O Livro dos Espíritos e a compreensão das Leis Morais
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Gepherson Espínola
As Leis Morais são compreendidas como aquelas que agrupam princípios, normas e/ou regras atinentes à conduta do ser, considerando que este é um Espírito encarnado em processo evolutivo que lida, a todo tempo, com a dualidade existente na Terra (bem e mal) e as suas inclinações íntimas. O estabelecimento, portanto, de um arcabouço de orientações morais para o bem viver e conviver, preconizado por Espíritos Missionários, a serviço da Luz Maior, remontam o tempo. As suas formas de entendimento e aplicação, no entanto, guardam fidelidade com o contexto cultural, consciencial e societal em que se propagaram, ilustrando que o amparo e a Direção Divina sempre se fizeram, fazem e farão presentes, a despeito da forma como a Humanidade recebe, lida e pratica essas orientações, no exercício soberano dos livres-arbítrios.
As Leis Morais são também Leis Naturais, uma vez que procedem do Divino e têm como características a eternidade, a imutabilidade ao longo do tempo e das circunstâncias e a imparcialidade. Há uma universalidade intrínseca que as regulam e as tornam perfeitas, embora elas também tragam em si os germes do progresso. É pertinente lembrar que todas as criaturas carregam as noções do certo e do errado (Leis Morais) no âmago do ser, nas suas consciências, ilustrando a perfectibilidade das Leis, a sabedoria e a igualdade de princípios que o Divino oportuniza, respeitando a diversidade das individualidades e dando à todas as criaturas exatamente as mesmas balizas de conduta.
As Leis que regem o mundo moral são essencialmente lastreadas nos ensinamentos do Mestre Jesus, que em vivência e em docência delas, corporificado no orbe terreno, instruiu a Humanidade e se converteu em modelo e guia, como responderam à Kardec os Espíritos Lumiares que sustentaram e organizaram a Codificação da Doutrina Espírita, quando questionados sobre o tipo mais perfeito que Deus ofereceu às criaturas (O Livro dos Espíritos, questão 625). Jesus, enquanto Espírito Crístico destinado a conduzir a Humanidade terrena, foi quem apresentou de maneira mais completa e profícua as Leis Morais que regem o Universo. Com uma metodologia própria, exaltou a moral interior e refutou as práticas exteriores como meio de melhoria das criaturas.
A Doutrina Espírita, repetindo e dilatando os ensinamentos do Cristo Jesus, já no seu primeiro livro – O Livro dos Espíritos, parte terceira – se dedica a apresentar, aprofundar e esmiuçar todas as Leis Morais. Considera, pois, que o respeito, a conduta e a vivência, amparadas nessas Leis, se convertem em caminhos preciosos e fundamentais para a harmonização das criaturas, a integração coletiva e a satisfação íntima. Regem, as Leis Morais, o progresso espiritual e o estabelecimento de boas relações entre as criaturas. Aplicáveis em todas as circunstâncias e sem sofrerem com a mutabilidade do tempo, elas se diferenciam das leis humanas que são passageiras e sublinhadas por momentos históricos. Convertem-se, dessa forma, em bases seguras para o crescimento e desenvolvimento integral do ser, em direção à Luz Maior.
O Benfeitor Espiritual Áureo informa que “A ordem é a base em que se assenta a grande harmonia do Universo. Em todos os círculos da vida predomina a disciplina da Lei” (Sant’anna, 1993, p. 15). Na mesma cadência de ideias a Benfeitora Espiritual Joanna de Ângelis afirma que as Leis Morais são atemporais acrescentando que “Invioláveis, constituem o roteiro de felicidade pelo rumo evolutivo, impondo-se, paulatinamente, à inteligência humana achando-se estabelecidas nas bases da harmonia perfeita em que se equilibra a Criação” (Franco, 2019, p. 04). Derivam-se desses raciocínios que as Leis Morais são melhores assimiladas e exercitadas, à medida que se dilatam as consciências, à proporção em que o ser se desloca para uma compreensão mais ampla da realidade se despojando de automatismos, cultivando o esforço e a vontade e mantendo ideais superiores, como ensina o Benfeitor Espiritual André Luiz (Xavier, 2005).
As Leis Morais, conforme o Espiritismo, facultam a aquisição, a potencialização e o desenvolvimento das virtudes, não se circunscrevendo a um conjunto enrijecido de regras de conduta, mas sim em um portfólio de aconselhamentos lógicos, sublimes e amorosos de direcionamento das vidas. Figuram-se como possibilidades de exercitar e descobrir sentidos mais amplos para a vida, tornando-a mais leve e bonita, numa acepção filosófica, ética e espiritual. Com a Doutrina Espírita as Leis Morais são apresentadas e divididas em dez partes, assim como foram dez os mandamentos recebidos por Moisés, e em cada uma dessas Leis há orientações para a conduta, para o equilíbrio espiritual, para a integração coletiva e para o bem-estar individual.
A Lei de Adoração não à toa é apresentada primeiro. Através dela é estimulada a conexão com o Divino e o culto sincero da prece. Há também advertências quanto à inutilidade da vida contemplativa, da realização de sacrifícios e das práticas exteriores para a adoração. Ensinam os Benfeitores Espirituais que a relação das criaturas com o Criador pode ser simples, íntima, direta e não burocrática, bastando que o coração se eleve com sinceridade e verdade.
A Lei do Trabalho é apresentada como uma necessidade para o Espírito que precisa de ações, práticas e movimentos para crescer. É uma Lei da Natureza que faculta o desenvolvimento da inteligência e a aquisição de habilidades. Não se circunscreve apenas à aquisição dos meios necessários para a manutenção da vida na Terra, mas também se afigura como meio fundamental para o progresso moral e espiritual. Assinalam os Benfeitores para a necessidade do descanso e do respeito aos limites do trabalho. Derivam-se daí aconselhamentos sobre a não exploração alheia e uma cultura de cooperação e solidariedade laboral.
A Lei de Reprodução é lastreada pela necessidade da reencarnação enquanto mecanismo amoroso e generoso de recomeço e evolução espiritual. Endossam os Benfeitores sobre as responsabilidades afetivas, a importância da família e os cuidados nos relacionamentos amorosos. Há um relevo ético-moral que precisa ser transportado, inclusive, quando se analisam cristãmente, na contemporaneidade, outras formas legítimas e possíveis de relações afetivossexuais, como as que marcam as sexualidades ditas dissidentes. A criatura, independente da orientação sexual, é sempre convidada a crescer e amar, a ser fecunda espiritualmente.
A Lei de Conservação fala sobre o instinto e a necessidade da preservação e manutenção da vida, da saúde e do bem-estar. Pode ser melhor entendida quando se dilatam as concepções e se consideram as criaturas como biopsicossocioespirituais e multideterminadas. Adicionalmente, é preciso também observar que a Terra é um ser vivo que reclama cuidados cotidianamente e que não pode ser vilipendiada por interesses materiais ou escusos, sem que a vida das criaturas que estão na crosta também não seja afetada. Falam os Benfeitores a respeito do supérfluo e do necessário, sobre o gozo dos bens terrenos e os meios de conservação.
A Lei de Destruição instrui sobre a necessidade dos aprimoramentos e das renovações, por isso velhas estruturas, formas e paradigmas, ao longo dos tempos, são substituídos e/ou superados. Os Benfeitores distinguem sobre as destruições necessárias ao progresso e renovação de toda a forma de vida na Terra, daquelas ocasionadas pelo abuso e mau uso do livre-arbítrio. Apresentam, ainda, os flagelos destruidores como mecanismos de aceleração do progresso (dores-lições) e as guerras, os assassínios, as crueldades, os duelos e as penas de morte como características da baixa evolução da Humanidade que, por vezes, é ensandecida pelos instintos.
A Lei de Sociedade indica a necessidade da comunhão, das relações, das trocas, da interdependência e das famílias para a realização da vida. Segundo os Benfeitores, o isolamento e o silêncio são atitudes que criam obstáculos para o crescimento e o aprendizado. A tarefa é evoluir convivendo e esta evolução só se dará em termos coletivos quando as decisões, as escolhas e as atitudes das criaturas e agrupamentos forem lastreadas no interesse e bem-estar coletivo, nas malhas da fraternidade, justiça, amor e caridade, como bem assinalados pelo Mestre Jesus. As minorias precisam ser acolhidas, as iniquidades desnaturalizadas, as desigualdades superadas, caso se deseje instituir uma Nova Era, sob a luz do Cristo.
A Lei do Progresso fala sobre a impermanência e sobre o aprimoramento de tudo. Absolutamente tudo, na matéria e no Espírito, está assinalado para progredir, melhorar. Conforme os Benfeitores, a marcha do progresso não pode ser interrompida, ainda que a Humanidade, no usufruto do seu livre-arbítrio possa criar embaraços. Em meio a turbulentas e complexas situações que assinalam as sociedades na atualidade, gestando questionamentos e despetalando algumas esperanças, seguem todas as escolhas das coletividades encarnadas passíveis de fornecerem aprendizados e de promoverem a melhoria e o progresso individual e coletivo, quando da busca de superações e soluções para aquilo que se converte enquanto danoso e malsão. O desafio perpassa por entender e conceber o progresso em termos materiais e espirituais como uma Lei e um direito para todas as criaturas.
A Lei da Igualdade afasta a ideia de privilégios porque evidencia que todas as criaturas estão submetidas às mesmas Leis e possuem espiritualmente as mesmas condições de ascender e melhorar (igualdade natural). Desenvolve-se a ideia do aprimoramento das aptidões e da manutenção destas pelo trabalho, vontade e esforço. Os Benfeitores nesta parte também respondem sobre as desigualdades sociais, as atribuindo ao egoísmo e ao orgulho. Ponderam sobre a desigualdade das riquezas, sobre as provas da miséria e da riqueza, sobre a igualdade entre os direitos das mulheres e dos homens e, também, sobre a igualdade após o túmulo. Meditando nessa Lei é possível fazer ilações sobre a necessidade de equidade e inclusão frente às diferentes condições de vida e as barreiras erguidas pelos marcadores sociais de gênero, classe, origem, raça, orientação social, entre outros, que aumentam distanciamentos, dificuldades e sofrimentos.
A Lei de Liberdade versa sobre as responsabilidades e a inviolabilidade do livre-arbítrio. Os Benfeitores destacam a liberdade natural, a de pensar e a da consciência. Concebem a privação da liberdade (escravidão) como uma violação da Lei da Natureza, desconstroem a ideia de fatalidade, ponderam a respeito do conhecimento do futuro e, em síntese, dizem que quanto maior for o alinhamento da criatura às Leis Divinas, maior o gozo e o usufruto da sua liberdade.
A Lei de Justiça, Amor e Caridade se assenta na imprescindibilidade da convivência sadia, amorosa, empática, justa, fraterna e indulgente. Esta Lei congrega e sintetiza todas as Leis anteriores. O seu respeito possibilita a superação e a cura de hostilidades, preconceitos e malquerenças que dificultam o livre e leve fluir da vida. A sua vivência suaviza e pavimenta os caminhos para a construção do Reino dos Céus no imo do ser que escoa para a melhoria da vida coletiva. Esta lei aquilata o desenvolvimento moral e espiritual da criatura e através dela se concebem, então, os aprimoramentos precisos, justos, amorosos e caridosos para o exercício cristão da vida na Terra.
Todas as Leis Morais trazidas pelos Lumiares da Espiritualidade, através de O Livro dos Espíritos, possibilitam reflexões, educam o ser para posturas mais respeitosas, fraternas e amorosas, ajudando na melhoria individual e coletiva, auxiliando também no progresso da Humanidade. Desdobram-se essas lições nos capítulos constantes em O Evangelho Segundo o Espiritismo que se pautam nos ensinamentos morais, enquanto direcionamentos universais e essenciais para a vivência íntima das lições do Cristo. Vale a leitura, a meditação e a vivência de todas essas lições morais, como pródromos da evolução.
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Referências:
FRANCO, Divaldo. As Leis Morais da vida. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 16ª ed. Salvador: LEAL, 2019.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª ed. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita, 2023.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita, 2022.
SANT’ANNA, Hernani. Amar e Servir. Por Espíritos Diversos. 1ª ed. Brasília: FEB, 1993.
XAVIER, Francisco Cândido. No Mundo Maior. Pelo Espírito André Luiz. 28ª ed. Brasília: FEB, 1981.
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