O Vale dos Tatuados
Jéssica Araújo
A prática de marcar o próprio corpo é tão antiga quanto a humanidade. Através de pesquisas foram descobertas tatuagens em diversas civilizações, como os egípcios, japoneses, tailandeses, africanos, entre outros povos.
Um dos objetivos da tatuagem seria o registro da história para o próprio indivíduo, uma marca única. A arte de tatuar difundiu-se rapidamente por todos os continentes, com diversas finalidades, como: rituais religiosos, identificação de grupos, marcação de prisioneiros e escravos, camuflagem e distinção de integrantes de diferentes classes sociais.
No Ocidente, a técnica caiu em desuso com a proibição pelo cristianismo. A tradição foi redescoberta em 1769, quando o navegador inglês James Cook realizou sua expedição à Polinésia. Com a invenção da máquina elétrica de tatuar, em 1891, o hábito se espalhou pela Europa e Estados Unidos. No final do século XX, a tatuagem não era vista com bons olhos perante a sociedade, era uma característica quase que exclusiva de marinheiros e presidiários. Entretanto, nos dias de hoje, é um hábito comum entre as pessoas, e independe de idade, sexo, religião, ou classe social. Atualmente existem vários tipos de tatuagens: em 3D, traços mais finos, coloridas, desenhos realistas. São milhares de desenhos, imagens e frases como opção de escolha. A intenção é transferir, da forma mais realista possível, e bem feito na pele, algo que ficará marcado para sempre no corpo. Porém, em alguns casos, a imagem ou a frase escolhida não são de tão bom gosto, podendo ser ofensiva ou sugestiva de raiva e violência.
No espiritismo a tatuagem não é proibida. Todavia se faz importante lembrar que o equilíbrio e o bom senso lhe trarão uma colheita tranquila. O livro “Evolução em dois mundos”, de Waldo Vieira, psicografado por Chico Xavier (XAVIER e VIEIRA, 2005), afirma que o perispírito não é reflexo do corpo físico, como mostra o trecho a seguir: “As lesões do corpo físico só terão, pois, repercussão no corpo espiritual se houver fixação mental do indivíduo diante do acontecido ou se o ato praticado estiver em descordo com as leis que regem a vida”.
Como exemplo, os vícios, os exageros, assim como as drogas, os pensamentos negativos, a ganância, etc., causam males para o períspirito.
No livro de Luiz Sérgio, “Mais Além do meu Olhar”, psicografado por Irene Pacheco Machado (MACHADO, 2001), no capítulo 6, é relatado um agrupamento de espíritos em desequilíbrio no Vale dos Tatuados:
Hilário pediu que o grupo parasse e fez uma bela prece. Confesso que estava sentindo frio, pois o lugar foi ficando cada vez mais pavoroso, muito estranho. O vento soprava forte. Josué parou, pois, dois homens se aproximaram de nós e nos cumprimentaram. Josué e Jessé conversaram bastante com eles e só depois Jessé convidou-nos a prosseguir viagem, tendo à frente aqueles dois homens enormes, quase gigantes. - Quem são eles? perguntei a Juanito. - Os guardiães do Vale dos Tatuados. - Quê? Vale dos Tatuados?! - Sim, estamos nos dirigindo para lá. - Agora é que a coisa vai esquentar! - falei. Todos me olharam. Abaixei os olhos e continuei andando. Quando nos aproximamos daquele estranho lugar, pareceu-me que não havia pessoas, porém os dois guardas empurraram uma parede rochosa, que se abriu. Com espanto, percebemos que era uma gruta, com pouca luminosidade. Muitos ali cantavam estranhas canções e o odor era terrível. Pensei: “este é o inferno tão falado no mundo físico”. - Aqui é o Vale dos Tatuados? perguntei. - Sim, aqui é o vale deles. - Jessé, mas existe tatuado boa gente. Mesmo assim ele vem para cá? - Não. Aqui se encontram os comprometidos. Porém, todos aqueles que estragaram sua roupa perispiritual terão de pagar ceitil por ceitil. Como assim? Pode explicar? - O perispírito é a veste do Espírito e o corpo de carne é a veste do perispírito, quando o homem está encarnado. Se agredimos o corpo físico, o perispírito é agredido. Olhe aquele grupo ali: seus componentes tatuaram todo o corpo; corpo e perispírito foram agredidos. - E por que eles vieram parar aqui, Jessé? - Eles se agrupam, fugindo das criaturas normais. Querem chocar a sociedade. Das tatuagens daquelas estranhas figuras saía uma fumaça escura, que muito os incomodava. - Gostaria tanto de falar com um deles!... Jessé aproximou-se de um dos guardas, chamado Gitará, e falou do meu desejo. Então, ele me chamou com o olhar. Aproximamo-nos e ele foi passando pelos grupos, que gritavam, cantavam e davam risadas, porém olhavam-no com respeito. Ele nos levou até um tatuado que, deitado sobre um tapete, soltava baforadas de fumaça. Ele continuou como estava. O guarda lhe falou algo e ele se levantou, aproximando-se de mim: - Que deseja, baixinho? Enturmar-se a nós, os “vampiros da corte”? - Não, amigo, queremos apenas perguntar por que vocês vieram parar aqui. Não queremos acreditar que os tatuados tenham um lugar específico. - Não, claro que não. Somos livres para ir a qualquer lugar, do inferno ao céu, porém aqui não somos incomodados, a não ser pelos guardas do cordeiro. Mas até que eles são valiosos, pois trazem comida e levam os debilitados para os hospitais.
[...] - Aqui é uma cidade. - A cidade dos tatuados, com hospital, escola, e até indústria? - Não. As cidades trevosas são vales sem luz, sem água, sem esgoto. Nelas, o Espírito vive como se fosse animal. - Mas eles apenas se tatuaram!... - Será, Luiz, que eles só pintaram o perispírito, ou também deixaram de realizar a tarefa que tinham como encarnados? - Notamos que aqui não há Espíritos com pequenas tatuagens, quase todos as têm no corpo inteiro. Confesso que não entendi o porquê desse lugar existir - Este lugar, como outros, é escolhido de acordo com a vibração do Espírito.
Lílian, apavorada, apertou-me o braço. Olhei para o que a assustara tanto e divisei várias mulheres com piercings nos lugares mais estranhos, nos mostrando e dando gargalhadas. Fiz continência e elas colocaram a língua para nós, se podemos assim chamar, pois caiam até o peito, tão pesadas de adornos. - Jessé, isso aqui é pior do que todos os umbrais que conhecemos. Ele sorriu. E, assim, fomos saindo. Quando já estávamos quase na porta, uma jovem segurou minhas pernas e implorou: - Limpe, moço, limpe do meu corpo perispiritual isto aqui. Olhei-a e vi a figura de satanás batendo no Cristo. - Por que você fez isso? perguntei, chocado com aquela visão. - Para chamar a atenção. Depois dessa tatuagem, ganhei a liderança do grupo. Apague-a, filho do cordeiro, apague-a, pelo amor de Deus!
A intenção que colocamos em algo que faremos como uma tatuagem é decisiva e diz respeito aos valores íntimos que decorrem dos valores morais do indivíduo, inclinação ou disposição para um padrão de negativismo ou violência, que irão de reencarnação após reencarnação. As imagens grudadas no corpo sintonizarão espiritualmente com entidades locais menos felizes, e tendem a ser gravadas também no períspirito por fixação dos pensamentos recorrentes. Poderão, nessas condições em reencarnações futuras, refletir-se através das conhecidas marcas de nascença ou até mesmo como enfermidades na epiderme por conta do desequilíbrio passado.
No entanto, a tatuagem pode ser vista como um adorno de beleza, alegre e criativa, fundamentada no bom senso e no belo, podendo ser prestada como homenagem ou afeição, em sintonia com a natureza ou crenças. Em casos como o batom, a maquiagem, ou os pequenos adornos, a predisposição é de não se fixarem no períspirito, não criando vínculos com o ego e a vaidade mais profunda e maléfica.
A pele é a proteção do corpo, o templo que Deus em sua bondade nos emprestou, e é dever cuidar da melhor forma possível, não havendo abusos que prejudiquem a saúde e integridade do corpo físico. A tatuagem somente existirá enquanto o corpo físico existir.
Tudo com exageros, em desequilíbrio, é prejudicial não apenas para o organismo físico, mas também para o Espírito após o desenlace da matéria para o plano espiritual, cabendo a nós nos policiarmos e nos corrigirmos diante das perdições terrenas, pois o hoje é a eternidade do futuro amanhã.
REFERÊNCIAS:
MACHADO, I. P. Mais além do meu olhar. Brasília: Livraria e Editora Recanto, 2001. Disponível em:
XAVIER, F. C., VIEIRA, W. Evolução em dois mundos. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Disponível em: http://bvespirita.com/Evolucao%20em%20Dois%20Mundos%20(psicografia%20Chico%20Xavier%20e%20Waldo%20Vieira%20-%20espirito%20Andre%20Luiz).pdf. Acesso em 03.mar.2020.
COMO SURGIU A TATUAGEM?. Super Interessante, 2011. Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-surgiu-a-tatuagem/. Acesso em 03.mar.2020.
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