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Lições de uma Sessão Mediúnica

Atualizado: 16 de out.

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Alan Lira


Entre os anos de 1858 e 1869, Allan Kardec publicou sob sua direção, periodicamente, a Revista Espírita: Jornal de estudos psicológicos, a qual continha:

 

O relato das manifestações materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições, evocações, etc., bem como todas as notícias relativas ao Espiritismo. – O ensino dos Espíritos sobre as coisas do mundo visível e do invisível; sobre as ciências, a moral, a imortalidade da alma, a natureza do homem e o seu futuro. – A história do Espiritismo na Antiguidade; suas relações com o magnetismo e com o sonambulismo; a explicação das lendas e das crenças populares, da mitologia de todos os povos, etc (KARDEC, 2005, p. 03).

 

É possível encontrarmos as referidas publicações traduzidas para o português por Evandro Noleto Bezerra, em doze volumes, totalizando quatro mil, quinhentas e sessenta e oito páginas, um acervo inestimável que colabora com o estudo e o entendimento da Filosofia Espírita.

 

Neste trabalho, buscamos localizar as dissertações espíritas manifestadas por meio das comunicações com os Espíritos desencarnados em sessões mediúnicas e subsidiar os textos com os elementos que definem a Doutrina Espírita em sua filosofia e estudo. Para isso selecionamos a comunicação “Mãe, estou aqui!”, na sessão “Evocações Particulares”, em que uma senhora perdera sua filha de quatorze anos que sucumbira de uma longa e dolorosa doença, o que deixara a mulher inconsolável, fazendo-a procurar uma amiga conhecida que era médium e o próprio editor da Revista Espírita.

 

Naquele momento, a evocação ao Espírito desencarnado se dá por parte da mãe que clama pela filha, de nome Júlia, que se comunica por meio da médium presente com o uso da psicofonia, momento que “o médium recebe a comunicação do Espírito por meio da fala, atuando esse sobre o aparelho fonador daquele” (CARVALHO, 2021, p. 184). Ao atender o chamado da mãe sofredora, que chega a questionar se realmente o Espírito presente é a da sua filha, a jovem desencarnada fala seu pequeno apelido familiar, Lili.

 

Uma forma que os Espíritos comprovam sua identidade é fornecendo informações que validem seu reconhecimento entre os que recebem a comunicação. Em o Livro dos Médiuns, explica-se que:

 

[...] os Espíritos dão espontaneamente provas irrecusáveis de sua identidade, por seus caracteres, que se revelam na linguagem de que usam, pelo emprego das palavras que lhes eram familiares, pela citação de certos fatos, de particularidades de suas vidas, às vezes desconhecidas dos assistentes e cuja exatidão se pode verificar (KARDEC, 2023, p. 227).

 

O diálogo continua entre a jovem desencarnada e a então emocionada mãe aflita que não vê a saudosa Júlia que, postando as mãos sobre a médium, desencadeia o processo de psicografia, ou seja, a escrita dos Espíritos pela mão de um médium, apresentando mais uma evidência da veracidade da comunicação: a semelhança da sua letra, pois “igualmente se pode incluir entre as provas de identidade a semelhança da caligrafia e da assinatura” (KARDEC, 2023, p. 228).

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Impressionada com os detalhes dos relatos da filha desencarnada, a curiosidade da genitora agora recai ao fato da filha impor as mãos sobre a cabeça da médium. “Tens, então, um corpo?” Questiona a mulher. Certamente a desencarnada não possui mais um corpo físico, entretanto lhe guarda a aparência graças às propriedades do perispírito, corpo fluído nos Espíritos desencarnados, consistindo em seu invólucro semimaterial, sendo, inclusive perceptível, visto que esse invólucro pode ter, de acordo com a vontade do Espírito, a forma que ele quiser. É assim que este vos aparece algumas vezes, quer em sonho, quer no estado de vigília, e que pode tomar forma visível, mesmo palpável” (KARDEC, 2022, p. 76).

 

Eis que, no relato em questão, os sonhos são uma forma que o Espírito Júlia encontrou para poder se comunicar com a mãe, consolando-a e inspirando-a, mesmo que tenha parecido ser lembrança ou fruto da imaginação da encarnada. A Doutrina Espírita consegue nos explicar a relação da libertação da alma com o envoltório corpóreo, causando-lhe uma emancipação parcial, a qual os laços da alma com o corpo afrouxam-se, permitindo-nos ter uma relação mais direta com outros Espíritos, onde podemos viajar, conversar e nos instruir, permitindo uma espécie de clarividência (KARDEC, 2022, p. 176-178).

 

Adiante, o Espírito da filhinha desencarnada profere conselhos cautelares à sua mãe acerca de um senhor conhecido dela, entretanto sem poder revelar-lhe o futuro, visto que “o futuro lhe é oculto, e só em casos excepcionais permite Deus que seja revelado” (KARDEC, 2022, p. 309), e ainda explica estar distante das condições angelicais perfeitas, cabendo-lhe adquirir as qualidades que lhe faltam em existências futuras em nosso planeta de provas e expiações.

 

Percebemos nesse apanhado de informações o quanto a Doutrina Espírita se mostra reveladora e consoladora visto que:

 

A possibilidade de nos pormos em comunicação com os Espíritos é uma dulcíssima consolação, pois que nos proporciona meio de conversarmos com os nossos parentes e amigos, que deixaram antes de nós a Terra. Pela evocação, aproximamo-los de nós, eles vêm colocar-se ao nosso lado, nos ouvem e respondem. Cessa assim, por bem dizer, toda separação entre eles e nós. Auxiliam-nos com seus conselhos, testemunham-nos o afeto que nos guardam e a alegria que experimentam por nos lembrarmos deles. Para nós, grande satisfação é sabê-los ditosos, informar-nos, por seu intermédio, dos pormenores da nova existência a que passaram e adquirir a certeza de que um dia nós iremos a eles juntar (KARDEC, 2022, p. 338).

 

A possibilidade de uma comunicação mediúnica nos revela importantes diretrizes da Filosofia Espírita. Pudemos, neste estudo de caso, ser contemplados com a qualidade da evocação do Espírito desencarnado, os recursos da psicofonia e psicografia utilizados nesse processo, bem como o desdobramento da mãe que percebera a filha materializada pelo perispírito em sonho, além, claro, da influência que a Espiritualidade causa em nossos atos, mais do que imaginamos, nos distanciando da percepção do vazio do túmulo, sendo palpável a vida futura que se nos reserva.

 

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Referências

1 – CARVALHO, Evelyn Freire de. O que é a Casa Espírita. Série Conhecendo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora Letra Espírita, 2021.

2 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Letra Espírita, 2022.

3 – KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 1ª Ed. Campo dos Goytacazes: Editora Letra Espírita, 2023.

4 – KARDEC, Allan (org). Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Brasília, vol.1, p.3, abril de 2005.

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