Personalidades Espíritas: Chico Xavier
No dia 02 de abril de 1910 nascia Francisco de Paula Cândido, que mais tarde adotaria o nome de Francisco Cândido Xavier, e ficaria conhecido, ainda mais tarde, simplesmente como Chico Xavier. Filho de João Cândido Xavier e Maria João de Deus, vivia muito humildemente em uma família com oito irmãos. Ficou órfão de mãe aos cinco anos de idade, momento em que seu pai, diante das dificuldades financeiras, distribuiu seus nove filhos entre os parentes para que eles pudessem ser cuidados. Chico ficou com sua madrinha, Rita de Cássia, com quem sofreu dois anos de abusos, que iam desde ser vestido de menina, surras diárias com o pretexto de que aquele menino “tinha o diabo no corpo” (sua mediunidade se manifestou aos quatro anos de idade), açoites com vara de marmelo, lamber feridas do filho da madrinha até garfos cravados em sua barriga.
Mas ele encontrava alento debaixo de uma bananeira, conversando com sua mãe, que sempre o aconselhava a se resignar e ter paciência. E ele teve... Após esse período, seu pai casou-se novamente, e sua madrasta, Cidália Batista, exigiu que o marido reunisse novamente os nove filhos sob o mesmo teto. Chico ganhou mais seis irmãos, foi matriculado numa escola pública, e vendia os legumes da horta de sua casa para ajudar com a renda da família. Sua mãe não mais se manifestava. Frequentando a escola e a igreja, Chico via-se, constantemente, diante de problemas por conta de sua mediunidade.
Certa feita, no ano de 1922, uma redação do jovem Chico ganhou uma menção honrosa em um concurso em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Seus amigos o acusaram de plágio, o que ele viu se repetir muitas vezes em sua vida. Foi desafiado a fazer, de improviso, uma redação sobre um grão de areia, e com o auxílio de um espírito, alcançou êxito. Na igreja, foi examinado pelo padre, que concluiu que ele não deveria ser internado, dizendo que ele sofria de “fantasias de menino” e aconselhando sua família a restringir suas leituras e coloca-lo para trabalhar. Chico então se tornou operário em uma fábrica de tecidos. Em 1924 terminou o curso primário e não mais voltou a estudar. Deixou seu trabalho na fábrica e foi ser caixeiro de venda, manteve-se católico, mas não deixou de ver nem de conversar com espíritos.
Aos dezessete anos perdeu sua madrasta e teve que lidar com a insanidade de uma de suas irmãs, que descobriu estar sobre efeito de obsessão espiritual. Passou a estudar o Espiritismo e abandonou o catolicismo. No mesmo ano, em 1927, recebeu comunicação de sua mãe aconselhando-o a estudar Allan Kardec e seguir com seus deveres. No mês de junho, auxiliou na fundação do Centro Espírita Luiz Gonzaga. Em julho, recebeu orientação espiritual para iniciar seus trabalhos com a psicografia... Escreveu dezessete páginas.
Ao longo de mais quatro anos, aperfeiçoou sua capacidade, lançando Parnaso de Além-Túmulo em 1931, mas antes, em 1928 iniciou a publicação de mensagens psicografadas No Jornal, do Rio de Janeiro e no Almanaque de Notícias, em Portugal. Em 1931, um marco: conheceu seu mentor espiritual, Emmanuel, que o informou sobre sua missão de psicografar uma série com trinta livros, o que demandava dele “disciplina, disciplina e disciplina”.
Em 1932 foi publicado Parnaso de Além-Túmulo, o que gerou grande repercussão junto à imprensa e opinião pública. Sua mãe o aconselhou a não responder a nenhuma crítica. Todos os direitos autorais de suas obras iam para instituições de caridade. Na mesma época, descobriu sofrer de catarata ocular, o que o acompanhou até seu último dia. Nesse sentido, Emmanuel e Bezerra de Menezes, seus mentores, o aconselharam a tratar-se com os médicos humanos, não esperando qualquer privilégio por parte dos espíritos.
Trabalhava como escrevente-datilógrafo na Fazenda Modelo da Inspetoria Regional do Serviço de Fomento da Produção Animal em 1935, e começou a também exercer suas funções junto ao Centro Espírita Luiz Gonzaga, atendendo necessitados com receitas, conselhos e psicografando mais obras. Seu patrão, Rômulo Joviano, o deixava psicografar nos porões de sua casa, onde Chico escreveu uma de suas maiores obras: Paulo e Estevão.
Nessa época, recebia muitos presentes e distinções, o que ocorreu durante toda a sua vida. Ele doava tudo o que recebia. Era criticado, tentavam desmoraliza-lo, sofria influências de espíritos tidos como inimigos. Ainda na década de 30, psicografou Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, pelo espírito Humberto de Campos, cujo cerne tratava a história do Brasil sob a ótica espiritual e teológica. Por isso, sofreu uma ação judicial da viúva, que pleiteava os direitos autorais da obra. Sua defesa o absolveu e gerou o livro A Psicografia Perante os Tribunais, escrito pelo advogado Miguel Timponi. Mesmo assim, o nome de Humberto de Campos foi mudado para o pseudônimo Irmão X. Chico tornou-se auxiliar de serviço do Ministério da Agricultura.
No ano de 1943, surgiu Nosso Lar, o livro que seria o mais vendido e divulgado de sua vida, e que se tornou filme no ano de 2010. O espírito era André Luiz.
Já em 1944, os repórteres David Nasser e Jean Manzon escreveram uma reportagem nada amistosa sobre o médium, contando haverem usado nomes falsos e fingirem-se de estrangeiros para atestar a falsidade de Chico. Muito mais tarde, em 1980, confessaram à TV Cultura que não o engaram. Emmanuel fez uma dedicatória individual para cada um deles em um livro dado por Chico na ocasião.
Seu sobrinho, Amauri Pena, anunciou-se, em 1958, como um falso médium, e estendeu a acusação ao tio. Chico defendeu-se e o sobrinho retirou a acusação mais tarde, antes de ser internado em um sanatório.
Em 1955 conheceu Waldo Vieira, parceria que durou até 1966 e gerou 17 livros e a fundação do Centro Comunhão Espírita Cristã. Chico mudou-se para Uberaba em 1959. Em 1963, ele se aposentava por incapacidade de trabalhar por conta de seus problemas nos olhos. Em 1965, junto com Waldo, foi aos Estados Unidos divulgar a Doutrina. Estudaram inglês e lançaram o livro Ideal Espírita (The World of Spirits). No fim do mesmo ano, ambos promoveram uma distribuição natalina de alimentos para onze mil pessoas. Waldo se desligou do Espiritismo em 1966.
Pinga Fogo, o famoso programa de televisão da década de 70, contou com várias participações de Chico, que nesta época, além da catarata, tinha problemas de pulmões e angina. Em 1975, desligou-se do Centro Comunhão Espírita Cristã, fundando a Casa da Prece.
Em 1980, duas mil instituições de caridade eram mantidas ou auxiliadas por meio dos direitos autorais dos livros psicografados por Chico. Isso tudo, sem esquecer das muitas e muitas pessoas amparadas, consoladas e ajudadas por suas psicografias nos Centros onde atuou, o que culminou, mais tarde, no filme As Mães de Chico Xavier, que retratou essa realidade.
Chico, o simples Chico Xavier, faleceu em 30 de junho de 2002 e, como ele mesmo relatou a amigos, era um dia em que os brasileiros estavam muito felizes: O Brasil ganhava o hepta campeonato em Copas do Mundo!
Ao longo de sua vida, Chico Xavier recebeu título de cidadão honorário em mais de cem cidades. Foi homenageado em filmes, como Chico Xavier – O Filme, As Mães de Chico Xavier e 100 Anos com Chico Xavier. Roberto Carlos, Gilberto Gil, Fábio Júnior, Moacir Franco, Nando Cordel e Vanusa o homenagearam em canções. Foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz. O Governo de Minas criou A Comenda da Paz Chico Xavier, que é concedida a pessoas que trabalham pela paz e pelo bem estar social. Foi eleito o mineiro do século. Teve suas casas e a fazenda onde trabalhou, transformadas em museu sem fins lucrativos. Foi eleito o maior brasileiro da História pela Revista Época. Emprestou seu nome à BR 050, que faz divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Teve selo e cartão postal em homenagem ao seu centenário, bem como foi lançada Medalha Comemorativa do Centenário de Chico Xavier, pela Casa da Moeda. Seu centenário foi comemorado em sessão solene na Câmara dos Deputados. Por fim, em 2012, foi eleito o Maior Brasileiro de Todos os Tempos, transmitido pelo SBT.
Chico Xavier... simplesmente Chico Xavier. Obra robusta, mais de 450 livros psicografados, muitos títulos, homenagens e reconhecimento. Mas nada nessa grandiosidade remete a Chico. Quando se fecha os olhos e lembra-se de sua imagem, frágil e bondosa, vemos que Chico mora em tudo que nos remete à humildade, à caridade, ao amor... Chico mora em frases por ele ditas, de ensinamentos que muitos de nós ainda não somos capazes de praticar:
“Fico triste quando alguém me ofende, mas, com certeza, eu ficaria mais triste se fosse eu o ofensor. Magoar alguém é terrível”.
“Não há problema que não seja solucionado pela paciência”.
“Você nem sempre terá o que deseja, mas enquanto estiver ajudando os outros encontrará os recursos de que precisa”.
Chico mora nas histórias que deixou, nas pessoas que ajudou, nos corações que tocou, no consolo que ofertou, na vida que viveu. Chico mora em tudo que, apesar de imenso, demonstra que não é preciso de muito para se viver, mas que para isso, precisamos estar dotados de sentimentos puramente nobres, e isso é o que há de mais grandioso na vida de qualquer pessoa.
Chico mora, Chico vive, Chico ensina.
Obrigada Chico!
FONTES
https://pt.wikipedia.org/wiki/Chico_Xavier
Em busca de Chico Xavier – Claudinei Lopes.
Comments