Vícios na Visão Espírita
Por: Simara Lugon Cabral
“Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.” (Mateus 6:21)
A palavra vício tem origem do latim vitium e significa “falha ou defeito”. O conceito de vício é caracterizado como um desejo persistente de fazer ou consumir um ativo genérico de prazer, levando à dependência, que quando não é saciada leva o viciado à uma crise de abstinência, que traz uma sensação de angústia, apatia e até mesmo dores físicas. O que diferencia o hábito do vício é que esse sempre oferece algum prejuízo ou risco, enquanto o hábito não atrapalha os eventos diários da vida de uma pessoa. Existem diversos tipos de vícios com consequências mais ou menos graves: a dependência de sexo, de adrenalina, os viciados em trabalho denominados workaholics, a dependência tecnológica, o vício em jogos de azar, o vício em comida e a dependência química, que é o vício em álcool, drogas e outras substâncias, lícitas ou ilícitas. O vício está sempre ligado ao prazer ou recompensa, assim, o adicto tende a buscar determinada substância ou comportamento visando obter uma sensação de prazer, bem-estar ou alívio. Isto ocorre porque a satisfação dos vícios ativa os sistemas de recompensa do cérebro, influenciando a produção de dopamina, que gera uma sensação de bem-estar.
Existem diversos fatores que levam a pessoa ao desenvolvimento do vício, seja a baixa auto-estima, insegurança, um desequilíbrio emocional, a necessidade de se sentir aceito em um determinado grupo de pessoas ou um desejo de suprir um vazio emocional que pode ter origem na infância ou em vidas anteriores. Desta forma, o desenvolvimento do vício ocorre como uma resposta emocional à uma dor com a qual a pessoa não consegue lidar, e por essa razão ela recorre a algo material que a faça sentir um alívio ou que a faça esquecer por alguns instantes aquilo que a faz sofrer, e assim, ela vai se entregando cada vez mais até estar completamente dominada. Infelizmente nem todas as pessoas aprendem ou tem a oportunidade de lidar com seus problemas emocionais de outra forma e por este motivo se entregam ao vício. Porém é importante que compreendam que é possível lidar com suas dificuldades de outra forma, através do autoconhecimento, da busca por auxílio psicológico ou psiquiátrico e do aprendizado das leis divinas.
Neste sentido o espiritismo pode ser de grande auxílio, pois ao se aprofundar no estudo e na análise dos vícios à luz da Doutrina Espírita compreende-se que eles nada mais são do que o oposto da virtude: cabe a cada Espírito o esforço moral no combate aos vícios e no desenvolvimento das próprias virtudes, a partir do momento que seguirem o conselho de Cristo: Orar e vigiar. No livro O Evangelho segundo o espiritismo, no capítulo 28, item 20 lê-se que: “Portanto, quando surge em nós um mau pensamento, podemos imaginar um Espírito malévolo incitando-nos ao mal, ao qual somos totalmente livres para ceder ou resistir, como se tratasse de um convite de uma pessoa viva. Mas devemos, ao mesmo tempo, imaginar nosso anjo da guarda - ou Espírito protetor-, que, por sua vez, combate em nós a má influência e espera com ansiedade a decisão que vamos tomar. Nossa hesitação em fazer o mal é a voz do bom Espírito, que se faz ouvir pela consciência.” Desta forma, compreende-se que ao orar é possível obter o auxílio dos bons espíritos ao lidar com as dificuldades e ao vigiar não se cairá tão facilmente nas tentações da carne.
Os vícios comprometem o progresso espiritual, que é o objetivo de todos os espíritos durante sua encarnação portanto deve-se esforçar para evitá-los e por outro lado, buscar focar no desenvolvimento das virtudes, que auxiliarão o indivíduo a enfrentar os momentos difíceis e a superar suas próprias limitações. Durante o dia-a-dia é fácil deixar-se envolver pela sedução dos prazeres da carne, que estão à disposição de todos, porém aquele que entrega seu corpo e sua vida às paixões materiais terá que arcar com as consequências de seu comportamento, que poderão reverberar durante a atual ou até mesmo nas próximas existências, a depender do grau de comprometimento e da gravidade do vício. Para tanto, deve-se levar em conta a recomendação de Paulo em I Coríntios 6:12: “Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”, pois todos dispõem do livre arbítrio para escolher o caminho que desejam seguir porém a colheita do plantio realizado é obrigatória. Quando se faz mau uso do instrumento do espírito, que é o corpo físico, ingerindo substâncias nocivas, deixando de cuidar da saúde e se deixando dominar por hábitos que podem trazer prejuízos ao corpo e ao períspirito certamente as consequências virão. Na questão 714 de O Livro dos Espíritos é informado que: “O homem que busca nos excessos de todas as espécies um refinamento dos prazeres rebaixa-se mais do que os animais, pois estes sabem parar assim que satisfazem suas necessidades. Ele abdica da razão que Deus lhe deu como guia, e quanto maiores forem seus excessos, maior domínio ele concede à sua natureza animal sobre a espiritual. As doenças, as enfermidades e a própria morte, resultantes do abuso, são também punição à transgressão da lei de Deus.”
Além disso, os vícios não prejudicam somente aquele que se deixa dominar por eles mas também aos familiares, amigos e todos que amam o adicto e que sofrem ao ver o comportamento problemático do ser amado e algumas vezes podem desenvolver um transtorno chamado codependência, onde as pessoas que convivem com adicto passam a viver em função dele, assumindo a responsabilidade pelos problemas dele, o que traz prejuízos para a vida do codependente. Os vícios também são portas abertas à obsessão espiritual visto que no planeta Terra, os espíritos estão ao redor dos encarnados sempre buscando aqueles que vibram em uma mesma sintonia. Deste modo, encarnados que são adictos ativos atraem a companhia de espíritos de viciados que buscam nutrir as sensações do vício através da interação com os fluidos do encarnado quando o mesmo está consumindo a droga ou a substância que lhe gera a dependência, dificultando mais ainda a superação do vício. Em O Livro dos Espíritos na questão 479 lê-se que: “A prece é um meio eficaz de curar a obsessão?” “A prece é em poderoso socorro para tudo. Mas entendei bem que não basta murmurar algumas palavras para obter o que se deseja. Deus ajuda os que agem, não os que se limitam a pedir. É preciso, portanto, que o obsidiado faça a sua parte para destruir em si mesmo a causa que atrai os maus Espíritos.”, ou seja nos casos de obsessão de viciados é necessário que o adicto mude seu comportamento em primeiro lugar para que, apenas assim, consiga se livrar da obsessão espiritual.
Desta forma compreende-se que os vícios trazem prejuízos aos encarnados, aos desencarnados que o rodeiam, aos seus familiares, amigos e a todos que os querem bem, além de prejudicar o invólucro carnal e o períspirito do viciado fazendo com que a valiosa bênção da encarnação tenha seu objetivo fracassado pois o adicto perde a oportunidade de superar suas imperfeições e não consegue subir os degraus rumo à evolução espiritual. É preciso que toda a sociedade compreenda a necessidade de abolir todo e qualquer comportamento que incentive o vício e estenda a mão aos infelizes seres que não conseguiram resistir à ele, pois é esclarecido na questão 793 de O Livro dos Espíritos:”(...) só tereis o direito de considerar-vos civilizados quando tiverdes banido de vossa sociedade os vícios que a desonram, e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã.”.
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Referências bibliográficas:
1. Bíblia Online. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br>. Acessado em 08 de Janeiro de 2022.
2. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho. 43ª reimpressão. Capivari, SP: Editora EME, 2018.
3. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho.24ª reimpressão. Capivari, SP: Editora EME, 2019.
4. Vício - Definição. Disponível em: <https://saude.ccm.net/faq/526-vicio-definicao>. Acessado em 08 de Janeiro de 2022.
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