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Ciúme: A Paixão Que Adoeceu


Rafaela Paes

Ciúme é posse! Muito longe do incondicionalismo pregado pelos exemplos de Jesus, amar e ter ciúme é atrelar o amor à posse, atrelar o amor ao outro ser fazer aquilo que achamos que ele deve fazer, atrelar o amor ao isolamento do outro, que deve estar somente comigo.


A questão 933 de O Livro dos Espíritos pergunta: “Assim como, quase sempre, é o homem o causador de seus sofrimentos materiais, também o será de seus sofrimentos morais?”. Ao que se responde: “Mais ainda, porque os sofrimentos materiais algumas vezes independem da vontade; mas, o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões numa palavra, são torturas da alma” (KARDEC, 2009, p. 291).


Que grande verdade! O ciúme é mesmo uma grande tortura, tanto para quem sente quanto para a vítima do sentimento. Um vive enclausurado em uma grade, fechado, enquanto ao outro incumbe o papel autoimposto de vigiá-la.


Continua a resposta da questão acima mencionada: “A inveja e o ciúme! Felizes os que desconhecem estes dois vermes roedores! Para aquele que a inveja e o ciúme atacam, não há calma, nem repouso possíveis. À sua frente, como fantasmas que lhe não dão tréguas e o perseguem até durante o sono, se levantando os objetos de sua cobiça, do seu ódio, do seu despeito. O invejoso e o ciumento vivem ardendo em contínua febre. Será essa uma situação desejável e não compreendeis que, com as suas paixões, o homem cria para si mesmo suplícios voluntários, tornando-se-lhe a Terra verdadeiro inferno?” (KARDEC, 2009, p. 291).


Muito bem explicado pela Espiritualidade, haja vista que quem sente o ciúme sabe bem que não há momentos de relaxamento. Uma ligação não atendida, uma mensagem não respondida, uma atitude diferente do que comumente se faz, já são motivos para verdadeiros turbilhões de sentimentos e pensamentos que podem causar, inclusive e não raras vezes, sintomas físicos. E se os motivos não acontecem, a pessoa os inventa! Sim, é um verdadeiro inferno na Terra, como menciona a Espiritualidade no trecho acima mencionado.


As paixões que aqui vivemos enquanto encarnados, não são ruins em sua ideia original. Esclarece-nos, nesse sentido, a questão 907 de O Livro dos Espíritos, onde pergunta-se: “Será substancialmente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na natureza?”. Ao que a Espiritualidade ensina: “Não, a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem leva-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal” (KARDEC, 2009, p. 282).


Por isso, entendemos ser o ciúme um excesso. Não um excesso de amor, mas sim, um excesso de vaidade, de orgulho, de egoísmo, pois o amor não carrega consigo nenhum sentimento ou atitude que leva às más paixões.


Portanto, para que o ciúme seja vencido, nos deixa uma importante lição a questão 908 de O Livro dos Espíritos ao questionar: “Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más”? E a resposta brilhantemente ensina: “As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado e que se torna perigoso desde que passe a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem.” (KARDEC, 2009, p. 282).


Além disso, complementa Kardec em nota aduzindo: “As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência. Mas, se, em vez de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas mãos, poderia produzir o bem, contra ele se volta e o esmaga. Todas as paixões têm seu princípio num sentimento, ou numa necessidade natural. O princípio das paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um sentimento. Está no excesso e não na causa e este excesso se torna um mal, quando tem como consequência um mal qualquer. Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza espiritual. Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal denota predominância do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição” (KARDEC, 2009, p. 282).


Portanto, domemos as nossas paixões, sejamos nós os guias prioritários de que tudo aquilo que nos movimenta nesta vida. Esta é a vontade de Deus, e não a de que nos deixemos cegar e guiar por paixões desenfreadas que prejudicam aos outros e a nós mesmos.


REFERÊNCIAS:


KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 182ª edição, 2009.


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