A crença na reencarnação além do Espiritismo
- rafaela662
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Alan Lira
O entendimento acerca da reencarnação aponta bem antes da concepção da Codificação Espírita, por Allan Kardec, a partir de 1857, remontando desde a Antiguidade Oriental, sendo abordada de acordo com as limitações, culturas e entendimentos dos povos que já associavam as suas vidas atuais com existências anteriores.
No Egito Antigo, sacerdotes difundiam a ideia de metempsicose, em que seria possível os Espíritos reencarnarem em animais. Nessa linha de pensamento, acredita-se que:
Esse regresso da alma humana em um corpo de espécie inferior, serviria como uma punição do indivíduo, devido à sua má conduta na sociedade. Nessa linha de raciocínio, a alma humana poderia reencarnar como um lobo, caso tivesse sido um indivíduo de índole feroz, um asno, se utilizou a sua inteligência para o mal, ou uma serpente, se esteve envolvido em intrigas maldosas etc.” (VARGAS, 2025, on-line).
Em O Livro dos Espíritos, é possível localizar um extrato acerca da metempsicose, explicando que não é possível um Espírito que já animara um corpo humano reencarnar como um animal pois “isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda” (KARDEC, 2022, p. 236). Nem também podemos afirmar que tal pessoa seria a reencarnação de algum animal, visto que de animal conservamos apenas o corpo, as paixões e os instintos.
Na Índia e no Nepal, o hinduísmo é a religião majoritária, a qual estima-se que 900 milhões de pessoas sejam adeptas. Considerado como um modo de vida por alguns filósofos, o hinduísmo considera o carma como uma lei própria do mundo material, decorrente do ideal de causa e efeito.
No livro Ação e Reação, a compreensão de causa e efeito é tida como “toda ação ou movimento [que] deriva de causa ou impulsos anteriores. Para nós expressará a conta de cada um, englobando os créditos e os débitos que, em particular, nos digam respeito” (XAVIER, 2013, p. 91). Portanto é simples compreender que as boas ações gerarão bons frutos, e as más ações trarão resultados negativos em nossa existência.
Rodriguez (2022, on-line), resumidamente, ao tratar sobre a relação do hinduísmo com o carma, a Lei de Causa e Efeito e a ideia de reencarnação, nos explica que o ser humano é formado por um corpo material, que todos nós vemos, e também pelo que seria a alma, o corpo sutil, que é formado pelos sentidos da percepção, capacidades de ação, ares vitais, a mente e o intelecto, e que é apenas parte desse corpo sutil que reencarna, onde ficam gravadas as nossas ações realizadas durante a vida, e que vai animar outro corpo, podendo ocorrer em um ciclo infinito.
Semelhante conceito temos no que concerne o perispírito, o qual: retém todos os estados de consciência, de sensibilidade e de vontade; guarda todos os conhecimentos adquiridos pelo ser. É ele a sede da memória. É ele que armazena, registra e conserva todas as percepções, todas as volições e ideias da alma. Todo o nosso passado fica nele armazenado. As várias etapas do nosso desenvolvimento estão aí registradas (BERNARDES, 2009, on-line).
Os gregos antigos acreditavam na transmigração da alma; Orfeu, Pitágoras, Píndaro e Platão produziram pensamentos acerca dessa transmigração da alma. Baseada nas crenças e práticas dos ensinamentos atribuídos ao poeta e músico Orfeu, surgiram os órficos, seguidores do orfismo. Os órficos desdenhavam o materialismo, atribuindo valor à parte espiritual, ou seja, a alma, a qual estava em uma espécie de prisão, que seria o nosso corpo físico.
No Espiritismo somos esclarecidos pelos Espíritos na questão 156 que “durante a vida, o Espírito se acha preso ao corpo pelo seu envoltório semimaterial ou perispírito” (KARDEC, 2022, p. 98), entretanto sem necessariamente ser encarada essa prisão como algo negativo, mas necessária para o avanço, adiantamento e evolução do próprio Espírito.
Platão, por sua vez, ao fim do livro A República, relata a possibilidade de a alma voltar ao mundo dos vivos, podendo escolher a sua nova vivência, porém com a necessidade de saber fazer sua escolha ao atravessarem o rio do esquecimento: se bebem em grande volume acabam esquecendo toda a verdade que contemplaram, e aos que bebem menos, acabam por escolher a sabedoria. No Espiritismo, o planejamento reencarnatório dos Espíritos se aproxima desse mito, pois os “ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre-arbítrio” (KARDEC, 2022, p. 139).
Essa aproximação da Filosofia Espírita com demais correntes filosóficas não é uma associação que surgiu à esmo. Apresenta-se em O Evangelho Segundo o Espiritismo que:
As grandes ideias jamais irrompem de súbito. As que assentam sobre a verdade sempre têm precursores que lhes preparam parcialmente os caminhos. Depois, chegando o tempo, envia Deus um homem com a missão de resumir, coordenar e completar os elementos esparsos, de reuni-los em corpo de doutrina (KARDEC, 2023, p. 26).
Percebe-se que ao longo dos séculos fomos sendo preparados gradativamente para a concepção dos ideais espíritas, e que, mesmo aparentando ideais pagãos, a proximidade com a filosofia de Cristo rompe quaisquer preconceitos e nos aproxima da proposta da reencarnação: aproximarmo-nos da perfeição de Deus.
=========== Referências
1 – BERNARDES, Thiago. O papel do perispírito na economia da vida humana. O Consolador. São Paulo, 25 de janeiro de 2009. Disponível em <https://www.oconsolador.com.br/ano2/91/esde.html>. Acessado em 09 de dezembro de 2025.
2 – KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora Letra Espírita, 2023.
3 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Gillon Ribeiro. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Letra Espírita, 2022.
4 – RODRIGUES, Margarita. O que dizem budismo e hinduísmo sobre carma e reencarnação. BBC News Brasil. São Paulo, 05 de janeiro de 2022. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/geral-59863483>. Acessado em 09 de dezembro de 2025.
5 – TRANSIÇÕES sobre pós morte. Helenos. São Paulo, 02 de maio de 2020. Disponível em <https://www.helenos.com.br/transicoes>. Acessado em 09 de dezembro de 2025.
6 – VARGAS, Álvaro Augusto. Como surgiu o dogma da reencarnação dos Espíritos em animais inferiores? União das sociedades Espíritas do Estado de São Paulo. São Paulo, 19 de junho de 2025. Disponível em <https://www.usepiracicaba.com.br/use-na-midia/a-tribuna/como-surgiu-o-dogma-da-reencarnacao-dos-espiritos-em-animais-inferiores>. Acessado em 09 de dezembro de 2025.
7 – XAVIER, Francisco Cândido. Ação e reação. Pelo Espírito André Luiz. Coleção A vida no mundo espiritual. FEB: Brasília, 2013.
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