigorosa e profunda confiança no Poder Divino. Cumpre-me acentuar, todavia, que (...) na esfera carnal, a boa vontade sincera, em muitos casos, pode suprir essa ou aquela deficiência, o que se justifica, em virtude da assistência prestada pelos benfeitores de nossos círculos de ação ao servidor humano, ainda incompleto no terreno das qualidades desejáveis (2019, p. 318).

 

A doação de si para o amparo de outras pessoas consegue ser entendida como um ato de caridade que nos condiciona a manter hábitos salutares pertinentes ao processo de reforma íntima. Havendo boa intenção e melhoramento dos nossos costumes, a Espiritualidade do Mundo Maior, por merecimento mediante nossos esforços, nos auxilia a desenvolver a mediunidade de cura, visto que, como cocriadores de Deus, podemos tomar como parâmetro as promessas que Jesus fizera junto a seus discípulos ao afirmar que eles teriam a faculdade de curar os enfermos (Lucas 9:1-2).

 

Nas Casas Espíritas, a aplicação dos passes está inserida como uma das diversas atividades de assistência espiritual aos frequentadores e trabalhadores espíritas onde, usualmente, após as palestras ou estudos de obras espíritas, os frequentadores se direcionam para uma sala apropriada de aplicação de passes, ou, de maneira coletiva, os médiuns passistas, durante a oração ao final das atividades, beneficiam a quem busca essa forma de tratamento.

 

Cabe salientar que, em alguns casos, há a inviabilidade de se comparecer pessoalmente às Casas Espíritas. Armond elucida que “todos os Espíritos, encarnados ou desencarnados, possuem a faculdade de emitir e projetar radiações a quaisquer distâncias, por maiores que sejam” (1950, n/p), logo considera-se a possibilidade da aplicação de passes à distância com a intenção de cura do doente que não está presente no local, cuja inspiração da ação está referenciada no Evangelho de Mateus, capítulo 8, onde Jesus, à entrada de Cafarnaum, curou, à pedido de um centurião, o seu criado paralítico que jazia em sua casa, distante do Mestre.

 

Embora compreendamos que no Espiritismo a ação da prece por alguém é uma ação caridosa que beneficia o necessitado, a aplicação do passe à distância pode ser praticada da seguinte maneira:

 

1º) Concentração e prece.

2º) Idealizar a figura material do doente — se for conhecido — dando-o como presente; ou, então, imaginar sua figura, no local indicado e ir lá com o pensamento.

3º) Fazer sobre essa figura, imaginada ou ideoplastizada, os passes indicados, encerrando com uma prece. (ARMOND, 1950, n/p)

           

Cabe destacar a estreita relação de confiança que se dá entre paciente e a ação de aplicação do passe, assim como havia uma intensa relação com a fé daqueles necessitados que buscava a cura por intervenção de Jesus.

 

Nobre (2018, p. 17) destaca que “os passes a distância ou as orações que são enviadas aos doentes não terão efeitos substanciais se os beneficiários não se dispuserem a receber tais vibrações, colocando-se em sintonia com elas”, logo as boas intenções do doador precisam estar alinhadas de maneira clara com a disposição do recebedor.

 

Seja pessoalmente ou à distância, a doação que o médium passista, ou qualquer Espírito encarnado ou desencarnado, se propõe a conceder a favor de quem recebe as boas vibrações auxiliadoras, é uma caridade nobre, condicionadora à perfectibilidade de Deus.

 

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Referências:

 

1 - ARMOND, Edgard. Passes e radiações: métodos espíritas de cura. São Paulo: Editora Aliança, 1950.

2 - CARVALHO, Evelyn Freire de. O que é a Casa Espírita. Série Conhecendo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora Letra Espírita, 2021.

3 - EMMANUEL (Espírito). O Consolador. Psicografado por Francisco Cândido Xavier, 29ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2016.

4 - KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro, 36ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995.

5 - KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita, 2023.

6- LESSA, Luan. Imposição de mãos. Apologeta. S.D. Disponível em <https://www.apologeta.com.br/imposicao-de-maos/>. Acessado em 25 de abril de 2025.

7- LUIZ, André (Espírito). Missionários da luz. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 45ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2019.

8- NOBRE, Marlene.  O passe como cura magnética. 5ª ed. São Paulo: Editora FE Editora Jornalista LTDA, 2018.

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