Reencarnação: Justiça Divina
Carlos Alexandre
Na teologia cristã, citada na obra A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência (CHAVES, 1998, p.39), a reencarnação é um tema controverso. A Igreja Católica, por exemplo, a rejeita, argumentando que a Bíblia não a menciona explicitamente. Contudo, durante o Concílio Ecumênico de Constantinopla em 553 d.C., a reencarnação foi excluída do cristianismo pelo imperador Justiniano e sua esposa Teodora. Vale ressaltar que, neste contexto, o que foi condenado não foi estritamente a reencarnação, mas a doutrina da preexistência do Espírito, que sugere a existência do Espírito antes da concepção do corpo no útero materno, o que é considerado contrário às escrituras bíblicas. "Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes que saísses do ventre da mãe, te consagrei e te constituí profeta das nações" (Jeremias 1: 5).
Ao introduzirmos o conceito de reencarnação, é primordial considerar a imortalidade do Espírito, uma vez que reencarnar implica que o Espírito transcende a existência física, permanecendo espiritual até um novo nascimento ou processo de reencarnação. Estes conceitos remontam aos primórdios da filosofia grega, sendo mencionados por Platão em um diálogo com seu mentor, Sócrates. Nesse contexto, é destacado que a morte representa o início da purificação da alma, um processo no qual ela se separa do corpo, dentro do possível, e se dedica a viver em si mesma, distanciando-se da matéria para uma existência espiritual.
Sócrates teoriza que é natural para as almas que residem na Espiritualidade, após terem deixado este plano, retornarem daquele para cá, por meio da metempsicose, termo utilizado para descrever a passagem da alma de um corpo para outro. Ele sugere que, conforme sua teoria, tudo se origina do oposto: para morrer, é necessário viver, e vice-versa. Assim, os vivos emergem dos mortos, e o renascimento é um fenômeno intrinsecamente natural (PLATÃO, 2013, p.130).
A influência de Justiniano e Teodora no mencionado concílio não se concentrou unicamente na condenação da reencarnação, mas sim na rejeição da doutrina da preexistência do espírito. A recusa em aceitar a ideia de renascimento e expiação de falhas após a morte foi particularmente motivada por Teodora, esposa do imperador Justiniano (CHAVES, 1998, p.40).
No entanto, Kardec em O Livro dos Espíritos (2022, p. 102) nos instrui que a pluralidade das existências é uma realidade em todos os reinos onde a vida pulsa. A mônada espiritual desperta e acumula experiências em diferentes corpos. Podemos afirmar que a alma repousa na pedra, em processos ainda não completamente compreendidos por muitos, mas o tempo, eventualmente, trará o conhecimento desta forma de progresso espiritual a todos. Ela sonha no vegetal. Compreenderemos também os processos desses sonhos em virtude desse estágio. Na fase animal, a alma atua com inúmeros movimentos, buscando, por meio de instintos, os talentos inatos guardados no coração. Finalmente, a alma desperta no ser humano, adquirindo, em certo momento, a razão e se iluminando em direção ao super-homem, na busca da angelitude. Portanto, negar a reencarnação, a verdade das verdades, é desconsiderar a chama divina que se enriquece com todas as experiências do conhecimento e do amor.
As reencarnações são inúmeras, desdobrando-se de um mundo para outro, em uma jornada em direção ao infinito. O Espírito progressivamente se liberta da animalidade, despertando para a consciência do Criador, munido de recursos valiosos que o capacitam a experimentar a verdadeira felicidade. Muitos questionam: por que a reencarnação? Não seria possível para o Espírito desenvolver seus atributos sem ela? Certamente, se assim Deus desejasse, seria viável. No entanto, foi o próprio Criador quem estabeleceu a Lei das vidas sucessivas. Ele concebeu o Espírito como um ser simples e ignorante, para que, por meio dos processos estabelecidos por esta Lei Universal, o Espírito pudesse despertar e acumular experiências grandiosas ao longo de inúmeras reencarnações.
Se Deus é Onipotente e Onisciente, não haveria equívoco na criação de uma Lei tão sublime. Portanto, é imperativo que compreendamos nossos caminhos, permitindo-nos viajar por meio dos intricados processos das vidas múltiplas. Ao contemplarmos as reencarnações, perceberemos a justiça que se revela nas diversas situações da vida, desde os enfermos e pobres até os ricos e civilizados. Em cada fase da existência, a Lei Universal se manifesta, proporcionando oportunidades de aprendizado e evolução para o Espírito em sua busca incessante pela compreensão e elevação. (KARDEC, 2022, p.102).
Tudo na vida segue o caminho de retorno a outro corpo, conforme a inalterável Lei do Progresso. Os trajetos delineados por Deus permanecem inabaláveis, resistindo às artimanhas da vaidade humana que, ao cair pela própria falta de consciência, se desvia. As vidas sucessivas se desdobram de maneira incontável, desde a inércia da pedra até a vitalidade da árvore, desta para o reino animal e, por fim, alcançando a condição humana. Essa extensão temporal se perde na noite dos milênios, mas o Espírito, enraizado em sua essência divina, é constante, refletindo a sublime natureza de Deus.
Mesmo após desencarnarmos e adquirirmos certo conhecimento na escola do tempo, ainda nos deparamos com a dificuldade de nos compreender plenamente. Investigamos nossa própria gênese em busca da glória de Deus, reconhecendo e celebrando Suas obras inigualáveis. Neste percurso espiritual, nos esforçamos para compreender a profundidade de nossa conexão divina e para honrar a grandiosidade das criações divinas através de nossas ações e realizações.
O que mais necessitamos de maneira urgente, visando ao nosso bem, é dedicar-nos à compreensão e vivência do amor em todas as suas inúmeras manifestações, a fim de que nossa consciência alcance tranquilidade em todos os aspectos da vida. É imperativo contemplar a reencarnação, mergulhar na compreensão desta Lei Divina, refletir sobre as múltiplas existências que já experienciamos e empenhar-nos na melhoria de nossa trajetória, inspirando-nos na vida de Jesus. Dessa forma, permitimos que o Cristo desperte em nossos corações, guiando-nos pelo caminho celestial da consciência. Tudo volve às suas nascentes. (Ângelis, p. 183).
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Referências:
1- ÂNGELIS, Joana de. Luz nas Trevas. Psicografado por Divaldo Pereira Franco. 1ª Edição.
Salvador/BA, 2018. Leal.
2- CHAVES, José Reis. A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência. 6ª Edição. São Paulo/SP, 1998. Martin Claret.
3- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 1ª Edição. – Campos dos Goytacazes/RJ, 2022. Letra Espírita.
4- PLATÃO, Arístocles. Fédon. Tradução Adalberto Roseira. 2ª Edição. São Paulo/SP, 2013. Hunter Books.
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