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Carnaval, Festas, Bares e Boates: É Seguro Frequentar?


Rafaela Paes de Campos


A vida contemporânea é permeada por grandes obrigações diárias, seja no trabalho, estudo ou em nossa vida pessoal. Num mundo que notoriamente é habitado pela geração da intelectualidade, cria-se nos ambientes nos quais nos inserimos uma aura de competitividade que nos leva à premente necessidade de estarmos sempre um passo à frente do outro, pois qualquer modificação não prevista, nos deixa para trás nas competições por emprego, estudo e sociabilidade. Por estes motivos, estamos sempre enterrados numa pilha de coisas a fazer e, consequentemente, estressados e cansados.

 

Se nada disso bastasse, recebemos diariamente uma enxurrada de informações que acentuam a sensação de cansaço e até a nossa percepção do tempo. Não vemos o tempo passar, quando nos damos conta, mais uma semana se foi, outro mês, chega um novo ano!

 

Malgrado todo o exposto, via de regra, acordamos na segunda-feira sonhando com a sexta-feira! Queremos que o tempo passe, pois sabemos bem o que nos encontrará ao longo da semana e na realização de nossas tarefas. Pressentimos o cansaço e ansiamos pelo fim de semana em que, pretensamente, iremos enfim descansar.

 

Finalmente chega a sexta, o sábado, o domingo ou aquele esperado feriado, como o que estamos vivendo neste momento, o Carnaval. Então, combinamos com os amigos aquela ida a um barzinho, àquela festa já programada, ao bloquinho de Carnaval ou à boate badalada do momento. Problema? Com o lugar propriamente dito, não! Um ambiente, por si só, não será o vilão de nosso contexto.

 

Entretanto, não podemos olvidar que todo ambiente é composto por pessoas, e pessoas são compostas por energias, pensamentos, sentimentos e, ao redor destas pessoas, há Espíritos que se aproximam por conta dos mesmos fatores: afinidade energética, de pensamento e de sentimentos. É aí que reside o problema!

 

O principal ponto a ser levantado neste contexto diz respeito ao consumo de álcool, atitude comum nestes ambientes e parte do tal descanso que tanto esperamos no fim de semana.

 

Reportagem do jornal Folha e São Paulo datada de 29 de agosto de 2023 informa que no Brasil, a taxa de abuso de álcool entre adultos atingiu a marca de 4%, o que corresponde a 6 milhões de pessoas. Globalmente, 40% da população mundial acima dos 15 anos é consumidora de álcool e isso significa estarmos falando de 2 bilhões de pessoas. Nesse diapasão, o álcool é responsável por 3,3 milhões de mortes anuais (BOTTALLO, 2023, on-line).

 

Problema é da pessoa que bebe, certo? Não!



O álcool atinge diretamente o nosso sistema nervoso, fazendo com que os nossos freios inibitórios sejam atenuados. Rimos mais, tornamo-nos mais ousados, queremos mais e mais bebida. Trata-se de um contexto explosivo que pode vir a causar graves problemas não só à pessoa em si.

 

Basta ligar a televisão ou acompanhar as notícias diárias em sites. Brigas, agressões e até homicídios, não raras vezes trazem o álcool como pano de fundo.

 

Dirigir embriagado já tirou a vida de incontáveis pessoas, tanto as que estavam no volante quanto as que infelizmente cruzaram o caminho da máquina desgovernada.

 

Famílias são destruídas por conta do vício no álcool, uma doença grave e que gera consequências a todos que rodeiam o alcoólico.

 

Sexo desregrado, despretensioso e sem compromisso, às vezes até com desconhecidos, é o meio de propagação de doenças seríssimas, meio de nascimento de inúmeras crianças tidas como indesejadas e até abandonadas por seus pais, sem falar no crescente número de agressões infantis.

 

Espíritos nos rodeiam e exercem a sua influência, de acordo com as suas inclinações, sintonizando-se com quem é capaz de suprir as necessidades que eles julgam ter. Daí os tristes casos de vampirismo e obsessão espiritual que comumente encontramos na literatura espírita.

 

Tudo isso é culpa da festa, do barzinho, do Carnaval ou das boates? Não! O ambiente destes lugares é moldado por nós e pelas nossas intenções. Este é ponto, as emanações dos presentes, o abuso, o desequilíbrio. Mormente no Carnaval, tais energias se acentuam, como numa espécie de transe coletivo em que "tudo é permitido". Bem sabemos que não é assim, na realidade. Tudo posso, mas nem tudo me convém!

 

265. Havendo Espíritos que, por provação, escolhem o contato do vício, outros não haverá que o busquem por simpatia e pelo desejo de viverem num meio conforme os seus gostos, ou para poderem entregar-se materialmente a seus pendores materiais?

“Há, sem dúvida, mas tão somente entre aqueles cujo senso moral ainda está pouco desenvolvido. A prova vem por si mesma e eles a sofrem mais demoradamente. Cedo ou tarde, compreendem que a satisfação de suas paixões brutais lhes acarretou deploráveis consequências, que eles sofrerão durante um tempo que lhes parecerá eterno. E Deus os deixará nessa persuasão, até que se tornem conscientes da falta em que incorreram e peçam, por impulso próprio, lhes seja concedido resgatá-la, mediante úteis provações” (KARDEC, 2022, p. 141).

 

Somos Espíritos e temos uma imensa bagagem invisível que carregamos desde a nossa criação. Possivelmente já capazes de uma reencarnação semivoluntária, compreendemos as nossas necessidades no Plano Espiritual e traçamos o caminho ideal para que nos livremos dos erros e débitos adquiridos ao longo das brumas do tempo. Entretanto, a matéria nos engole, porque ela nos seduz. Os prazeres proporcionados pela existência na carne são inúmeros e nós cedemos a eles, na ilusão de que eles nos trazem a felicidade que desejamos e julgamos merecer. As provas, muitas delas, foram escolhidas ainda na Pátria-Mãe, mas há muitas pelas quais optamos já mergulhados em nova experiência.

 

267. Pode o Espírito proceder à escolha de suas provas, enquanto encarnado?

“O desejo que então alimenta pode influir na escolha que venha a fazer, dependendo isso da intenção que o anime” [...] (KARDEC, 2022, p. 143).

 

Como bem sabemos, o Espiritismo não traz em seu bojo quaisquer proibições, mas nos deixa claras as consequências oriundas de nossos atos. Por meio da Doutrina, conhecemos a Lei de Causa e Efeito, esta que está plenamente ativa no contexto ao qual nos dedicamos a estudar e refletir neste momento. A briga, a agressão, o impulso homicida, a direção perigosa, o sexo irresponsável, não estão em nosso planejamento reencarnatório. A inclinação à tais paixões humanas podem até estar, sim, previstos, mas ceder a elas é uma escolha. Se há algo que podemos dizer que jamais nos abandona ao longo de nossa imortalidade, é o livre-arbítrio.

 

As paixões humanas também não são o vilão aqui procurado. Elas são, inclusive, capazes de nos levar a grandes e importantes feitos! Mas, o abuso delas nos leva a atitudes inconsequentes que gerarão efeitos mais adiante, mais cedo ou mais tarde.

 

[...] a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem leva-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal” (KARDEC, 2022, questão 907, p. 324).

 

Repito, o Espiritismo não traz proibições. Muito menos eu, que escrevo este artigo que agora você está lendo e que sou igualmente imperfeita. Entretanto, faz-se mister que nós façamos uma autocrítica mais que necessária e, a partir dela, enxergaremos o quanto nossas vidas não são saudáveis.

 

Num mundo de estresse e correria, na era da perfeição criada por aplicativos de edição e inteligência artificial, esta última ainda em pleno desenvolvimento, a verdade é que nós acordamos e dormimos insatisfeitos. Há um vazio e uma sensação de não pertencimento que nos faz buscar a atenuação destas sensações. Ilusão, mas é o que fazemos. E como fazemos? Bebendo, fazendo sexo desregrado, cometendo excessos, mergulhados na ideia de que isto nos faz, por alguns momentos, livres e desprovidos das preocupações do dia a dia. Há muitas exceções dentre nós, e claro, aqui estamos generalizando o tema.

 

Devemos nos recordar que “uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem” (KARDEC, 2022, questão 908, p. 324).

 

Você pode ir a quaisquer destes lugares que intitulam este artigo. Vá! Você tem direito de ir, o que você, eu, todos nós, precisamos refletir, é o que nos impulsiona. O que buscamos? O que vamos fazer? Nos faz mesmo bem estarmos nestes lugares? Lembremo-nos que há intenções, pensamentos e atitudes de outras pessoas ali presentes.

 

Enquanto nós não compreendermos e internalizarmos que somos energia e que tudo ao nosso redor também é, nos somaremos a egrégoras perigosas, destrutivas, que nos levam a arrependimentos atrozes. E observemos: se o que nos acompanha são os maus pensamentos, as más atitudes, o combustível dos prazeres transitórios, podemos estar dentro de casa, no Centro Espírita, na Igreja... estaremos fazendo as mesmas escolhas e atraindo para nós o efeito de nossos atos, bem como, companhias espirituais que se coadunem com a nossa frequência energética.

 

Como nos ensina brilhantemente O Evangelho Segundo o Espiritismo, “vive o homem incessantemente em busca da felicidade, que também incessantemente lhe foge, porque felicidade sem mescla não se encontra na Terra. Entretanto, malgrado as vicissitudes que foram o cortejo inevitável da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é, nos gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar dos gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo que o agitará e turbará, e, coisa singular! O homem, como que de intento, cria para si tormentos que está nas suas mãos evitar” (KARDEC, 2023, item 23, p. 85).

 

Fica a lição, a reflexão e o desejo de que todos tenhamos forças para realizar as mudanças necessárias para uma vida mais plena, mais saudável e que tenha realmente o condão de nos elevar espiritualmente, o objetivo intrínseco a todo Espírito encarnado.

 

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Referências:

 

1- BOTTALLO, Ana. Cresce a população que abusa de álcool no país. 2023. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2023/08/o-aumento-do-consumo-excessivo-de-a. Acesso em: 07/02/2024.

2- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita. 2022.

3- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita. 2023.

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