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A “Melhora da Morte”


Rafaela Paes de Campos


A iminência do fim da existência terrestre é algo que sempre nos assusta. O fato de sermos Espíritas não atenua tal sentimento, eis que se habitamos este planeta ainda nos encontramos em estágio evolutivo apegado ao que é material. O corpo físico é matéria, e ver-se diante de uma possível separação daqueles que nos são caros, traz dor, ansiedade e muito sofrimento.


Perder um ente querido nunca será fácil. Quando entre nós há um enfermo num leito de hospital lutando por sua vida, memórias perpassam nossas mentes a fim de reviver bons momentos vividos. Amar alguém é sentimento poderoso, força da natureza, laços fortes de um passado incontável e, por isso, a compreensão de que a vida não acaba com a morte não possui o condão de amenizar a sensação de perda e impotência.


Quando alguém adoece e permanece em hospitais sendo tratado e amparado pela Medicina terrena, a família e os amigos permanecem em um constante estado de vigília. Os pensamentos estão sempre ligados ao doente e as orações se tornam fervorosas pedindo a cura e a oportunidade de seguir na vida lado a lado. Este é o pedido principal!


A mais conhecida das orações, e mais entoada por nós em momentos de desespero e desamparo, é o Pai Nosso, onde se diz “seja feita a Vossa vontade”. Na realidade, é algo que dizemos automaticamente, porque em momentos de crise como a doença do corpo físico, queremos que a NOSSA vontade seja feita. Pode soar rude, mas é uma realidade.


A finitude da vida é algo que nos acompanha desde o primeiro minuto de vida. Se pensarmos que carregamos uma bagagem invisível nas costas assim que adentramos a materialidade, o primeiro item que ela guarda é de que um dia morreremos. Vivemos dia após dia, confiantes de que o nosso dia e o dia dos que amamos está bem distante. Apesar de fazer parte inexorável de quem somos, a morte é sempre vista com medo.


Entretanto, os desígnios de Deus são maiores do que a nossa compreensão e apenas Ele sabe o que é melhor e necessário a cada um de nós. Quando a doença atinge o corpo físico e a esperança é de que a vida reine suprema sobre a malvada morte, família e amigos iniciam uma corrente de fé e oração para a recuperação do doente.


Sabemos que a oração tem uma força poderosíssima e tem o poder de arrombar as portas dos céus. Diante do dito perigo, “suportamos impacientemente as tribulações da vida; elas nos parecem tão intoleráveis que não compreendemos como podemos enfrenta-la” (KARDEC, 2018, p. 301).


A realidade é que estamos, com a força de um amor gigante, prendendo um Espírito que talvez se encontre no momento de sua partida. Ah, não devo orar então? Claro que deve, sempre! Entretanto, há que se orar aceitando que seja feita a VOSSA vontade! Por quê?


O processo de separação da alma e do corpo não é abrupto, não ocorre instantaneamente no instante em que se decreta a hora do óbito. É um processo gradual, um desatar, não romper. A alma ali encarnada, e em vias de partir, é amparada por uma Espiritualidade amiga que auxilia nesse momento.

Encarnar e desencarnar, os dois atos naturais da vida, são momentos de perturbação para o Espírito, eis que um guarda o medo da falha e o outro, o medo do desconhecido diante do véu do esquecimento. Assim sendo, em ambas as situações não estamos desamparados.


A oração é válida e necessária para auxiliar no momento da doença. Entretanto, a oração repleta de lamentos, sofrimento e desespero perturba o Espírito que luta para manter-se à matéria mesmo quando essa já não demonstre condições orgânicas para continuar. Precisamos ter em mente que o mesmo amor que sentimos é sentido por aquele a quem direcionamos nossos pensamentos, e ele sofre em nos ver sofrer.


Quando a partida é certa, então a Espiritualidade que assiste aquele Espírito permite uma melhora. Isso causa um grande alívio à família e amigos, sentimento que afrouxa, então, o desespero e dor, transformando orações em agradecimento pela situação. É aí que, “inexplicavelmente”, pouco tempo depois, este ente parte da vida terrena.


É a chamada melhora da morte. Nós já estamos familiarizados com ela, nós sabemos que ela existe, mas falar dela ou trazer ela à tona, é visto com maus olhos, como se estivéssemos desejando a morte de alguém.


Não, meus irmãos, não estamos desejando que ninguém morra. Mas a morte é parte da vida. Viver é morrer todos os dias. Sabemos da intervenção da Espiritualidade, e sabemos que ela possui os seus mecanismos para fazer com que o que precisa acontecer, aconteça.


Esse é um dos mecanismos dos quais ela dispõe. É chegada a hora da partida para a verdadeira vida. A família e amigos não querem perder a pessoa, mas ao Alto cabem todos os entendimentos que nós não possuímos.


A matéria é uma prisão para o Espírito, e retornar à Pátria Mãe, é uma libertação.

Sentir é inevitável, sofrer faz parte do processo. O luto é um caminho bastante individual, mas precisamos ter a consciência de aceitar a VOSSA vontade!


Ame, viva, demonstre seu amor, acarinhe. Viva plenamente cada momento com aqueles que ama. A vida irá se findar em algum momento, e que nesse instante, vivamos os nossos sentimentos mas busquemos o equilíbrio que auxiliar nosso ente e que nos ajuda a serenar diante da dor.


A melhora da morte é real para que, momentaneamente, afrouxemos nossas dores e, assim, a vida complete seu ciclo. Ter fé é indispensável, amar é mais ainda, orar é mais do que necessário, mas que respiremos fundo e falemos de coração “seja feita a Vossa vontade”.

ELES VIVEM!

REFERÊNCIA


KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Tradução de Matheus Rodrigues de Camargo – 23ª reimp. nov. 2018, Capivari/SP: Editora EME.

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