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A Decisão de Não Ter Filhos: Um Ponto de Vista Espiritual


Geane O. Lanes


Ao alcançarem determinada idade, muitas pessoas passam a ser cobradas sobre quando se estabilizarão afetivamente e, principalmente, sobre quando terão filhos. Essa cobrança reflete uma ideia pré-estabelecida de que todos devemos seguir um mesmo padrão de comportamento, o qual determina como natural e inevitável o ato de nos casarmos e procriarmos. Contudo, é cada vez mais comum vermos pessoas contrariando os padrões estabelecidos por nossa sociedade e muitas pessoas optando por não ter filhos.


De acordo com a Doutrina Espírita, a reprodução é uma lei natural (lei divina ou moral) e, dessa forma, as ações humanas que têm por finalidade ou por efeito criar obstáculos à procriação seriam contrárias à lei geral (P. 693: KARDEC, 2013). Ademais, ainda segundo a Doutrina, o uso de métodos contraceptivos apenas como forma de possibilitar a satisfação da sensualidade é uma prova de que o nosso corpo predomina sobre a nossa alma e que, portanto, ainda somos materiais (P. 694: KARDEC, 2013).


A compreensão de que a lei natural é a lei de Deus e que o homem só é infeliz quando dela se afasta (P. 614: KARDEC, 2013), poderia levar algumas pessoas a concluir que a Doutrina Espírita condena a decisão de não ter filhos. Contudo, seguindo os preceitos de nosso Mestre Jesus, a Doutrina Espírita não julga ou condena ninguém, pois compreende e respeita as limitações da humanidade. Como explicado pela Espiritualidade (P. 693a: KARDEC, 2013), aos humanos foi dado o poder de regular a sua reprodução e a reprodução de outros seres, desde que isso seja feito apenas por necessidade e não por um simples capricho. Ademais, apesar de não sermos dotados de uma liberdade absoluta (P. 825-829: KARDEC, 2013), a Lei da liberdade nos proporciona o livre-arbítrio de escolhermos quais caminhos trilharemos em nossa jornada de vida. Porém, à medida que nos esclarecemos moralmente e, desse modo, temos a capacidade de compreender a plausibilidade daquilo que nos motiva, somos mais responsáveis por nossas escolhas e por suas consequências (P. 849: Kardec, 2013).




Ao trazer uma nova vida ao plano material, o indivíduo não apenas permite que um irmão experiencie uma nova oportunidade de crescimento moral, mas, sobretudo, abre-se para a possibilidade de, enquanto pai ou mãe, colocar em prática tudo o que tem aprendido em sua jornada evolutiva. É preciso lembrar, no entanto, que cada um de nós tem uma longa jornada de vida e o que sentimos e pensamos é resultado de todas as experiências que vivenciamos nesta e em reencarnações pretéritas. Assim, muitas pessoas abdicam da maternidade e da paternidade não apenas por quererem se abster de responsabilidades, mas por questões íntimas e pessoais, como o receio inconsciente de reencontrarem desafetos do passado ou de não serem capazes de suprir todas as necessidades materiais e emocionais de seus futuros filhos.


Nesse contexto, mesmo compreendendo que o homem não deve deixar que os seus medos e dúvidas os impeçam de caminhar e de crescer, a Doutrina Espírita nos ensina que o respeito é um dos principais pilares de nossa evolução moral e, por isso, devemos respeitar a decisão de nossos irmãos, compreendendo que todas as escolhas trazem consequências, as quais não se caracterizam como punições, e sim como oportunidade de aprendizado. Além disso, caso realmente necessitemos reatar laços ou aprender algo com alguém específico, mesmo que decidamos não o receber como filho, por bondade e justiça divina, a Espiritualidade proporcionará meios para que tal interação ocorra, seja em uma relação de tio e sobrinho, padrinho e afilhado, ou outro tipo de relacionamento.


O mais importante é que compreendamos a importância de refletirmos sobre quais são as nossas reais necessidades e o que nos impulsiona ao desejarmos ter ou não ter filhos, entendendo que, como leis divinas e, portanto, perfeitas, as leis da reprodução e da liberdade não são contraditórias ou antagônicas. Logo, independentemente se optamos ou não por assumir a posição de mãe e pai, todos temos e teremos oportunidades de criarmos e reatarmos laços de amor com o próximo e, por conseguinte, elevarmo-nos enquanto Espíritos e irmãos.


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Referências:

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. Ed. 93: Editora FEB. 2013.



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