O Sermão do Monte e a Doutrina Espírita: Comparações e Conexões

Janaína Magalhães
As bem-aventuranças narradas por Jesus são mensagens de consolo e fé aos que sofrem na Terra. A expressão bem-aventurado significa muito feliz e, no contexto em que Jesus disse, remete à Vida Espiritual e não material. Ou seja, a felicidade não é deste mundo, como Ele mesmo disse.
Nas bem-aventuranças “o Mestre descreve os passos que todo homem precisa seguir para alcançar o Reino de Deus e que somente ocorre quando aceitamos e praticamos as Suas Leis”. (CARVALHO, 2024, p.67)
“Cada bem-aventurança apresenta duas partes. Na primeira, traz uma condição, o passo inicial a ser dado, que pode ser uma atitude, uma escolha ou mesmo uma realidade a ser assumida. Na segunda, apresenta um resultado, a consequência para quem cumpre a orientação dada”. (CARVALHO, 2024, p.68)
Evangelho de Mateus 5:3 Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Por pobres de espírito podemos entender os que são simples de coração e humildes em sua essência. “A humildade representa um ato de submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta contra Ele” (KARDEC, 2023, p. 100). Daí a importância de agirmos com amor e sem prepotência que leva ao orgulho. Que possamos olhar para o outro como um igual, que tem suas limitações e defeitos como nós mesmos e que por isso precisamos ter compaixão para com essas imperfeições como gostaríamos que também fizessem os outros conosco.
Evangelho de Mateus 5:4 Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.
Aqui devemos entender o significado dos que choram e de como cada um se comporta diante das dores pelas quais todos passam. Existe o bem e o mal sofrer, ou seja, aqueles que sofrem com resignação e entendimento diante dos Desígnios Divinos e aqueles que são revoltados e se vitimizam diante do sofrimento.
“Felizes os que choram são somente os que veem nas lágrimas oportunidades de redenção e de resgate de seus erros. Seu choro é sinônimo de catarse e não de desespero. Lutam e usam a inteligência com sabedoria para vencerem as dificuldades, pois reconhecem que Deus é justo e, portanto, justo é seu sofrimento”. (CARVALHO, 2024, p.78)
Conforme o Espiritismo preconiza, as dores são resgates por meio de provas ou expiações necessárias ao reajuste do Espírito e quanto mais ele se resigna e se mostra submisso e obediente à vontade do Pai, mais rapidamente ele evolui e passa a outro nível evolutivo.
Evangelho de Mateus 5:5 Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.
“Nessa bem-aventurança, Jesus exalta a mansidão, a delicadeza, a mansuetude, a afabilidade e a paciência. São comportamentos ainda bem distantes do homem terreno, envolto, constantemente, na violência que decorre do seu próprio orgulho e do seu próprio egoísmo”. (CARVALHO, 2024, p.80)
Jesus foi exemplo de mansuetude do início ao fim de sua passagem pela Terra. Mesmo perseguido, traído, abandonado pelos próprios seguidores, martirizado, Ele nunca se exaltou ou usou da violência para com ninguém, o que demonstra sua superioridade moral e a importância de seguirmos Seu exemplo para conseguirmos evoluir e herdarmos a Terra.
“Herdar a Terra tem relação direta com a evolução do planeta para um mundo mais feliz. Quando o orbe deixar de ser um mundo de provas e expiações, tornando-se um mundo regenerado, os Espíritos que aqui viverão serão os que apresentarem grau evolutivo condizente com a nova condição do globo”. (CARVALHO, 2024, p.82)
Evangelho de Mateus 5:6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.
“Para melhor entendermos a bem-aventurança faz-se necessário lembrarmos as condições que viviam os hebreus à época de Jesus, que vinham de vários períodos de escravização pelo Egito, pelos Caldeus, liderados pelos Persas, pelos macedônios e, por fim, pelos romanos”. (CARVALHO, 2024, p.83)
Esse povo oprimido esperava ansiosamente a vinda do Messias que os libertaria da escravidão. Atualmente, os que têm fome e sede de justiça, são os que sofrem de alguma injustiça aos olhos dos homens pois que não existe injustiça no que se refere às Leis Divinas. São os que estão sendo submetidos à Lei de Causa e Efeito, pois que erraram no passado e voltam para colher os frutos amargos das sementes de dor que plantaram. Entendendo a reencarnação percebemos como faz sentido até o que é considerado como injustiça aos olhos do incrédulo. Nada é por acaso, tudo tem uma razão de ser e a fartura (abundância) se dará quando com misericórdia agimos perante o nosso irmão ainda faltoso.
Evangelho de Mateus 5:7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.
“Segundo o dicionário a palavra misericórdia significa sentimento de pesar e de caridade diante da infelicidade do outro. É ter piedade e compaixão pelo próximo, diante da miséria material ou espiritual”. (CARVALHO, 2024, p.87)
Diante dessa bem-aventurança, Jesus nos remete à caridade e sua importância para uma vida pautada no bem-estar de todos e na igualdade social. O que semeamos, colhemos. O Espiritismo nos traz a máxima: “Fora da caridade, não há salvação”, devendo entender aqui a caridade como um ato de misericórdia para com o próximo, mesmo não seja tão próximo, ou aquele a quem chamamos inimigo. Quando entendemos que todos sofrem à sua maneira e que cada um está passando o seu cadinho de provação, experimentamos um olhar mais misericordioso com relação às faltas alheias e assim também o outro para conosco.
Evangelho de Mateus 5:8 Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.
Kardec ensina que “a pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Tornar-se puro e sem maldade é ser capaz de perceber, de sentir e de agir no bem, penetrando a grandeza dos propósitos do Criador”. (KARDEC, 2023, p.110).
Esse é o destino de todos nós. À medida que avançamos na escala evolutiva, vamos nos aperfeiçoando intelectual e moralmente e nos tornando cada vez mais puros de coração. Daí que, quando alcançamos a chancela de Espíritos Puros não necessitaremos mais reencarnar obrigatoriamente e assim nos veremos mais próximos de Deus, “em comunhão com Ele”.
Evangelho de Mateus 5:9 Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.
“Pacífico é a pessoa amiga da paz. O pacificador, além de amigo da paz, é aquele que busca e trabalha pela paz, em atitude ativa”. (CARVALHO, 2024, p.93)
Não adianta apenas sermos passivos para sermos pacíficos. Devemos também agir para que a paz se instale não somente em nosso reduto doméstico, mas em todo o mundo. É importante que saibamos deixar nosso egoísmo e egocentrismo de lado e comecemos a olhar para o outro de maneira mais humana e consciente buscando o bem-estar coletivo. Aproveitemos as oportunidades, mínimas que sejam, para podermos ajudar nosso irmão, seja com uma palavra, um sorriso, ou mesmo com o auxílio material tão escasso para muitos.
“Somos pacificadores em várias ocasiões: quando estamos pregando e exemplificando o evangelho; quando ensinamos as verdades de Deus, nosso Pai de amor; quando oramos pelos que ainda não acreditam em Jesus; quando não revidamos uma agressão nas redes sociais; quando não rotulamos ninguém; ou, ainda, quando perdoamos nossos irmãos”. (CARVALHO, 2024, p.95)
Evangelho de Mateus 5:10 Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
“Quem vive e busca a Justiça de Deus, pautada na vivência do amor, da humildade e da caridade, nem sempre receberá a compreensão do mundo, pois este ainda vive obscurecido pela inferioridade moral. (CARVALHO, 2024, p.96-97)
Assim como nos exemplificou Jesus, o discípulo fiel mantém-se firme e insiste na exemplificação do Evangelho, ainda que sob o peso de sacrifícios e incompreensões. Essa é uma bem-aventurança de testemunho.
Diante das perseguições, raramente conseguimos nos manter firmes em nosso propósito de seguir o exemplo do Mestre. Muitas vezes, fraquejamos, por medo, inseguranças, orgulho diante das injúrias e calúnias que por vezes sofremos na estrada da vida. Querer agradar a todos é um erro imenso, pois nem Jesus o conseguiu. Em nossa mania de perfeccionismo nos posicionamos como vítimas e nos deixamos esmorecer diante das ofensas e incompreensões vindas do outro. Daí a necessidade de continuarmos firmes, mesmo com todas as tribulações do caminho, dando nosso testemunho de fé e perseverança a Deus.
Evangelho de Mateus 5:11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, falarem todo mal contra vós por minha causa.
Evangelho de Mateus 5:12 Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
“É uma alegria participarmos das aflições do Cristo. Sofrermos injúrias e perseguições por causa dele é mérito de poucos, pois esses podem ser considerados os verdadeiros discípulos de Jesus”. (CARVALHO, 2024, p.99)
Essas perseguições são muito comuns e podemos nos referir a pessoas encarnadas e às desencarnadas também. Como sabemos, com base na Doutrina Espírita, os seres que prejudicamos no passado ficam, muitas vezes, presos a nós por causa da sintonia vibratória e isso faz com que eles nos persigam mesmo depois de desencarnados. São os ditos Espíritos Obsessores, que não devemos nos esquecer foram nossas vítimas no passado e vem cobrar ajuste de contas. Importante se faz que haja o perdão de uma ou ambas as partes para se desfazer esse vínculo pernicioso e prejudicial e assim conseguirmos estabelecer uma esfera de paz, harmonia e amor verdadeiro.
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Referências:
CARVALHO, Evelyn Freire de. Palavras de Jesus – Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita, 2024.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo – Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita, 2023.
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