Vícios e Paixões
Por: Rafaela Paes
Vício é uma imperfeição grave, uma disposição natural de praticar atos contrários à moral. Na medicina, vício é uma tendência habitual a algo prejudicial. Para o Espiritismo, vício é visto de forma mais abrangente, sendo tratado como resquício de experiências desagradáveis desta e/ou de outras vidas, mas não o enxerga como perpétuo, e sim como tendências ruins que podem sim ser modificadas.
De forma breve, trataremos os vícios tidos como morais, e são muitos os seus exemplos: inveja, ódio, orgulho e muitos mais. Entretanto o mais radical e prejudicial de todos é o egoísmo, já que conforme nos ensina a questão 913 de O Livro dos Espíritos, “dele deriva todo o mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos está o egoísmo. Inutilmente os combatereis e não conseguireis extirpá-lo enquanto não houverdes atacado o mal em sua raiz, não houverdes destruído a causa. Que todos os vossos esforços, portanto, tendam para esse objetivo, porque aí está a verdadeira chaga da sociedade. Todo aquele que quer se aproximar, desde esta vida, da perfeição moral. Deve extirpar de seu coração todo sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades” (KARDEC, 2009, p. 283).
Tarefa difícil! Mas, possível, já que segundo a questão 914, “à medida que os homens se esclarecem sobre as coisas espirituais, ligam menos valor às coisas materiais. Aliás, é preciso reformar as instituições humanas que o entretêm e o excitam. Isso depende da educação” (KARDEC, 2009, p. 283).
Fénelon nos traz importante contribuição na questão 917, de O Livro dos Espíritos ao nos ensinar que “De todas as imperfeições humanas, a mais difícil de desenraizar-se é o egoísmo, porque ele se prende à influência da matéria, da qual o homem, ainda muito próximo da sua origem, não pode se libertar, e essa influência, concorre para o sustentar: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material e, sobretudo, com a inteligência que o Espiritismo vos dá de vosso estado futuro real e não desnaturado pelas ficções alegóricas. O Espiritismo bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as crenças, transformará os hábitos, os usos e as relações sociais. o egoísmo se funda sobre a importância da personalidade; ora, o Espiritismo bem compreendido, eu o repito, faz ver as coisas de tão alto, que o sentimento da personalidade desaparece, de alguma forma, diante da imensidade. Destruindo essa importância, ou tudo ou pelo menos fazendo vê-la como ela é, combate necessariamente o egoísmo” (KARDEC, 2009, p. 284).
Em relação à paixão conceituada no dicionário, é uma atração viva e forte por alguém ou alguma coisa. Para o Espiritismo, de acordo com a questão 907, ainda em O Livro dos Espíritos, tem-se que, “a paixão está no excesso acrescentado à vontade, porque o princípio foi dado ao homem para o bem, e as paixões podem leva-lo a grandes coisas, sendo o abuso que delas se faz que causa o mal” (KARDEC, 2009, p. 282).
Em nota à questão 908, de O Livro dos Espíritos, Kardec nos traz que: “As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o ajudam na realização dos objetivos da Providência. Mas se, em lugar de as dirigir, o homem se deixa dirigir por elas, cai nos excessos e a própria força que, em suas mãos, poderia fazer o bem, recai sobre ele e o esmaga. Todas as paixões, portanto, não é um mal, visto que repousa sobre uma das condições providencias de nossa existência. A paixão, propriamente dita, é o exagero de uma necessidade ou de um sentimento. Ela está no excesso e não na causa, e esse excesso torna-se um mal quando tem por consequência um mal qualquer. Toda paixão que próxima o homem da natureza animal, o distancia da natureza espiritual. Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal, anuncia a predominância do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição” (KARDEC, 2009, p. 282).
Existe remédio contra vício e contra paixão. Sim!! REFORMA ÍNTIMA
E ilustrando esse remédio, encerramos este artigo com mensagem sublime de Emmanuel, no Livro Fonte Viva:
DEVAGAR, MAS SEMPRE
“Mas ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova, de dia em dia.” – Paulo. (2ª Epístola aos Coríntios, 4:16.)
Observa o espírito de sequência e gradação que prevalece nos mínimos setores da Natureza.
Nada se realiza aos saltos e, na pauta da Lei Divina, não existe privilégio em parte alguma.
Enche-se a espiga de grão em grão.
Desenvolve-se a árvore, milímetro a milímetro.
Nasce a floresta de sementes insignificantes.
Levanta-se a construção, peça por peça.
Começa o tecido nos fios.
As mais famosas páginas foram produzidas, letra a letra.
A cidade mais rica é edificada, palmo a palmo. As maiores fortunas de ouro e pedras foram extraídas do solo, fragmento a fragmento.
A estrada mais longa é pavimentada, metro a metro.
O grande rio que se despeja no mar é conjunto de filetes líquidos.
Não abandones o teu grande sonho de conhecer e fazer, nos domínios superiores da inteligência e do sentimento, mas não te esqueças do trabalho pequenino, dia a dia.
A vida é processo renovador, em toda parte, e, segundo a palavra sublime de Paulo, ainda que a carne se corrompa, a individualidade imperecível se reforma, incessantemente.
Para que não nos modifiquemos, todavia, em sentido oposto à expectativa do Alto, é indispensável saibamos perseverar com o esforço de autoaperfeiçoamento, em vigilância constante, na atividade que nos ajude e enobreça.
Se algum ideal divino te habita o espírito, não olvides o servicinho diário, para que se concretize em momento oportuno.
Há ensejo favorável à realização?
Age com regularidade, de alma voltada para a meta.
Há percalços e lutas, espinhos e pedrouços na senda?
Prossegue mesmo assim.
O tempo, implacável dominador de civilizações e homens, marcha apenas com sessenta minutos por hora, mas nunca se detém.
Guardemos a lição e caminhemos para diante, com a melhoria de nós mesmos.
Devagar, mas sempre (XAVIER, 1952, p. 73).
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Referências:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 182ª edição, 2009.
XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 1952. Disponível em: http://bvespirita.com/Fonte%20Viva%20(psicografia%20Chico%20Xavier%20-%20espirito%20Emmanuel).pdf. Acesso em: 24 de abril de 2019.
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