Respeito à Diversidade Religiosa: o caminho para a conexão das crenças
Érika Faustino
No mundo atual, marcado por uma crescente interação entre diferentes culturas e crenças, o respeito à diversidade religiosa manifesta-se como um valor fundamental para a construção de uma sociedade mais harmoniosa e acolhedora.
Entretanto, segundo o disque 100, “o Brasil registrou 2.124 violações de direitos humanos relacionadas a intolerância religiosa durante todo o ano de 2023”. De acordo com o órgão esse número - comparado ao ano anterior - revela um aumento de 80% referente às queixas relacionadas a intolerância religiosa.
Dados como estes vêm nos mostrar que mais que leis, o respeito à diversidade religiosa requer o ato de reconhecer e valorizar a pluralidade de crenças e práticas espirituais presentes em nossa sociedade. Ao se refletir e analisar sobre todo o processo de colonização do Brasil, é possível compreender que o Brasil, é um celeiro de intensa diversidade religiosa.
Em tempos que tanto se fala em empatia, que tem como um dos seus sinônimos a compreensão, principalmente no período pós pandemia, esperava-se que ela seria vivenciada a ponto de trazer dados contrários aos apresentados pelo disque 100.
Compreender e respeitar que cada indivíduo tem o direito de crer e exercer a sua fé de acordo com seus valores e princípios individuais, é a premissa do exemplo de amor a Deus, uma vez que Ele mesmo não faz acepção a nenhuma.
A educação é o melhor caminho para dirimir os preconceitos. A questão é que falta da parte dos educadores, ações contundentes quanto ao preconceito em diversas áreas. E quando o assunto é crença e fé, o papel pedagógico da autoridade religiosa está no quesito empatia ou, no mínimo, na tolerância e no respeito às diversas crenças, essenciais para a harmonia e a paz entre as pessoas.
Por meio da Lei 11.635 de 27 de dezembro de 2007, foi instituído no Brasil, o dia 21 de janeiro como o Dia Oficial de Combate a Intolerância Religiosa. Esta data foi escolhida em homenagem a uma Mãe de Santo, de Salvador- BA que sofreu calúnia, perseguição, violência física e verbal, vindo a desencarnar em 21 de janeiro de 2000, vítima de um infarto fulminante. O objetivo de comemorar essa data é lembrar que o Brasil é um país democrático que deve respeitar a pluralidade religiosa.
De acordo com o site G1, pesquisa feita pelo Datafolha em 2020 constatou que “50% dos brasileiros são católicos, 31% evangélicos, 10% não tem religião, 3% são espíritas, 2% pertencem a umbanda, candomblé e outras religiões afro-brasileiras, 2% outras, 1% ateu e 0,3% judaica”.
O Espiritismo busca entender as Leis Divinas para assim unir, e não dividir as pessoas. “O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus” (KARDEC, 2023, p. 212). Neste item, os Espíritos orientam sobre uma das caraterísticas essenciais do homem de bem, que também traz um dos princípios essenciais do Espiritismo: a caridade com o próximo.
Embora o Espiritismo, ofereça uma visão particular sobre a Espiritualidade e a vida após a morte, não se considera detentor da verdade absoluta. Pelo contrário, orienta, incentiva e promove o estudo, a reflexão e o diálogo aberto como forma de crescimento espiritual e entendimento das Verdades Divinas.
O respeito à diversidade religiosa está profundamente fixado nos estudos da Doutrina Espírita, que destaca a fraternidade universal e a busca pela evolução moral e intelectual.
Mesmo as diferentes tradições religiosas têm pontos de convergência como o amor ao próximo, a compaixão, a justiça e a busca pela verdade. Estas questões devem servir de ponte para conectar as diferentes formas de expressar a fé.
A pluralidade de crenças deve servir como oportunidade para enriquecer nosso entendimento sobre o Divino e fortalecer os vínculos de fraternidade. Um mundo justo e de empatia só é possível quando há o respeito no diálogo e na convivência com as diferenças.
O fato de ainda nos encontrarmos em um mundo de provas e expiações, é um grande desafio para ascensão espiritual. Muitos ainda seguem seus instintos primitivos e perdem a oportunidade de exercer a fraternidade e a caridade com o objetivo de auxiliar na unificação de pensamentos que se assentará no futuro.
Como consta no livro A Gênese capítulo XIII, item 18, “essa tese, de que se constituíram defensores eminentes teólogos, leva direto à conclusão de que, em dado tempo, já não haverá religião possível, nem mesmo a cristã, desde que se chegue a demonstrar que é natural o que se considera sobrenatural, visto que, por mais que se acumulem argumentos, não se conseguirá sustentar a crença de que um fato é miraculoso depois de se haver provado que não o é” (KARDEC, 2022).
Por fim, devemos sempre nos lembrar de que estamos de passagem pelo planeta Terra e que ele nos serve de escola e hospital. Quando nos curarmos, teremos a clareza das coisas em nossa mente e coração, praticaremos os ensinamentos do Cristo Jesus que, como exemplo de fraternidade, não fez distinção com aqueles que ainda não estavam preparados para os Seus ensinamentos.
Aqueles que seguem a Doutrina do Amor jamais se ocupam em ser intolerantes com as diversas religiões que se apresentam. Pelo contrário, têm a sabedoria de compreender que cada uma dessas crenças é a representação da Sabedoria e da Bondade Divina que nos dá a chance de aprender e exercitar o amor incondicional.
Cabe a cada um dos Seres Humanos aqui encarnados, arar o campo da alma com sementes de empatia, tolerância e amor, para que nossa colheita seja de harmonia e união entre os povos.
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Referências:
GOV.BR. No dia nacional de Combate à Intolerância Religiosa, MDHC reforça canal de denúncias e compromisso com promoção da liberdade religiosa. 2024.
Disponívelem:https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2024/janeiro/no-dia-nacional-de-combate-a-intolerancia-religiosa-mdhc-reforca-canal-de-denuncias-e-compromisso-com-promocao-da-liberdade-religiosa. Acesso em 18 de abril de 2024
G1. 50% dos brasileiros são católicos, 31% evangélicos e 10% não têm religião, diz Datafolha. 2020.
Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao-catolicos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem-religiao-diz-datafolha.ghtml. Acesso em 21 de abril de 2024.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro, Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita, 2023.
KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra da 5ª ed. Francesa. 2ª edição- 3ª impressão. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2022.
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Muito esclarecedor a abordagem aqui apresentada.
Cabe a cada um fazer o exercício de compreender que não estamos certos ou errados quanto ao que se conhece, mas somos diferentes, individuais.
Assim teremos como entender que cada um tem seu tempo e com certeza chegaremos bem alto em nossa evolução.
Parabéns Érika.