A Visão Espírita do Natimorto

Maria Thereza dos Santos Pereira
O natimorto é o ser vivo que não consegue vir ao mundo com vida, seja porque morreu no útero materno ou no trabalho de parto.
Para ser considerado natimorto, o feto deve ter pelo menos uma das características: vinte semanas de gestação ou mais; vinte e cinco centímetros ou mais; e pelo menos quinhentas gramas.
Muitos podem ser os motivos fisiológicos pelos quais o feto pode vir a falecer. Pela Doutrina, o feto pode ser um Espírito reencarnante que desistiu de sua prova ou foi afastado pela própria mãe. Também, a gestação frustrada pode constituir uma prova aos pais, não havendo necessariamente um espírito encaminhado a reencarnar naquele feto.
A primeira hipótese, acerca do espírito declinar de sua prova ou ser afastado pela mãe, é mais fácil de assimilar, pois a gestação e a expectativa do nascimento que um novo ser vivo, habitado por um espírito, é o comum. Todos acompanhamos gestações e presenciamos nascimentos periodicamente, entendendo que existe uma ligação que se forma entre corpo e alma.
Pensar no caso de natimorto é um pouco mais delicado. Isso porque, havendo pelo menos vinte semanas de gestação, mesmo que a mãe não queira receber o espírito como filho, minimamente já teve que se preparar para recebe-lo ante o tempo decorrido, sentindo muito sofrimento nessa fase e emanando esse sentimento ao feto, que pode se afastar, contraindo a mãe uma dívida por não receber seu filho com amor.
O Espírito, por sua vez, ao se aproximar da mãe, ainda que ela o deseje, pode se deparar com condições sociais, econômicas, familiares hostis e adversas, sofrendo e desistindo de suas provas antes mesmo da ligação entre o corpo e alma se tornar definitivo (com o nascimento). Consequentemente, o Espírito reencarnante faz a mãe sofrer pela sua decisão, já que ela estará se preparando para recebê-lo emocionalmente, o amando desde o ventre e sem desejar perdê-lo naquele momento, materialmente, comprando as roupinhas, as fraldas, etc.
Sobre a ligação que se estabelece entre corpo e alma e a possibilidade de desistência do Espírito para reencarnar, o Livro dos Espíritos (KARDEC, 2019) ensina:
344. Em que momento a alma se une ao corpo?
A união começa na concepção, mas só é completa por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até ao instante em que a criança vê a luz. O grito, que o recém-nascido solta, anuncia que ela se conta no número dos vivos e dos servos de Deus.
345. É definitiva a união do Espírito com o corpo desde o momento da concepção? Durante esta primeira fase, poderia o Espírito renunciar a habitar o corpo que lhe está destinado?
É definitiva a união, no sentido de que outro Espírito não poderia substituir o que está designado para aquele corpo. Mas, como os laços que ao corpo o prendem são ainda muito fracos, facilmente se rompem e podem romper-se por vontade do Espírito, se este recua diante da prova que escolheu. Em tal caso, porém, a criança não vinga.
Pelas lições acima transcritas, conclui-se que a partir da concepção, a alma começa a se unir ao corpo por um laço fluídico que vai ficando cada vez mais apertado, até o nascimento, quando diz-se que a união está completa e definitiva, tendo em vista que nenhum outro espírito poderia mais habitar aquele corpo. Mesmo que completa e definitiva, os laços que que unem o espírito ao corpo material são fracos e podem ser facilmente rompidos pela própria vontade do Espírito, hipótese em que a criança não vinga (CARVALHO, 2020).
Se isso é possível após o nascimento com vida, o que dirá antes deste evento, que os laços entre corpo e alma são mais sutis e incompletos? Muito mais fácil para o Espírito recuar diante das provas que escolheu ou ser afastado pela energia da materna que o repele, conforme exemplificado, tornando-se o feto em desenvolvimento natimorto.
Já com relação a hipótese de não haver um Espírito ligado ao feto, explica-se que na constituição de um homem encarnado, sempre haverá um Espírito ligado ao um corpo. Se o Espírito não está ligado a um corpo, não é um homem encarnado (é apenas um Espírito), como se existe um corpo não ligado a um Espírito, não é um homem encarnado (é apenas um conjunto de células animadas).
Assim, um conjunto organizado de células pode se formar no útero materno, mas não se constituirá um homem, porquanto isso é fisiologicamente possível através da união entre um óvulo e um espermatozoide.
Da mesma forma que uma gestante pode repelir o Espírito reencarnante em razão de gravidez indesejada, pelo desejo intenso de ser mãe, a mulher pode inconscientemente impregnar suas células reprodutivas com atração magnética para, c