A Adoção na Visão Espírita
Por: Rafaela Paes
Adotar é um ato de amor. Tomar para seu o cuidado do filho de outra pessoa é ato de amor, amor supremo, sentimento verdadeiro, uma verdadeira acolhida para a alma. Se partirmos do pressuposto espiritualista e cristão de que nosso pai é o Senhor Deus, e que nossos pais não SÃO, na verdade, nossos pais, mas sim ESTÃO nossos pais, concluímos que todos nós somos adotados.
Sabe-se que a formação de uma família, de um lar efetivo, é planejada desde o Mundo Espiritual e, como sabemos que em nada nessa vida moram coincidências, tantos os filhos biológicos que temos, como os que porventura adotamos, fazem parte do nosso caminho de vidas passadas, e o que hoje vivenciamos, é o resultado do que plantamos lá atrás, em tempos agora não lembrados e obscurecidos pelo abençoado véu do esquecimento.
Então, pode-se perguntar: Se tudo é previamente planejado, porque esses espíritos não reencarnam como filhos biológicos? Explica O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XIV, item 8, que: “Os laços de sangue não criam necessariamente laços entre os Espíritos. O corpo procede o corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porque o Espírito existia antes da formação do corpo; não é o pai que cria o Espírito de seu filho; nada mais faz que lhe fornecer um invólucro corporal, mas deve ajuda-lo em seu desenvolvimento intelectual e moral, para fazê-lo progredir.” (KARDEC, 2008, p. 170).
Portanto, entende-se que nem sempre, e não somente, são os laços de sangue que nos fazem família. Prossegue o Evangelho mencionando, no mesmo item, que: “Os verdadeiros laços de família não são, portanto, aqueles da consanguinidade, mas aqueles da simpatia e da comunhão de ideias que unem os Espíritos antes, durante e depois de sua encarnação.” (KARDEC, 2008, p. 170).
Sendo assim, claro torna-se, e a vida demonstra isso, que ser adotado não torna alguém menos filho. Adotar é um ato nobre! Entretanto, como em relações familiares consanguíneas, há antipatias que não passam despercebidas. Não seria diferente em casos de adoção, e por isso, muitas vezes veem-se filhos adotivos que não suportam os pais, ou pais adotantes que acabam por tratar mal seu filho adotivo.
A reencarnação, como sabido por todos, é oportunidade divina que nos é concedida para reencontramos afetos e desafetos, aprender, ensinar e reparar erros passados. Nossa meta é evoluir, e para que isso ocorra, também é sabido que o caminho não é fácil.
Estarmos diante de um desafeto, que nos impele maus sentimentos inconscientes, é dura condição necessária para nossa depuração moral. E assim também ocorre, mesmo quando “escolhemos” nosso filho. Diz-se escolhemos entre aspas, pois, conforme mencionado, nada é obra do acaso, as escolhas já foram feitas há muito tempo.
O item 9 do capítulo XIV de O Evangelho Segundo o Espiritismo explica que: “Quando o Espírito deixa a terra, leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza e vai se aperfeiçoando no espaço ou ficando estacionário, até que deseje ver a luz. Alguns partiram, portanto, levando consigo ódios violentos e desejos insaciados de vingança; mas a alguns desses, mais avançados que os outros, é permitido entrever uma parcela da verdade; reconhecem os funestos efeitos de suas paixões e é então que tomam boas resoluções; compreendem que, para chegar a Deus, há uma única senha: caridade. Ora, não há caridade sem esquecimento dos ultrajes e injúrias; não há caridade com ódio no coração e sem perdão. Então, com esforço inaudito, olham aqueles que detestaram na Terra; mas ao vê-los, sua animosidade desperta; revoltam-se com a ideia de perdoar e, mais ainda, com a de abdicar de si mesmos, com aquela especialmente de amar aqueles que destruíram talvez sua fortuna, sua honra, sua família. Entretanto, o coração desses infelizes fica abalado; eles hesitam, vacilam, agitados por esses sentimentos contrários; se a boa resolução vencer, oram a Deus, imploram os bons Espíritos para que lhes deem força no momento mais decisivo da prova.” (KARDEC, 2008, p. 171-172).
Já é de conhecimento de quem se dedica ao estudo da Doutrina Espírita, que não há atos perversos ou crimes que venham programados em nossos planos reencarnatório. Antipatias se juntam para juntas buscarem o caminho do perdão e, por isso, Deus não permitiria que vinganças fossem planejadas como uma prova ou uma expiação, assim como crimes ou maldades. Estar diante de um desafeto, seja ele biológico ou não, é uma chance valiosa de praticar o amor em sua forma mais pura. Por isso, como em todas as outras áreas das nossas vidas, há pessoas fáceis e difíceis de conviver, mas todas elas têm importantes lições a nos ensinar. Basta querermos aprender.
O livre arbítrio, inerente a todos nós enquanto seres humanos, é que nos leva a atitudes impensadas, que nos trazem dor e sofrimentos por tempos que não podemos mensurar.
O Evangelho Segundo o Espiritismo ainda nos diz que: “De todas as provas, as mais penosas são aquelas que afetam o coração; um, que suporta com coragem a miséria e as privações materiais, sucumbe ao peso das amarguras domésticas, ferido com a ingratidão dos seus. Oh! Que pungente angústia é essa! Mas o que pode, em tais circunstâncias, restabelecer a coragem moral que o conhecimento das causas do mal e a certeza de que, ocorrendo profundas dilacerações, não há desesperos eternos, pois Deus não pode querer que sua criatura sofra para sempre? O que há de mais reconfortante, de mais encorajador que essa ideia de que depende de si, de seus próprios esforços, abreviar o sofrimento, destruindo em si as caudas do mal? Mas para isso não se deve deter seu olhar na terra e só ver uma única existência; é necessário elevar-se, pairar no infinito do passado e do futuro; então a grande justiça de Deus se revela a seus olhares e vocês esperam com paciência, porque se lhes torna explicável o que na terra lhes parecem mais que arranhões. Nesse golpe de vista lançado sobre o conjunto, os laços de família que reúnem seus membros, mas os laços duradouros do Espírito que se perpetuam e se consolidam depurando-se, em vez de se romper pela reencarnação.” (KARDEC, 2008, p. 173-174).
Conclui-se, dessa maneira, que adotar é praticar o amor, e conviver com a possiblidade de se estar lidando com um desafeto, de estar sofrendo ou fazendo sofrer, é um exercício constante de amor, resignação e paciência. O amor que fez nascer a relação nessa vida deve ser trabalhado ao longo dela, não se permitindo que ele esmoreça em face das dificuldades e com o passar do tempo. “A tarefa não é tão difícil quanto possam julgar; não existe o saber do mundo; o ignorante como o sábio podem desempenhá-la e o espiritismo vem facilitá-la, dando a conhecer a causa das imperfeições do coração humano.” (KARDEC, 2008, p. 173).
Excelente crescimento a todos nós!
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Referências:
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Antônio Geraldo da Silva e Ciro Mioranza. São Paulo: Editora Escala, 2008.
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