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O Nazismo Sob o Olhar Espírita


Rafaela Paes de Campos


Oficialmente chamado Nacional-Socialismo, o Nazismo foi uma ideologia associada a Adolf Hitler e ao Partido Nazista, sendo considerada uma forma de fascismo “que despreza a democracia liberal e o sistema parlamentar. Incorpora o racismo científico, o antissemitismo, o anticomunismo e o uso da eugenia no seu credo” (WIKIPEDIA, 2021, on-line).


Durante a Segunda Guerra Mundial, sob o comando de Hitler entre os anos de 1933 e 1945, culminou no Holocausto, o extermínio de mais de dez milhões de pessoas, principalmente de origem judia, mas também eslavos, ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová, opositores políticos, deficientes físicos e mentais e negros e maçons (WIKIPEDIA, 2021, on-line).


A ideologia nazista foi derrotada em 1945 e as lideranças nazistas que sobreviveram foram julgadas por seus crimes pelo conhecido Tribunal de Nuremberg, criado pelos governos dos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e União Soviética. Foi um tribunal de exceção. “Foi através do tribunal que houve uma ressignificação do direito internacional, configurando um novo modelo no sistema externo que buscou cada vez mais o acolhimento aos direitos humanos. Ele direcionou a novo caminhos processuais e estabeleceu limites no que concerne a brutalidade, crueldade e violência da guerra” (POLITIZE, 2021, on-line).


Das tantas atrocidades cometidas, trago um texto do livro “Os Fornos de Hitler’, escrito por Olga Lengyel, uma sobrevivente do período, para que se visualize as barbáries cometidas:


Algumas vezes, escolhiam prisioneiras para as fábricas de guerra, mas em geral só selecionavam para as câmaras de gás. A cada vez, separavam de 20 a 40 pessoas para o barracão. Quando a seleção era feita em todo o campo, de 500 a 600 prisioneiros eram mandados para a morte. Os escolhidos eram no mesmo instante cercados por stubendiensts que deveriam, sob pena de sofrer castigos terríveis, evitar que fugissem. Os homens e as mulheres condenados eram levados para a entrada principal. Lá, um caminhão aguardava para transportá-los até as câmaras de gás. Quando havia superlotação nas instalações mortíferas, as pessoas eram mandadas para barracões especiais, ou para os lavatórios, e esperavam ali por horas, por vezes dias, até chegar a hora de serem asfixiados. Tudo feito com muita ordem, sem qualquer sentimento de compaixão por parte dos nossos captores. Além das chamadas, havia outro evento denominado zahlappel, que acontecia dentro do barracão. De repente, o local era isolado e o médico-chefe da SS, assistido por uma médica responsável pelas deportadas, também ela uma prisioneira, entrava e se preparava para fazer seleções adicionais. As mulheres recebiam ordens de remover os trapos. Então, com os braços erguidos, desfilavam diante do dr. Mengele. Não faço ideia do que ele via naquelas figuras alquebradas. Mas escolhia suas vítimas. Ordenavam que subissem num caminhão e eram levadas dali, completamente nuas. Esse espetáculo era sempre trágico e humilhante. Humilhante para as pobres sacrificadas e para toda a humanidade. Porque aquelas criaturas desgraçadas levadas para abatedouros eram seres humanos – como eu e você” (LENGYEL, 2018, p. 53).


Não é necessário dizer que, sob um olhar Cristão, trata-se de um período e de um pensamento totalmente repreensíveis, abjetos e sem qualquer justificativa. Não há defesa para embasar o ato de tirar a vida de uma pessoa, que dirá causar um genocídio como ocorreu nessa triste época da história humana.


A guerra demonstra de forma inequívoca a predominância da natureza animal do homem, que tem como seu guia as paixões desenfreadas. Em tempos onde a barbárie é dominante, vale a lei do mais forte e, para quem vê na guerra as justificativas de seus desejos, esse é um estado normal (KARDEC, 2018, p. 243).


Aquele que provoca a guerra em benefício próprio, tal qual ocorreu na época do Nazismo, eis que seus adeptos tinham pensamentos fixos e que sabemos ser infundados, pregando a hegemonia de raças e exterminando quem não se enquadrava em seus doentios padrões, “é o verdadeiro culpado, e precisará de muitas existências para expiar todos os homicídios de que foi causa, pois responderá por cada homem cuja morte tiver provocado para satisfazer sua ambição” (KARDEC, 2018, p. 244).


Sabemos por meio dos estudos de O Livro dos Espíritos, que há flagelos destruidores que ocorrem e atingem a humanidade de tempos em tempos a fim de fazer com que ela progrida em maior velocidade. Entretanto, é preciso que se faça importante distinção entre o que é vontade de Deus e o que é fruto de um livre arbítrio guiado pelas grandes mazelas humanas, o orgulho e o egoísmo.


É claro que sim, Deus sabe o que faz e jamais nos desampara. Essa é a “fé-crença”, a certeza de uma força maior olhando por nós e cuidando de nossos passos. Entretanto, é de suma importância que se compreenda que a maior prova de amor dada por Deus a cada um de nós é a de nos criar como espíritos em igualdade de primitivismo e, por meio de nossas escolhas, decisões e esforços, permitir que progridamos. Somos criados iguais, mas os louros de nossas vitórias e as lições de nossos erros nos atingem de forma individual.


Não estamos encarnados, hoje, todos num mesmo estágio evolutivo. Uns já chegaram mais longe, outros ainda tropeçam nas pedras espalhadas por si mesmo ao longo do caminho. Essa é a materialidade desse amor que transcende o nosso entendimento. A ninguém é dado o que não semeou. Somos nós quem ditamos a velocidade do nosso progresso!


Portanto, faz-se mister a compreensão de que uma situação inexplicável e abjeta como a ocorrida no período nazista, não foi vontade de Deus! E muito menos que constava nos planejamentos reencarnatórios de cada um dos milhões que foram exterminados, que desencarnariam daquela forma horrenda. Não!


Quando se adentra aos estudos espíritas, é preciso que se tenha cuidado para não colocar todos os ensinamentos dentro de uma única cesta, transformando-os em regra absoluta! A maldade em sua pior face, a crueldade e o domínio, são escolhas humanas, ou seja, fruto de seu livre arbítrio, e cada um colherá as consequências correspondentes aos seus atos.


A Espiritualidade superior jamais permitiria que alguém reencarnasse com um destino tão cruel, mas ela sabe que o livre arbítrio é faculdade poderosa que permite o progresso e o aprendizado e, por isso, o respeita!


E diante de tudo isso, é preciso que nós, aqueles que já enxergam claramente o horror praticado por essa ideologia, nos mantenhamos alertas, pois ela não morreu nos idos anos de 1945. Ainda hoje há grupos que se denominam neonazistas, pessoas que buscam resgatar elementos do nazismo e que, inclusive, incorrem em negacionismo com relação ao Holocausto, dizendo que ele nunca existiu. São grupos violentos, que abominam as chamadas minorias e trazem à tona o pior da história.


Diante de tudo e do que ainda ocorre, um pedido de Olga Lengyel, sobrevivente e escritora do livro citado anteriormente: “As pessoas devem se unir em momentos de perigo. Colocar em risco um grupo significa colocar em risco todos nós [...] memórias não servem apenas para nos lembrarmos do que aconteceu. Elas guiam nossas ações no futuro” (LENGYEL, 2018).


Por isso, conheçamos o passado para que no futuro, não presenciemos atos inumanos ocorrendo mais uma vez!

REFERÊNCIAS

LENGYEL, Olga. Os Fornos de Hitler. Tradução de Celina Portocarrero e Thereza Christina Motta. 2ª edição. São Paulo: Planeta do Brasil. 2018.

POLITIZE. Tribunal de Nuremberg: o que foi? Disponível em: https://www.politize.com.br/tribunal-de-nuremberg/. Acesso em: 16 de julho de 2021.

WIKIPEDIA. Nazismo. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nazismo. Acesso em: 16 de julho de 2021.

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