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O Espiritismo e a Transexualidade



“A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade, em alguns círculos de ciência, definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas, mas é perfeitamente compreensível, à luz da reencarnação.” A oração anterior encontra-se disponível no livro “Vida e Sexo”, capítulo 21, do autor espiritual Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, publicado em 1ª edição no ano de 1970. O texto traz logo na primeira linha um equívoco amplamente disseminado na sociedade. Talvez por falta de conhecimento do movimento espírita da época, mas de forma alguma questionando a posição excelsa do autor ou do médium, julgamos necessário esclarecer os conceitos de homossexualidade e transexualidade, como visto, muitas vezes confundido, porque o texto vem sido replicado sem qualquer esclarecimento com relação aos termos até hoje.

Os conceitos que tratam da sexualidade humana vêm, desde sua criação, no início do século XX[1], sofrendo alterações conforme se avançam os estudos sobre o tema. Hoje, os termos heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade saíram do catálogo de doenças psicológicas e são entendidos simplesmente como a atração afetivo-sexual que um ser sente por outro, orientação sexual. Já os termos cisgênero (identificação do sexo psíquico com o sexo biológico), transgênero ou travesti (não-identificação do sexo psíquico com o sexo biológico) e não-binário ou gênero fluido (identificação alternada com o sexo biológico) dizem respeito à identidade de gênero, ou seja, ao sexo psíquico do ser. Nas pesquisas que fizemos, não encontramos referência, entretanto, ao entendimento da ciência algum dia que a homossexualidade e a transexualidade tenham sido consideradas a mesma coisa. Entendemos, porém, a falta de compreensão da sociedade geral da diferenciação entre os termos. Tendo a clareza do que cada termo significa, vamos identificar que nem todo ser homossexual é transgênero e nem todo transgênero é homossexual. Porque um diz respeito à atração afetivo-sexual e outro à identificação psicológica ou não com o sexo biológico. Assim, um ser transexual pode ser hétero, homo ou bissexual, assim como um cisgênero, ou não-binário podem expressar sua orientação sexual de forma diversa.

Todos estes termos, no entanto, visam o entendimento e a busca do conhecimento do que é essa pluralidade e diversidade das expressões da sexualidade e do psiquismo humano. Ou seja, busca-se compreender a essência da alma humana e como ela se expressa no mundo. Para o Espiritismo, somos todos criados simples e ignorantes e destinados à perfeição[2] e que pouco importa se um espírito encarna como homem ou mulher, o que define a escolha de uma ou outra polaridade existente neste planeta é o tipo de provas pelas quais o espírito tem de passar, porque em cada cultura e sociedade, homens e mulheres possuem papéis sociais convencionados distintos[3]. Desta forma, o entendimento espírita com relação à transexualidade é, nada mais nada menos, de que ela é mais uma expressão natural da experiência humana enquanto espírito encarnado.

No livro “Sexo e Destino”[4], de André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, a personagem Félix diz à André que “no mundo porvindouro os irmãos reencarnados, tanto em condições normais quanto em condições julgadas anormais, serão tratados em pé de igualdade, no mesmo nível de dignidade humana, reparando-se as injustiças achacadas, há séculos, contra aqueles que renascem sofrendo particularidades anômalas, porquanto a perseguição e a crueldade com que são batidos pela sociedade humana lhes impedem ou dificultam a execução dos encargos que trazem à existência física, quando não fazem deles criaturas hipócritas, com necessidade de mentir incessantemente para viver, sob o sol que a Bondade Divina acendeu em benefício de todos”. Este trecho deixa claro que as convenções de normalidade adotadas pelas sociedades humanas, muitas vezes, geram sofrimentos desnecessários aos que não se enquadram nos padrões impostos. Fica a reflexão: quantos sofrimentos temos gerado em outrem por falta de conhecimento, ou ainda, por falta de tolerância? É preciso mais Evangelho em nossas ações.

Por ser assunto pouco discutido nos centros espíritas, por existirem pouca literatura espírita sobre o tema, as razões pelas quais um ser nasce na condição de transexual ainda é inexata ou pouco clara. Contudo, a influência de uma mesma polaridade vivida em diversas encarnações pode ter relação com a não-identificação do ser naquela encarnação em que se encontra numa polaridade inversa, conforme já apresentamos no artigo “Religiosidade independe de sexualidade”[5], talvez de forma mais intensa. O que importa entendermos, entretanto, é que a transexualidade também faz parte da natureza e que não há diferença alguma de um ser transexual e um ser cisgênero. Todos estamos em processo evolutivo, no caminho de volta à casa da Fonte Criadora de todos os seres e todas as coisas. Todos estamos encarnados a fim de “resgatarmos o passado, aprendermos no presente e construirmos o futuro”, é o que deixa claro o médico e espírita Andrei Moreira no seminário[6] realizado na Casa Espírita Eurípedes Barsanulfo em Curitiba-PR. Portanto, as razões pelas quais um reencarnante se apresenta como transexual só diz respeito à sua individualidade e a Deus, lembrando que não há erro, jamais, nas obras da Criação.

Neste mesmo seminário, Andrei questiona: “quantos transexuais vocês conhecem na casa espírita?”, são raros irmãos e irmãs transexuais que estão presentes nos centros espíritas, porque, muitas vezes, o que encontram é mais preconceito. Felizmente, a casa espírita que frequento abraça quem quer que chegue à sua porta e contamos com uma mulher trans na equipe de trabalhadores. Este o dever do Espiritismo e, portanto, dos espíritas: viver o Evangelho. Há espaço para todos aqueles que desejam transformar-se moralmente e trabalhar na Seara do Cristo com amor. Façamos, então, o caminho contrário ao que se tem percorrido hoje. Apresentemos a Doutrina Espírita a quem quer que queira ouvir sobre ela, não importa quem seja, porque estamos todos no mesmo processo de reparação, aprendizado e construção. A forma como cada um de nós alcançará a grandeza de amar e servir só importa a nós mesmos, individualidades. Vivamos o Espiritismo amando e servindo, encorajando outros a amarem e servirem também. Sejamos todos tarefeiros do Cristo seja qual for o sexo biológico, sexo psíquico ou orientação sexual que trazemos como experiência reencarnatória, trabalhando com Ele, para Ele e por Ele na disseminação do Bem Maior na Terra.

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Referências:

[1] Artigo da BBC, “Como foi criada a heterossexualidade com ao conhecemos hoje”, de Brandon Ambrosini, disponível em <http://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-40093671>, acessado em 01/05/2018 às 13h46min.

[2] Vide “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, questões 114 a 127, do item “Progressão dos Espíritos”.

[3] Vide “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, questões 200 a 202, do item “Sexo nos Espíritos”.

[4] XAVIER, Francisco Cândido/André Luiz. Sexo e Destino. 11ª edição, FEB: 1985.

[5] Artigo “Religiosidade independe de sexualidade”, de Jean Paul, disponível em <https://www.letraespirita.blog.br/single-post/religiosidadeesexualidade> acessado em 01/05/2018 às 14h49min.

[6] Seminário “Transexualidades sob a ótica do espírito imortal”, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=lrZmGZaDmLo>, acessado em 01/05/2018 às 10h05min.

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