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Emmanuel: Suas Vidas à Luz do Postulado da Reencarnação



Por: Marcelo Pereira


Em nosso imaginário coletivo, a veneranda personalidade de Emmanuel é projetada em nossa consciência como um espírito de escol, membro das mais abençoadas falanges de Cristo - integrante à comitiva do Espírito da Verdade, responsável por equipes espirituais dedicadas ao trabalho nesse orbe terreno, impulsionado pelo genuíno desejo de promover essa obra de renovação espiritual do planeta, a partir da evolução moral da humanidade.


Aos inúmeros admiradores da doutrina espírita nessa pátria do Evangelho é Emmanuel descrito em pinceladas honoríficas, no que nos desperta uma humilde reverência à sua nobre figura, e muito em função de sua influência espiritual nas obras psicografadas pelo médium mineiro Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier - 1910/2002), por quem devotava um imenso carinho, nascido de uma vida unida em diferentes encarnações (1), e notadamente pela presença amorosa e doce em que exercia a sua tarefa de guia espiritual do cândido medianeiro.


Não são poucas as referências que Chico Xavier faz a seu mestre espiritual, e de sua importante influência na caminhada missionária de divulgação da doutrina espírita, e a herança de integridade que ambos nos legaram estão inscritos em indeléveis ensinamentos cristalizados na sua expressiva produção literária, e em especial na questão decisiva da emancipação espiritual da humanidade e no trabalho disciplinado do encontro de si, condições imprescindíveis à tarefa que se descortinava em sua rotina reencarnatória de obreiro de Cristo.


Sua destacada presença é identificada na codificação kardequiana “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (capítulo XI, item 11 - “O Egoísmo”), o que realçaria o seu alto valor como ministro de Cristo, ao participar da produção deste manancial ético infalível a guiar-nos os passos na peregrinação que se há de percorrer em direção à auto iluminação espiritual e que, com essa atitude inevitável, nos permitirá identificar a fonte cristalina da presença de Deus em nós, que jaz habitado latente em nosso santuário íntimo: o nosso coração.


Perspectivar o reverendo espiritual nessa dimensão iluminada, nos anima o espírito de regozijo sublime, pela luz que se expande de sua tessitura moral, em permanente convite que nos faz pela transformação de nossa vibração espiritual e a ascensão às dimensões alvíssaras desse infinito horizonte celestial.


De outro modo, esse singelo comportamento de reverência, poderia nos incitar a todos a assunção de uma postura passiva em relação a nossa própria capacidade de emancipação espiritual, na medida em que identificamos um campo impenetrável de acessibilidade, destinado que estaria apenas aos espíritos banhados de luz.


Todavia, tal atitude é refratária ao que se compreende dos ensinamentos do próprio Emmanuel, e notadamente à sua própria trajetória peregrina, pois que, assim como todos nós, referida dignidade espiritual igualmente cumpriu diferentes estágios vibracionais, conjugando vidas enodoadas pelas chagas da vaidade e do orgulho, com outras mais embevecidas de virtuosidades morais, mas sempre um ser vivente, com as dores e os amores de sua existência encarnatória.


Nesse campo, a literatura espírita é pródiga em relatos sobre as VIDAS DE EMMANUEL, e identifica no Egito do século IX A.C, a figura de SIMAS, Grão Sacerdote do Templo da Amón-Rá, em Tebas, reitor de Tanis e pai da futura rainha Samura-Mat ou Semíramis, a mais remota existência humana atribuída à Emmanuel, e que estaria registrada em obra do político e escritor espírita Camilo Rodrigues Chaves (1884-1955), denominada “Semíramis - Rainha da Assíria, Babilônia, do Súmer e Akad” (2).


Em reencarnação seguinte, fora o CÔNSUL PÚBLIO CORNELIUS LENTULUS SURA, pelos idos do SÉCULOS II e I a.C., figura proeminente à época de Lucius Sergius Catilina, a quem apoiou a conquista do consulado, e combatente vigoroso à Marco Túlio Cícero. Nessa encarnação fora o segundo esposo de Júlia, mãe do general Marco Antônio, e tal vida é mencionada pelo próprio Emmanuel em obra psicografada por Chico Xavier - Há Dois Mil Anos -, que descreve a história do SENADOR PUBLIUS LENTULUS CORNÉLIUS, à época de Cristo, que traz em reminiscências as lembranças dessa existência anterior, no que se reconhece ser seu próprio ancestral.


Nessa obra consagrada, Emmanuel apresenta à humanidade a história de uma de suas encarnações, como o mencionado senador romano, casado com Lívia, cujo vínculo matrimonial gera os filhos Flávia Lentúlia e Marcus, tendo desencarnado no ano de 79 d.C., vítima da tragédia de Pompéia. Em razão de problemas de saúde de sua filha, a família é instada a residir em uma aprazível região da Galileia, aos arredores de Cafarnaum, e lá é ele impactado com a presença viva de Jesus, que iniciava a sua peregrinação apostólica sobre a Boa Nova pela região, mas que, mesmo surpreendido com o encontro do Mestre de Nazaré, ignora os sentimentos benfazejos que lhe é proporcionado, para ancorar-se na tradição de sua cultura romana, e no orgulho e vaidade provocada por sua importante posição social no reino de Tibério César.


De sua posição nobre como Senador Romano, Emmanuel volta à existência humana no Século II como o ESCRAVO NESTÓRIO, em relato igualmente descrito pelo Espírito na obra 50 Anos Depois (psicografia de Chico Xavier), de origem judaica, nascido em Éfeso, na Grécia, cuja vida de liberto é substituída por uma rotina de agrilhoamento promovido pelos romanos na Judéia, sendo martirizado no reinado de Élio Adriano (76 d.C/138 d.C), junto ao seu filho Ciro, no espetáculo horrendo dos circos romanos de martírio aos adeptos da doutrina de Cristo, cujos ensinamentos ouve pelas pregações de João, o Evangelista.


Nas passagens seguintes, Emmanuel é dedicado às artes, à filosofia e à religião. É o FILÓSOFO BASÍLIO (século III), descrito na obra Ave Cristo! (igualmente psicografada à Chico Xavier), em que se mostra como velho afinador de instrumentos e filósofo de grande inspiração, Pai de Lívia, menina órfã a quem dedica a sua vida, e que seria uma das encarnações do próprio Chico Xavier.


E, posteriormente, o BISPO DE REMIS - SÃO REMÍGIO (séculos V e VI), o apóstolo de Gaia, exímio orador, com notável destaque em razão de sua proficiente retórica, e figura importantíssima no fortalecimento do Cristianismo em solo francês, a quem ensinava com pureza e firmeza tantos aos membros da corte como aos camponeses e os demais súditos, tendo sido consagrado Santo, pela Igreja Católica em 03 de outubro de 535 (3).


Em saltos de séculos, sua nova presença permanece presa em uma vida clerical, como PADRE MANOEL DA NÓBREGA, português nascido em 1517, que chega ao Brasil em comitiva de Tomé de Souza, e em companhia José de Anchieta, como integrante da Companhia de Jesus, exerce importante influência no movimento de evangelização da fé cristã no Brasil, notadamente junto aos indígenas, e é visto como um dos fundadores da cidade de São Paulo, e pela expulsão dos franceses do Rio Janeiro, em apoio ao governador Mem de Sá (4).


No Século vindouro é PADRE DAMIANO (da Obra psicografada “Renúncia”, por Chico Xavier), de origem espanhola, com nítidas posições que revelavam à intimidade a adesão à doutrina espírita nascente à época, pois defendia a crença na imortalidade da alma e na pluralidade de existências, e um combatente do Santo Ofício. Um pensador livre, e ligado ao ministério da exegese espiritual e figura central na relação com a angelical Alcione.


No campo dos saberes, foi JEAN JACQUES TURVILLE, educador da nobreza e prelado católico, do Século XVIII (5).


É PADRE AMARO, nascido no Estado do Pará, no Brasil, em fins do século XIX, e dedicado à vida sacerdotal transfere-se para o Rio de Janeiro, onde convive amistosamente com Dr. Bezerra de Menezes, com quem mantinha diálogos sobre a codificação espírita, e essa encarnação é mencionada pelo próprio Emmanuel a Chico Xavier (mensagem psicografada em 15 de maio de 1934, e registrado no Livro Notáveis Reportagens com Chico Xavier, de Hércio Marcos Cintra Arantes, IDE, capítulo 32, páginas 183-184) e que pela informação contida “ele pediu esta reencarnação por ter necessidade interior de recolhimento, para ficar esquecido das personagens de destaque que, historicamente, vinha vivenciando nas suas diversas etapas reencarnatórias, a fim de ter tempo e silêncio para meditar e estudar convenientemente o Evangelho do divino Mestre”, bem como para “mergulhar mentalmente na língua portuguesa contemporânea, preparando-se para a missão que lhe seria confiada no vindouro século XX”(6)


Como visto, a peregrinação de Emmanuel não se insere no campo linear da proeminência moral absoluta, mas como resultado de uma progressiva caminhada experimentada na dor, nas dificuldades, no orgulho e na vaidade, bem como no amor, no estudo, na caridade e na reflexão filosófica, vivências construídas em direção ao autoconhecimento, manifesto na consciência do valor desses imemoráveis aprendizados que cada estágio significa em nossa evolução espiritual.


A doutrina espírita é vivida em postulados assentes na universalidade e na permanência infinda da lei divina, e a clarividência da imortalidade da alma e das pluralidades de existências faz imperativo o reconhecimento de sua incidência em nossa trajetória por esse mundo de ensinamento e expiação.


A depuração de nossas nódoas corpóreas, dada a limitação finita de uma existência, encontra nos postulados da reencarnação a sua via de ocorrência, como bem explicam os espíritos a Kardec em O Livros dos Espíritos - Questão 166, em que “sofrendo a prova de uma nova existência”, o espírito “depurando-se a alma, indubitavelmente, experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal”, na medida em que “todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram” (7).


O “melhoramento progressivo da humanidade” por intermédio da expiação é o fim objetivado com a reencarnação, donde se afirmam os espíritos que “Sem isto, onde há justiça?” (Questão 167), pois com essa providência misericordiosa “a cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante na senda do progresso” - Questão 168 (8)


É na virtude do arrependimento, sincero e espontâneo, que se funda o dogma da reencarnação, pois “não obraria Deus com equidade, nem de acordo com a sua bondade, se condenasse para sempre os que talvez hajam encontrado, oriundos do próprio meio onde foram colocados e alheios à vontade que os animava, obstáculos ao seu melhoramento. Se a sorte do homem se fixasse irrevogavelmente depois da morte, não seria uma única a balança em que Deus pesa as ações de todas as criaturas e não haveria imparcialidade no tratamento que a todas dispensa”. E mais, “homem, que tem consciência da sua inferioridade, haure consoladora esperança na doutrina da reencarnação. Se crê na justiça de Deus, não pode contar que venha a achar-se, para sempre, em pé de igualdade com os que mais fizeram do que ele. Sustém-no, porém, e lhe reanima a coragem a ideia de que aquela inferioridade não o deserda eternamente do supremo bem e que, mediante novos esforços, dado lhe será conquistá-lo.” - Questão 171 (9)


No exercício do livre-arbítrio, o ser encarnado projeta sobre si os campos vibratórios que emoldurarão a sua realidade psicosférica, alterando a sua paisagem mental, expelindo (ou atraindo) os miasmas que lhe aprisionam a uma existência material e que lhe permitiria (ou afastaria) uma convivência mais harmoniosa com Cristo, e um casamento indissolúvel com o Criador, no que desde que “se ache limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal”. - Questão 168 (10)


À luz dessas considerações é possível identificar o postulado da reencarnação em uma perspectiva ética, a partir de um conjunto de escolhas que nos é por Deus permitido viver, em projeção à nossa própria auto iluminação construída pelo autoconhecimento, em uma atitude contínua de semeadura de nossa autotransformação moral.


Portanto, sem esforço, coragem, estudos, atitudes, reflexão, fé e amor não se transitará à Luz e à Verdade, cônscios que deveremos ser de que esse é um compromisso que se faz acessível a todos nós, em uma viagem pessoal, inevitável e intransferível.


É a reencarnação um ato de amor e de justiça divina concedida a todos os seus filhos que sintam pulsar em si a necessidade do melhoramento espiritual, bem como àqueles imbuídos de caridade moral, pois não é negado a espíritos experimentados e já encharcados dos predicados de nobreza espiritual o seu retorno a esse oriente terreno, especialmente se missões de progresso lhes são oportunizados o serviço (11), como aparentemente sóis ser à Emmanuel, sobre quem paira no ar a expectativa de que o benfeitor espiritual já estaria encarnado no Brasil, em interpretações feitas a partir de revelações manifestas pelo médium Chico Xavier em diferentes ocasiões.


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Referências:

2- Fonte: (http://bibliadocaminho.com/ocaminho/TXavieriano/Livros/Dco/DcoVidas.htm).

3 a 6 - Idem.

8 a 11 - Idem


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