Richard Simonetti fala sobre Reformas Sociais
O assunto surgiu na reunião de estudos para a edificação de uma sociedade justa, não seria razoável a participação em movimentos que defendem uma mudança nas estruturas sociais?
Várias opiniões foram apresentadas. Houve quem preconizasse um engajamento do Centro, contribuindo até mesmo para a constituição de partido político capaz de pugnar pelos ideais espíritas. Outros defendiam uma mobilização popular, se necessário, pressionando os governantes, a fim de que as legítimas aspirações do povo fossem atendidas.
Terminada a discussão, ofereceu-se a palavra a Josefo, dedicado mentor espiritual que, após saudar os presentes pela psicofonia mediúnica, falou:
– O assunto hoje foi empolgante. É louvável o interesse que demonstraram na procura de soluções para os grandes problemas sociais. Considerem, entretanto, que todas as mudanças envolvendo a sociedade, para serem legítimas e proveitosas, pedem antes a renovação do Homem, o que não pode ser feito à custa de meras reivindicações, de verbalismo ou do exercício da força, porquanto, para tanto, é preciso entrar em seu coração e não há outro caminho senão o Amor. Pode parecer piegas aos doutos, mas é a pura expressão da realidade. Jesus o demonstrou incansavelmente em seu apostolado. O Espiritismo faz a mesma proposta, apresentando a caridade como a base da salvaçãohumana. Com a caridade desenvolveremos a vocação de servir, que é o Amor em ação, atuante, empreendedor, irresistível no apelo à renovação.
– No entanto – retrucou Luiz, um dos defensores do engajamento político –, o amigo não nega que uma mobilização dos espíritas poderia favorecer as mudanças pretendidas.
– Sim, todos podem participar de tais iniciativas, desde que observem a ordem e a disciplina, com respeito aos poderes constituídos, mas sem envolver a Doutrina Espírita como movimento, a fim de que não tenhamos a reedição dos perigosos enganos cometidos pelos líderes religiosos no passado, que terminaram por atrelar a religião ao poder, assimilando os males que pretendiam combater.
– Mas o irmão não admite que uma mobilização popular, até com eventual exercício de força, apressaria as mudanças pretendidas? — indaga Gabriel, um dos defensores das medidas revolucionárias.
– Semelhantes iniciativas realmente promovem modificações nas estruturas sociais, mas em nada contribuem para a edificação de um Mundo melhor. Muitos movimentos de força têm sido disparados. Sistemas se sucedem, mas perpetuam-se os males humanos... Países desenvolvidos resolvem transitoriamente os problemas da miséria material, mas caem na miséria moral, que é muito pior: a primeira é provação para coletividades imensas, funciona como cadinho purificador; a segunda é semeadura de dores... Ocioso pretender-se a reforma da sociedade sem a renovação do cidadão. Impossível construir uma casa sólida com tijolos crus.
Josefo fez pequena pausa, como a esperar que seus conceitos fossem assimilados, concluindo, incisivamente:
– Quando Jesus proclamou que o Reino de Deus está dentro de nós, deixou bem claro que ele não se estenderá sobre o planeta antes dessa gloriosa conquista. Por isso, meus amigos, o nosso trabalho é junto ao coração humano, sem pressões e sem pressa, com o exemplo de nosso próprio empenho no Bem, a fim de que o Reino Divino se estenda ao nosso redor.
* * *
Qualquer sistema de governo funcionará satisfatoriamente se governados e governantes se ajustarem aos princípios da Justiça e da Verdade, da Fraternidade e da Solidariedade, do Trabalho e da Disciplina, do Respeito e da Compreensão.
Semelhantes realizações, que jamais poderão ser impostas, se concretizarão na medida em que os homens se dispuserem a seguir o Cristo pelos caminhos do Amor.
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