O Espiritismo e a questão do livre-arbítrio: Liberdade e responsabilidade na Vida Espiritual
- editoraletraespiri
- 30 de abr.
- 4 min de leitura

Keilizie Santaroza
O livre-arbítrio, segundo o Espiritismo, é a capacidade que os seres humanos possuem de tomar decisões de forma consciente e voluntária, sendo responsáveis pelas consequências de suas ações. Este conceito é amplamente discutido nas obras de Allan Kardec, principalmente em O Livro dos Espíritos, onde se explora a relação entre liberdade e responsabilidade no contexto espiritual. A Doutrina Espírita defende que ao longo das encarnações, o Espírito evolui através das escolhas que faz, refletindo diretamente sobre o seu progresso moral.
No Espiritismo, o livre-arbítrio está intimamente ligado à Lei de Causa e Efeito, que muitas pessoas conhecem como Lei de Ação e Reação. Segundo essa Lei Universal, cada ação humana gera uma consequência correspondente que pode ser positiva ou negativa, dependendo da natureza da ação. Assim, o uso do livre-arbítrio não é isento de responsabilidades; o indivíduo deve arcar com as implicações das suas escolhas, seja nesta vida ou em vidas futuras.
Vamos trazer um exemplo: Um Espírito que comete atos de injustiça ou maldade poderá, em encarnações futuras, experimentar situações que o levem a refletir sobre suas ações anteriores, promovendo um aprendizado moral. Este processo de aprendizado e reparação é fundamental para o progresso do Espírito rumo à perfeição. A ideia de "pagar pelos seus erros” não deve ser vista como uma forma de punição, mas como uma oportunidade para a reparação e o crescimento espiritual, muitas vezes por escolha do próprio Espírito.
De acordo com o Espiritismo, Deus concede aos seres humanos a liberdade de escolha para que possam evoluir moral e espiritualmente. No entanto, essa liberdade deve ser usada com sabedoria, uma vez que o desenvolvimento moral depende diretamente das escolhas que o indivíduo faz ao longo da vida.
Em O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta sobre o livre-arbítrio e os Espíritos Superiores explicam que o homem tem plena liberdade para agir, mas será responsável por tudo o que fizer, tanto no bem quanto no mal. Quanto mais o Espírito evolui, mais ele compreende as Leis Divinas e, portanto, maior é a sua responsabilidade sobre seus atos. Isso significa que o livre-arbítrio não é apenas uma liberdade irrestrita, mas também uma oportunidade para o exercício da responsabilidade e do discernimento moral.
No Espiritismo, há uma distinção importante entre determinismo e livre-arbítrio. Embora algumas experiências e circunstâncias de vida sejam predeterminadas antes da encarnação com o objetivo de facilitar o aprendizado espiritual, o Espírito sempre tem o poder de escolher como reagirá a essas situações. Assim, não há um determinismo absoluto, já que o indivíduo sempre possui a liberdade de ação dentro de certos limites.
Por exemplo, uma pessoa pode nascer em uma família com dificuldades financeiras como uma forma de aprendizado e prova, mas o modo como ela enfrentará essas dificuldades dependerá das suas escolhas individuais. Isso demonstra que o livre-arbítrio é sempre respeitado, mesmo quando algumas experiências da vida terrena são previamente planejadas para o progresso do Espírito.
Após a morte do corpo físico, o Espírito continua a exercer seu livre-arbítrio no Plano Espiritual, sendo responsável por suas ações durante a encarnação terrena. O Espiritismo ensina que, após a morte, o Espírito revisita suas ações e decisões, tomando consciência dos acertos e dos erros cometidos. Esse processo de reflexão é fundamental para o progresso espiritual, pois permite ao Espírito avaliar como utilizou seu livre-arbítrio e quais áreas precisam de aprimoramento. Além disso, os Espíritos Superiores auxiliam aqueles que buscam corrigir suas falhas, incentivando o desenvolvimento moral e espiritual. Portanto, o livre-arbítrio, longe de ser um fardo, é uma ferramenta essencial para a evolução do Espírito que deve aprender a usá-lo com sabedoria, para alcançar estados superiores de consciência e harmonia.
O Espiritismo ainda enfatiza a importância da educação moral como meio de orientar o uso do livre-arbítrio. Através do conhecimento das Leis Divinas e do exercício do amor ao próximo, o Espírito aprende a fazer escolhas mais conscientes e responsáveis. A educação espírita não se limita ao aspecto intelectual, mas na busca, principalmente, das virtudes e da ética.
Os Mentores Espirituais, Guias que auxiliam os encarnados, têm um papel essencial na orientação dos Espíritos em suas jornadas. Eles respeitam o livre-arbítrio dos indivíduos, mas oferecem aconselhamento e inspiração para que as escolhas sejam pautadas no bem e na evolução moral. Assim, o ser humano, com a ajuda espiritual, pode melhorar gradualmente suas decisões e contribuir para o próprio progresso e o progresso da coletividade.
Podemos concluir que o livre-arbítrio no Espiritismo é um dos princípios fundamentais que guiam o progresso espiritual. Através da liberdade de escolha, o Espírito tem a oportunidade de aprender, reparar erros e evoluir moralmente. Contudo, essa liberdade traz consigo uma grande responsabilidade, pois cada ação gera consequências que devem ser assumidas pelo Espírito, seja nesta ou em futuras encarnações. O equilíbrio entre liberdade e responsabilidade é, portanto, a chave para a evolução espiritual e para a construção de um futuro mais harmonioso, tanto individual, como coletivamente.
===============
Referências
AMORIM, Deolindo. O Espiritismo e os Problemas Humanos. U.S.E. 1985
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, tradução de Guillon Ribeiro. Editora Letra Espírita. 2023.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro. Editora Letra Espírita. 2023.
PIRES, Herculano J.. O Espiritismo e o Tempo: Introdução Antropológica ao Espiritismo. Editora PAIDEIA. 2020.
Conheça o Clube do Livro Letra Espírita, acesse www.letraespirita.com.br e receba em sua casa os nossos lançamentos. Ajude a manter o GEYAP – Grupo Espírita Yvonne do Amaral Pereira.
Commentaires