A Criança, seus Direitos e a Espiritualidade

Helena Kolbe
Já se foi o tempo em que a criança não tinha voz ativa. Hoje, a ciência e a psicologia mostram a importância de se ouvir e de respeitar as crianças.
Quem nunca ouviu a frase “respeite os mais velhos” ou “apanhei e não morri”? Pois é, mas qual o significado da palavra respeito? A criança não merece ser respeitada? A criança tem que agradecer a violência que sofre? Se hoje em dia é inadmissível bater em um adulto, ou até em um animal, o que é crueldade, por que ainda se tolera bater em alguém que não tem nem como se defender? É violento, é cruel, é covardia!
A sociedade ainda aceita quem diga “eu não suporto criança” ou “criança birrenta, criança malcriada” sem se dar conta de que adulto é cheio de problema, justamente por tudo que sofreu na infância, não existe essa de “tornar forte”. Quando um adulto está triste, logo é acolhido, por que invalidam a dor de uma criança? “É bobagem, para de chorar por nada”. E, na fase adulta, falamos para expor sentimentos, pois faz mal guardar tristeza no coração. Como que vamos falar, expor nossas dores, se não aprendemos? Se a vida toda ouvimos para engolir o choro, para não “fazer birra na rua, pois incomoda o outro”?
Quando uma criança faz algo de errado, como derrubar suco na mesa, toma bronca, mas, se é um adulto, logo escuta um “ah, tudo bem, deixa que eu limpo.”.
Precisamos entender os motivos que levam uma criança a “fazer birra”, isso é um meio de chamar atenção, de pedir por limites. A criança prefere tomar uma bronca, que seria uma atenção negativa, a ser ignorada. E o próximo passo é a desistência. Ela desiste de ter atenção e carinho dos pais.
Criança que não é ouvida, que não é acolhida, cresce se achando um estorvo, sem amor-próprio, vira um adulto passível de abusadores, tanto no campo dos relacionamentos, quanto no campo profissional.
Se quisermos, realmente, adultos fortes e emocionalmente saudáveis, precisamos prestar mais atenção nos sentimentos dos nossos pequenos, validar, acolher, respeitar, ouvir, ter empatia com crianças e adolescentes.
Quem não se lembra da letra Era uma vez da Kell Smith: "É que a gente quer crescer; E quando cresce, quer voltar do início; Porque um joelho ralado ; Dói bem menos que um coração partido (SMITH, 2017).
E o que a doutrina nos fala? Que nós temos o véu do esquecimento para que possamos ter novas oportunidades de escolhas, de termos liberdade para tomar novas decisões. E como vamos fazer boas escolhas se não temos pais, familiares e sociedade amorosos e pacientes?
Lembrando que fazemos parte da grande família universal, sendo assim, irmãos, filhos do mesmo Pai, precisamos entender que nossos filhos são Espíritos individuais, mas que, por escolha, ou necessidade, formamos uma família onde os “Espíritos pais” têm a responsabilidade de ajudar na evolução dos “Espíritos filhos”, não só intelectual, mas moralmente. Deus nos colocou na posição de pai e mãe por algum motivo, logo, devemos cumprir essa tarefa da melhor maneira possível.
No livro Nos Domínios da Mediunidade, de André Luiz, psicografado por Chico Xavier, no último capítulo, há um trecho muito esclarecedor: “A paternidade e a maternidade, dignamente vividas no mundo, constituem sacerdócio dos mais altos para o Espírito reencarnado na Terra, pois através delas, a regeneração e o progresso se efetuam com segurança e clareza (...). A família física pode ser comparada a uma reunião de serviço espiritual no espaço e no tempo, cinzelando corações para a imortalidade” (XAVIER, 1991, s.p.)
O Consolador Prometido fala, ainda, em O Livro dos Espíritos, que a aparência física se dá, tão somente, pela matéria e não pelo Espírito, a proximidade se dá por afinidade, mas que os pais têm grande influência na vida dos pequenos, pois são responsáveis pelo progresso, caso contrário, serão culpados pelo fracasso dos filhos. Porém, óbvio, se o esforço não for correspondido, os pais podem ficar com a consciência tranquila (KARDEC, 2016, s.p.).
Criança precisa ser alimentada de amor, atenção, cuidados, limites, isso fortalece e acolhe o Espírito que está em desenvolvimento numa nova oportunidade de evoluir.
“Assim como uma criança fica agitada, inquieta e nervosa quando está com fome de alimentos (hipoglicêmica), da mesma forma estes sintomas se manifestam quando ela está com fome de amor
(...). O estômago emocional precisa estar cheio” (BEUST, s.d., s.p.)
E para encerrar, mais um trechinho da música:
"Bastava um colo, um carinho; E o remédio era beijo e proteção; Tudo voltava a ser novo no outro dia; Sem muita preocupação (SMITH, 2017)
Sejamos para as crianças, os adultos que queríamos ter tido. Doemos mais cuidado, mais carinho, mais paciência, mais atenção, mais momentos felizes...
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REFERÊNCIAS:
BEUST, Luis Henrique. Educar por inteiro, os alicerces da educação na infância: corpo, mente e alma – vol 1. 2ª edição. São Paulo – Editora Anima Mundi.
BOM ESPÍRITO. Crianças na visão Espírita. Disponível em: https://navisaoespirita.blogspot.com/2009/10/as-criancas-e-o-espiritismo.html#:~:text=O%20Espiritismo%2C%20diferente%20das%20religi%C3%B5es%20crist%C3%A3s%20tradicionais%2C%20compreende,um%20esp%C3%ADrito%20que%20j%C3%A1%20viveu%20in%C3%BAmeras%20exist%C3%AAncias%20. Acesso em: 01 de setembro de 2022.
ESTADO DE RIO GRANDE DO SUL. ECA e LDB, duas pontes a favor do direito à Educaçao. Disponível em: http://www.al.rs.gov.br/FileRepository/repdcp_m505/ccdh/ECA-LDB.pdf. Acesso em 01 de setembro de 2022.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93ª edição. Brasília - Editora FEB.2016.
SMITH, Kell. Era uma vez. Disponível em: https://www.letras.mus.br/kell-smith/era-uma-vez/#:~:text=Porque%20um%20joelho%20ralado%20D%C3%B3i%20bem%20menos%20que,crescer%20E%20quando%20cresce%2C%20quer%20voltar%20do%20in%C3%ADcio. Acesso em: 01 de setembro de 2022.
XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. 19ª edição. Rio de Janeiro – Editora FEB.1991
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