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Terapias Espíritas: O Que São?

Ana Paula Martins


Segundo o Dicionário Michaelis, terapia é: 1) Parte da Medicina que se ocupa dos cuidados dispensados aos doentes, entre eles a escolha e a administração do tratamento medicamentoso; 2) Todo método que visa descobrir as causas e os sintomas dos problemas físicos, psíquicos ou psicossomáticos e, por meio de tratamento adequado, restabelecer a saúde e o bem-estar do paciente.

 

Na visão espírita, as terapias são procedimentos que objetivam a elevação do padrão vibratório de uma pessoa. Entretanto, para ser possível essa elevação, é necessário que o indivíduo também modifique suas atitudes e pensamentos, de modo a ajudar no seu próprio reequilíbrio espiritual.

 

Atualmente, cada vez mais tem sido reconhecido que a Espiritualidade tem um importante papel na saúde e bem-estar do ser humano. Muitos centros terapêuticos no planeta já desenvolveram estudos mostrando a influência positiva da Espiritualidade no cuidado com pessoas doentes.

 

O médico psiquiatra Harold G. Koening, da Universidade Duke (EUA) escreveu o livro Espiritualidade no Cuidado Com o Paciente, onde enfatiza a necessidade de reconhecer a dimensão do indivíduo como parte integrante de um tratamento. A também médica Christina Puchalski, do Programa de Medicina, Cuidado e Espiritualidade da Universidade George Washington (EUA) destaca a necessidade de treinamento dos profissionais de saúde para lidar com questões espirituais do paciente.

 

Contudo, o reconhecimento da Medicina terrestre em relação à Espiritualidade se refere apenas na interferência das crenças dos pacientes nos tratamentos ministrados. Ainda não existe o reconhecimento da terapia espiritual propriamente dita.

 

Para se explanar sobre terapia, importante é falar do fator que a solicita: a doença. Qual motivo leva uma pessoa a adoecer?

 

A doença pode ser originária de descuidos cometidos. Existem pessoas que não cuidam adequadamente do seu corpo físico, ocasionando alguns males. Uma simples roupa molhada colada ao corpo por um longo período pode causar problemas de pele, ou então, a falta de higiene nas mãos antes de manipular os alimentos ocasionar um distúrbio gastrointestinal.

 

Os excessos também são fator contribuinte para patologias. O consumo excessivo de alimentos gordurosos pode causar doenças cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio, ou doenças gastrointestinais, como o refluxo esofagiano. Até mesmo o consumo excessivo de água pode causar hiponatremia (baixo nível de sódio no sangue) e sobrecarga renal.

 

O uso de drogas, lícitas ou não, é um fator extremamente prejudicial à saúde, que causam vários problemas como destruição de neurônicos, lesões no fígado, problemas cardíacos, entre outros.

 

Algumas patologias também podem ocorrer por estresses ou desequilíbrios psíquicos, como os transtornos alimentares, dermatites, ou alterações hormonais.

 

Existe, ainda, doenças que ocorrem por fatores reencarnatórios, ou seja, são doenças incluídas no processo reencarnatório do Espírito, objetivando a progressão espiritual. O Espírito pode escolher, conforme suas faltas, as provas que o levem à expiação destas e o avanço espiritual mais rapidamente (KARDEC, 2022, pg. 141).

 

Independente da origem da doença, é importantíssimo o ensinamento de Emmanuel ao revelar que “ninguém poderá dizer que toda enfermidade, a rigor, esteja vinculada aos processos de elaboração mental, mas todos podemos garantir que os processos de elaboração da vida mental guardam positiva influenciação sobre todas as doenças” (XAVIER, 1975, p. 127).

 

Na visão espírita, a terapia é fundamentada na concepção do Universo como estrutura unitária e infinita, onde tudo (incluindo coisas e seres) estão em constante relação. Sendo assim, originados e findados neste contexto, pode-se ter certeza de que tudo que é necessário está contido nesta estrutura.

 

Com base nesta afirmação é possível identificar os princípios da terapêutica espírita definidos por Herculano Pires (PIRES, 1995, pg. 27-29).

 

1. A cura das doenças depende da ação natural das energias conjugadas do homem e da terra (psicológicas e mesológicas), na reconstituição do equilíbrio das energias naturais do doente.

 

2. A renovação de energias depende da ação conjugada dos espíritos terapeutas com o médium curador, que se põe à disposição dos espíritos para a transmissão dos fluidos energéticos através da prece e do passe.

 

3. A eficácia do passe depende da boa vontade do médium, que se entrega humildemente à ação dos espíritos, sem perturbá-la com gesticulações excessivas, limitando-se às que os espíritos lhe sugerirem no momento.

 

4. A ação curadora dos espíritos não é mágica nem milagrosa, está sujeita a leis naturais que regem a estrutura psicobiológica do homem. A emissão de ectoplasma do corpo do médium para o corpo do doente revela-se atualmente, nas pesquisas russas, como emissão de plasma físico acompanhado de elementos orgânicos.

 

5. Nos casos de cura à distância, sem a presença do médium a eficácia depende das condições psicofísicas do doente, que permitem a colaboração do seu próprio organismo nas elaborações fluídicas do plasma, em conjugação com as energias espirituais dos espíritos terapeutas.

 

6. As chamadas operações espirituais (hoje paranormais) podem realizar-se por intervenção física do médium, dominada pelo espírito que dele se serve por influenciação mediúnica no transe hipnótico. Mas a simples ação mental do médium pode produzir efeitos físicos no paciente.

 

Apesar de haver princípios na terapêutica espírita, não existe a mínima necessidade de seguir uma formalidade, como formulários que acessem a intimidade do paciente, posições ou ritos específicos, local ou data estabelecida. Os fluidos curativos espirituais atravessam paredes, obstáculos, roupas. O que não se pode é iludir ou manipular a fé ingênua das pessoas, que muitas vezes ocorre através da ação de Espíritos inferiores e mistificadores.

 

Inclusive, o professor Herculano Pires alertou para a prática terapêutica exercida por alguns: “ ... a terapia espírita, nascida humildemente da prece da imposição das mãos aos doentes, segundo o ensino e o exemplo de Jesus, era transformada em ritos complicados e pretensiosos, aplicados por médiuns diplomados pelas Federações. Até mesmo as práticas confessionárias foram estabelecidas em várias instituições, a partir do mandachuva, que agia com rigorosa disciplina paramilitar” (PIRES, 1995, pg. 23).

 

O imprescindível na terapêutica espírita é haver integridade moral dos envolvidos, porque isso garante a necessária sintonia com os Espíritos Elevados (único garantidor da eficácia da terapia). A natureza moral da terapêutica espírita nada mais é do que um espelho da terapêutica exercida por Jesus no planeta Terra. O Mestre sempre agiu de forma natural e simples, sem fazer uso de nenhum tipo de ritual ou gestos espalhafatosos.

 

Pode-se dizer que existem diferentes tipos de terapias espíritas.


A prece é a primeira forma de terapia, mas não deve ser utilizada somente no processo terapêutico. A prece deve ser uma constante na vida de qualquer pessoa, pois é o elemento essencial para ligar o indivíduo à Deus, assim como à Jesus e aos Amigos Espirituais.

 

Foi esclarecido na questão 659 de O Livro dos Espíritos que “a prece é um ato de adoração a Deus. Orar a Deus é pensar nele; é aproximar-se dele; é pôr-se em comunicação com ele. Pela prece podemos fazer três coisas: louvar, pedir, agradecer” (KARDEC, 2023, pg. 250). É relevante lembrar que a prece deve ser o momento de espelhamento da alma rumo à Esfera Superior, dando o que há de mais íntimo. No Evangelho de Mateus está escrito: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está secreto; e teu Pai, que vêm em secreto, te recompensará publicamente. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos” (MATEUS, 6, 6-7). Essas palavras ensinam que o próprio interior da pessoa é o quarto, ou seja, ao realizar a prece, o indivíduo deve se recolher no seu íntimo e falar com Deus de forma simples e espontânea.

 

Outro modo de terapia é o passe, que é uma transfusão de energia, de elementos vivos e atuantes, que alteram o campo celular, sendo recurso fundamental para a harmonização energética do perispírito. No passe espírita ocorre a mistura da energia do passista (o médium que aplica o passe) com a energia Espiritualidade, onde seus efeitos são muito salutares, pois conta com a ajuda de Equipes Espirituais que se encontram na Casa Espírita.

 

Basicamente, o passe age de três formas distintas: 1) assepsia – limpando o campo vibratório do paciente para o recebimento de energias salutares, facilitando maior absorção dessas energias; 2) revitalização – compondo as energias perdidas; 3) dispersante – eliminando os excessos e distribuindo de igual maneira os fluidos doados ao longo do campo vibratório e por todos os centros de força.

 

A terceira terapêutica espírita é a água magnetizada ou fluidificada, que é a água magnetizada por fluidos medicamentosos através do ambiente ou da ação direta dos Espíritos Benfeitores. Ainda que não seja possível ver as energias benéficas da água fluidificada, elas são transportadas pela substância (água) para o paciente, visando o restabelecimento do corpo e do Espírito.

 

Um quarto tipo de terapia é o atendimento fraterno, realizado pelos Centros Espíritas, acolhendo o paciente e dando-lhe a oportunidade de expor livremente suas dificuldades, anseios, medos, sempre em caráter privado e sigiloso. O acolhimento fraterno é estritamente realizado dentro dos princípios do Evangelho de Jesus à luz da Doutrina Espírita, fornecendo breves orientações evangélico-doutrinárias e recursos espirituais. Não se deve confundir o atendimento fraterno com o atendimento mediúnico; apesar de poder ser exercido pelo médium, no atendimento fraterno não há assistência espiritual exercida pelo atendente.


O quinto tipo terapêutico é o estudo da Doutrina Espírita e as palestras públicas, que têm como objetivo fundamental estudar o Espiritismo de forma séria, regular e contínua, com base nas obras de Allan Kardec e o Evangelho de Jesus, conforme foi prometido pelo Mestre, em sua passagem na terra: “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e Eu rogarei a meu Pai, e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito” (JOÃO, 14, 15-17, 26).

 

A busca pelo conhecimento pode ser ampliada com o estudo de obras de outros autores, como Léon Denis, Emmanuel, Joanna de Ângelis, Yvonne do Amaral Pereira e tantos outros que contribuíram para o enriquecimento da Doutrina Espírita, assim como os novos autores que vêm despontando e trazendo estudos e obras de imensa valia.

 

É importante ressaltar que o estudo e a prática da Doutrina Espírita é o elemento mais poderoso e eficaz de uma terapia espírita, porque para a eficácia do tratamento é necessária a mudança moral do indivíduo. Não é viável alcançar qualquer tipo de cura se a pessoa não está disposta a realizar sua reforma íntima.

 

É primordial lembrar que Jesus pertence a uma comunidade de Espíritos Superiores que conduzem o planeta Terra, cumprindo a vontade de Deus. Esses Espíritos possuem poderes curativos, como fez o Mestre quando encarnado. Um bom exemplo de coordenação dos Espíritos Superiores sobre um atendimento espiritual foi a parceria com o bondoso médico Dr. Bezerra de Menezes, que socorreu inúmeros doentes.

 

A cura é resultado dos méritos de cada pessoa, dos seus esforços pessoais e do próprio desenvolvimento espiritual. Sendo assim, muitas curas frustradas são resultadas das ações (do passado e do presente) de cada indivíduo. A terapia espírita é um auxílio proporcional a capacidade de cada pessoa em recebê-la.

           

Ao trabalhar a tão falada “reforma íntima”, é essencial lembrar que a vida terrena é um breve momento, por isso o apego material deve ser definitivamente abolido. A caridade e solidariedade são instrumentos de grande ajuda, não há dúvidas, mas ainda não alcança o sucesso. É imprescindível que busquemos a vivência de Jesus, sem interesse, sem orgulho, sem vaidade. O objetivo é “sermos o Mestre” através de seus ensinamentos, único caminho de evolução espiritual.

 

É fundamental ressaltar que as doenças podem ser cuidadas através de terapias espíritas, entretanto, as terapias humanas não podem, jamais, ser ignoradas ou rechaçadas.

 

A Medicina na Terra representa a misericórdia de Deus, que possibilita recursos para combater o sofrimento humano. Como Pai amoroso, auxilia e orienta no progresso da Medicina, sob inspiração dos Espíritos Superiores. Os laboratórios científicos são verdadeiros templos de Deus, em que Espíritos e homens trabalham em conjunto.

 

No livro O Consolador, Emmanuel explica como a Medicina terrena é considerada no Plano Superior: “A medicina humana, compreendida e aplicada dentro de suas finalidades superiores, constitui uma nobre missão espiritual. O médico honesto e sincero, amigo da verdade e dedicado ao bem é um apóstolo da Providência Divina, da qual recebe a precisa assistência e inspiração, sejam quais forem os princípios religiosos por ele esposados na vida” (XAVIER, 2017, pg. 69).

 

O homem deve mobilizar todos os recursos ao seu alcance em favor do seu equilíbrio orgânico. Por muito tempo ainda, a humanidade não poderá prescindir da contribuição do clínico, do cirurgião e do farmacêutico, missionários do bem coletivo. O homem tratará da saúde do corpo, até que aprenda a preservá-lo e defendê-lo, conservando a preciosa saúde da alma. Acima de tudo, temos de reconhecer que os serviços de defesa das energias orgânicas, nos processos humanos, como atualmente se verificam, asseguram a estabilidade de uma grande oficina de esforços santificadores no mundo. Quando, porém, o homem espiritual dominar o homem físico, os elementos medicamentosos da Terra estarão transformados na excelência dos recursos psíquicos e essa grande oficina achar-se-á elevada a santuário de forças e possibilidades espirituais junto das almas” (XAVIER, 2017, pg. 70-71).

 

Deus ensinou e orientou todos os tratamentos humanos para que as pessoas tivessem acesso a cura pelas terapias terrenas, por isso, desprezar tratamentos médicos convencionais é depreciar um Presente Divino.

 

Por fim, se salienta que em alguns casos não é possível atingir a cura, seja através de tratamentos médicos convencionais, mesmo em concomitância com as terapias espirituais, pois a própria doença é a cura, como ensinou Emmanuel: “Para o homem da Terra, a saúde pode significar o equilíbrio perfeito dos órgãos materiais; para o plano espiritual, todavia, a saúde é a perfeita harmonia da alma, para obtenção da qual, muitas vezes, há necessidade da contribuição preciosa das moléstias e deficiências transitórias da Terra” (XAVIER, 2017, pg. 69).

 

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Referências

 

DICIONÁRIO MICHAELIS. Terapia. Disponível em https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/terapia/. Acesso em 07 de março de 2023, às 23:10.

 

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução Guillon Ribeiro. 1ª ed. Campos de Goytacazes-RJ: Editora Letra Espírita, 2022.

 

PIRES, Herculano J. Ciência Espírita e suas implicações terapêuticas, 5ª ed. São Paulo: U.S.E., 1995.

 

XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador, pelo Espírito Emmanuel. 29ª ed. Brasília: FEB, 2017.

 

XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e vida, pelo Espírito Emmanuel. 4ª ed. Brasília: FEB, 1975.


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