Autismo: Uma Perspectiva Espiritual

Lívia Couto
A família é o primeiro e mais importante agente de educação e intervenção para uma criança com autismo. Seus cuidados e amor são fundamentais para promover o desenvolvimento e a inclusão (Chico Xavier).
O autismo, ou TEA (Transtorno do Espectro Autista) é um distúrbio neurológico que afeta a comunicação e o comportamento, sendo caracterizado por padrões de comportamento repetitivos e dificuldades na interação social. Também é comum ouvirmos o termo “espectro autista”, pois esta condição pode se manifestar de diversas maneiras. Cada indivíduo dentro do espectro autista é único, embora compartilhem o mesmo diagnóstico.
Logo, se trata de um transtorno complexo que tem intrigado cientistas e profissionais da saúde há décadas. As investigações científicas sobre o autismo têm avançado consideravelmente, fornecendo perspectivas importantes sobre sua etiologia, características clínicas e intervenções terapêuticas. Ele é geralmente considerado um transtorno do desenvolvimento neurológico e é classificado como tal nos manuais diagnósticos, como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10 e CID-11). Apesar de ser comum o uso do termo “transtorno” ao invés de “doença” para descrever o autismo, isso não significa que o autismo não tenha um impacto significativo na vida daqueles que o têm.
Embora não seja uma doença no sentido tradicional, como uma doença infecciosa, a título de exemplo, ele pode ser associado a várias comorbidades médicas e psiquiátricas, como epilepsia, transtornos de ansiedade e depressão. Além disso, muitas pessoas com autismo podem enfrentar desafios significativos em áreas como educação, emprego e vida independente, o que pode impactar sua qualidade de vida e bem-estar geral. Portanto, embora o autismo não seja considerado uma doença no sentido tradicional, é reconhecido como um transtorno complexo que pode exigir suporte e intervenção ao longo da vida para ajudar as pessoas a alcançarem seu pleno potencial e melhorar sua qualidade de vida.
Embora a compreensão científica do autismo tenha evoluído significativamente ao longo dos anos, diversas perspectivas espirituais também têm sido exploradas para entender a natureza e os desafios associados a essa condição. Entre essas perspectivas, as considerações espíritas combinam elementos científicos e espirituais para compreender não apenas os aspectos físicos, mas também os aspectos espirituais e emocionais do autismo.
É importante lembrar, que no contexto espírita, as doenças no geral, são muitas vezes vistas como uma oportunidade de aprendizado e crescimento espiritual. Através do enfrentamento dos desafios impostos por elas, o indivíduo pode desenvolver virtudes como a paciência, a resignação e a aceitação, além de promover a reflexão sobre seus hábitos de vida e atitudes mentais. Desta forma, o autoconhecimento e a reforma íntima são aspectos fundamentais no processo de cura e evolução espiritual.
No Espiritismo, a visão das doenças que afligem o corpo humano está integrada em uma perspectiva mais ampla que considera não apenas os aspectos físicos, mas também os aspectos espirituais e psicológicos da saúde e da doença. Assim, as doenças podem ter várias origens, incluindo fatores físicos, como predisposições genéticas, condições ambientais e hábitos de vida inadequados, bem como fatores espirituais e emocionais, como influências espirituais negativas, traumas emocionais e desequilíbrios espirituais. Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, discute essas questões em suas obras, como O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns.
No entendimento espírita, algumas doenças podem ter origens espirituais, resultantes de experiências passadas, compromissos cármicos ou influências espirituais perturbadoras. Desta forma, problemas de saúde podem refletir desequilíbrios espirituais que necessitam de tratamento não apenas físico, mas também espiritual e moral. Autores Espíritas como Divaldo Franco e Joanna de Ângelis abordam estas questões em suas obras, destacando a importância da reforma íntima e da busca pela harmonia espiritual como parte do processo de cura.
No Espiritismo, o tratamento das doenças é visto como uma abordagem integrativa que combina cuidados médicos convencionais com recursos terapêuticos espirituais, como a prece, a passes magnéticos e a terapia de desobsessão. Estas práticas visam não apenas aliviar os sintomas físicos, mas também promover o equilíbrio espiritual e emocional do indivíduo. Alguns autores têm oferecido percepções valiosas sobre a natureza e os propósitos por trás dessa condição. Dentre eles, destacam-se obras de autores como Divaldo Franco e Chico Xavier, que abordam o autismo sob diferentes perspectivas.
Divaldo Franco (2018), em suas palestras e obras, sugere que o autismo pode ser resultado de experiências anteriores do Espírito, influenciando o desenvolvimento e as características do novo corpo físico. Ele enfatiza a importância da compaixão e do amor no tratamento das pessoas com autismo, reconhecendo nelas a presença de Seres Espirituais em processo de evolução. Através da psicografia de Divaldo Franco, Joanna de Ângelis traz ensinamentos sobre a importância da família e da sociedade no apoio às pessoas com autismo. Em suas obras, ela destaca a necessidade de compreensão, paciência e estímulo ao desenvolvimento das potencialidades individuais, reconhecendo cada ser humano como um Espírito em evolução.
Já Chico Xavier (2023), embora não tenha abordado diretamente o autismo em suas obras, suas mensagens sobre amor, tolerância e compreensão são aplicáveis a todas as situações, incluindo o convívio com pessoas com autismo. Sua mensagem de amor incondicional e aceitação ressoa profundamente na comunidade espírita.
As considerações espíritas sobre o autismo oferecem uma abordagem compassiva para compreender e lidar com esta condição. Ao reconhecer a natureza espiritual do ser humano e sua jornada de evolução, o Espiritismo nos convida a praticar o amor, a compreensão e a solidariedade, fundamentais no apoio às pessoas com autismo e suas famílias. Mais do que uma condição a ser compreendida cientificamente, o autismo é uma oportunidade para exercitar a empatia e o crescimento espiritual, promovendo um mundo mais inclusivo e amoroso para todos os seres.
Por isso, a importância da família nesse processo é amplamente reconhecida tanto na comunidade científica quanto na esfera espiritual. A família desempenha um papel crucial no apoio emocional, na busca por recursos e na promoção do bem-estar físico e psicológico dos indivíduos afetados. A família desempenha um papel essencial na promoção do desenvolvimento e na inclusão social de indivíduos com autismo. Ao fornecer estímulos adequados e oportunidades de aprendizado, os membros da família podem ajudar a maximizar o potencial de seus entes queridos com autismo.
Como nos aponta Vanessa Rosa (2023), é preciso ressaltar que não é essencial buscar a causa específica pela qual um Espírito reencarnou com autismo, pois isso não tem relevância prática. O que importa é que os pais e/ou responsáveis por esse indivíduo encarem seu filho(a) como um Ser Espiritual em processo de evolução, necessitando de apoio, amor, compreensão e aceitação por parte da família, que foi escolhida para compartilhar essa jornada.
Os pais e cuidadores de pessoas no espectro autista desempenham uma missão de grande importância. É fundamental compreender que, segundo os princípios da reencarnação, eles podem ter desempenhado um papel no círculo de relações daquele que agora enfrenta desafios. Talvez, em vidas passadas, tenham contribuído para o desequilíbrio daquele que atualmente necessita de apoio, e agora, amorosamente, estão unidos pela lei para auxiliar no reparo.
Conforme expressou Chico Xavier (2023), somos todos ligados pela Lei do Amor, uma força que vai além das limitações do tempo e do espaço, unindo nossos corações em um propósito de apoio mútuo e crescimento espiritual. Que os pais e/ou responsáveis possam encontrar confiança e segurança no entendimento de que não estão sozinhos nessa jornada. Nosso Pai Celestial, cheio de amor e compaixão, nunca nos abandona. Encorajamos que sigam adiante com firmeza e esperança, pois a Luz Divina os envolve continuamente. Nos momentos de desânimo, saibam que podem buscar força e coragem no Criador, em Jesus, nos Espíritos Benfeitores e no Anjo Guardião, para perseverar e seguir em frente.
Referências:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf. Acesso em 14 de abril de 2024.
FRANCO, Divaldo. Momentos de Saúde e Consciência. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 3º ed. Salvador: LEAL, 2018.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita, 2022.
KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. 38ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1997.
ROSA, Vanessa. Autismo na Visão Espírita. Portal Arcos: Minas Gerais. Disponível em: https://www.portalarcos.com.br/noticia/33584/autismo-na-visao-espirita. Acesso em 02 abr 2024.
XAVIER, Francisco C; WALDO, Vieira. Leis de Amor. Pelo Espírito Emmanuel. 29º ed. São Paulo: Edições FEESP, 2023.
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