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Tópicos

Espiritismo e Umbanda



Jackelline Furuuti

Você já deve ter notado em alguns textos, reuniões ou livros espíritas, a presença de espíritos que identificam-se como “Pretos Velhos”, “Caboclos”, “Exús”, “Pombagiras”, entre outras denominações mais comuns na Umbanda. Esse fato causa certos questionamentos nos Espíritas e, este artigo vem humildemente, trazer um breve estudo das similaridades e diferenças entre o Espiritismo e a Umbanda para que você possa entender O QUE LIGA uma à outra.


Claro, não há a menor pretensão de impor tais informações como verdades absolutas, mas sim, aproveitar a oportunidade e compartilhar informações encontradas sobre este assunto em livros, sites e, PRINCIPALMENTE, VIVÊNCIAS em ambos os campos doutrinários, para que você possa ter uma base interessante sobre o assunto e buscar entender cada vez mais sobre o tema.


Mas será que existe alguma ligação entre Espiritismo e Umbanda?


A resposta é SIM!


Para respondermos esta pergunta de forma mais profunda, precisaremos voltar um pouco no tempo...


No ano de 1908, um jovem chamado Zélio Fernandino de Morais passou a apresentar “sintomas” estranhos. Ele assumia uma postura arqueada, com caminhar e fala lentos como uma pessoa idosa ou de maneiras diferentes do que era comum à sua personalidade. Foi levado ao médico e sem sucesso no diagnóstico, a recomendação feita foi a de que Zélio fosse levado a um padre, pois descartada a hipótese de distúrbio psiquiátrico, a suspeita era de que tratava-se de possessão. O exorcismo tampouco surtiu efeito, então seus pais o levaram em uma senhora curandeira que, com a mediunidade de incorporação, incorporou um Preto Velho, que orientou o jovem e a família, que estes fenômenos se tratavam de mediunidade.


O pai do jovem já tinha conhecimento básico da doutrina e o levou à Federação Espírita de Niterói. A convite do dirigente da Instituição, Zélio se sentou à mesa em que ocorreria a reunião mediúnica.


Quebrando o “protocolo”, Zélio levantou-se e disse que faltava uma flor na mesa e foi buscar. Em meio a este ato “novo”, houve uma movimentação diferenciada, e Zélio incorporou um Caboclo enquanto, simultaneamente, os médiuns da mesa, começaram a incorporar espíritos de Caboclos e Pretos Velhos, ao que prontamente o dirigente da sessão fez advertência.

Foi quando indagou o espírito do Caboclo que se manifestou em Zélio:


"Por que repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Será por causa de suas origens sociais e da cor?”


Havia um médium vidente na mesa que, inquieto, questionou o que via. Sua mediunidade mostrava a ele um espírito iluminado de um Jesuíta e isso lhe causava estranheza, pois, por que um espírito de tanta luz se manifestaria com vocabulário tão “deficiente”? Queria saber qual o nome seria dado e assim perguntou sendo prontamente respondido:


“Se julgam atrasados esses espíritos dos negros e dos índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho para dar início a um culto em que esses negros e esses índios poderão dar a sua mensagem e assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.


O que você vê em mim são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como Caboclo brasileiro. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim”.


Muitas dúvidas foram esclarecidas e, dentre elas, como essa nova religião se propagaria, e como ela seria. Ao que ele também respondeu:


“Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei.”


E na noite seguinte, pontualmente às 20h, quando já estavam presentes na reunião membros da Federação Espírita, amigos e familiares, o Espírito do Caboclo se manifestou e disse:


“Aqui se inicia um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A PRÁTICA DA CARIDADE no sentido do amor fraterno será a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo.


Assim como Maria acolhe em seus braços o filho, a tenda acolherá aos que a ela recorrerem às horas de aflição; todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai”.


Após esta data a Umbanda foi amplamente disseminada.


QUAL A ORIGEM DA PALAVRA “UMBANDA”?


Estudos mais aprofundados apontam a origem do nome “Umbanda”:


"Umbanda" ou "embanda" são oriundas da língua quimbunda de Angola, significando "magia", "arte de curar". Há também a suposição de uma origem em um mantra na língua adâmica, cujo significado seria "conjunto das leis divinas" ou "Deus ao nosso lado".


Também era conhecida a palavra "mbanda" significando “a arte de curar” ou “o culto pelo qual o sacerdote curava”, sendo que "mbanda" quer dizer “o Além, onde moram os espíritos”.


Após o Congresso de 1941, declarou-se que "umbanda" vinha das palavras do sânscrito aum e bhanda, termos que foram traduzidos como "o limite no ilimitado", "Princípio divino, luz radiante, a fonte da vida eterna, evolução constante" (WIKIPEDIA).


Como se pode notar, embora a anunciação desta religião seja relativamente recente, sua origem pode ser considerada muito antiga.


A Umbanda é UNIVERSALISTA, portanto, possui diversas ramificações como as católicas, indígenas, orientais, africanas e ESPÍRITAS, trazendo o acolhimento para quem a buscar, por meio da familiarização de crenças e acolhendo o que cada religião tem para contribuir com a evolução espiritual e moral da humanidade.


Agora que já sabemos um pouco mais sobre a Umbanda, podemos continuar nossas “comparações” e entender porque os terreiros utilizavam o termo “Espírita” em seus nomes, porque foi em uma sessão Espírita que ela foi anunciada em maiores proporções.


Hoje ainda existem terreiros que adotam este termo, porém, o correto seria, por exemplo: Tenda Espiritualista (ou de Umbanda) Caboclo Pena Branca ao invés de Centro Espírita Caboclo Pena Branca. Compreendamos que estas são adequações que gradativamente ocorrerão, no ritmo que a espiritualidade entender que deve seguir.


Apesar de ter sido anunciada em uma sessão Espírita, a Umbanda possui muitas DIFERENÇAS do Espiritismo.


Vejamos algumas DIFERENÇAS:


A UMBANDA:


-Tem culto ritualístico


RITUAL: conjunto de gestos, palavras e FORMALIDADES, geralmente imbuídos de um valor simbólico, cujo desempenho é, USUALMENTE, prescrito e codificado por uma religião ou pelas tradições da comunidade.


O Espiritismo não possui ritual, mas a organização diária do Evangelho no lar, em horário sempre igual, com início e fim com preces específicas, não deixa de ser um ritual, uma organização de atos. Iniciar e finalizar um passe ou uma palestra com uma prece, também não deixa de ser uma espécie de rito.


-A Umbanda tem liturgia própria;


-Possui organização hierárquica;


-Na maioria dos terreiros, vestem-se de branco e trabalham de pés descalços, alguns trabalham calçados, em outros, trabalham vestidos com cores representando as respectivas linhas de trabalho;


-Pode trabalhar com imagens;


-Serve-se dos mecanismos da mediunidade podendo utilizar como ferramentas de trabalho objetos como: talismãs, amuletos, patuás, guias, velas, alimentos e elementos da natureza;


O Espiritismo não trabalha com sacralização de objetos, mas o processo de fluidificação da água muito se assemelha ao ato dos umbandistas consagrarem seus banhos, objetos, alimentos e chás.


-Tem uso de grafias sagradas (ponto riscado);


-Tem orações em forma de músicas (pontos cantados);


-Pode aliar ou não aos pontos cantados, o uso de instrumentos musicais como, por exemplo: berimbau, agogô, atabaque (uso mais comum), pandeiro entre outros;


-Trabalha com defumação de espaço e aura dos consulentes;


-Emprega vocabulário adaptado para diversas solenidades, atos, cerimoniais, sacralização, benzimentos, ritos, objetos e a tudo que se relaciona a seu culto.


A Umbanda, diferentemente do Espiritismo, não possui uma codificação. Por ser universalista, em alguns terreiros (templo, casa ou centro), a base mais forte pode ser a Espírita, em outros, pode ser a base africana, alguns terreiros (menos comum), sequer são Cristãos.


QUAIS SÃO ENTÃO, AS SEMELHANÇAS ENTRE O ESPIRITISMO E A UMBANDA?


Deixemos claro que o umbandista PODE ser Espírita ou NÃO, mas TODAS as vertentes da Umbanda são ESPIRITUALISTAS, ou seja, acreditam na vida fora da matéria.


Trataremos com maior ênfase nas semelhanças do Espiritismo com a Umbanda que se baseia nos princípios Cristãos que é a mais comum entre os adeptos desta religião, mas informar-se a respeito das outras vertentes é extremamente recomendável, pois o saber nunca é demais e contribui para a extinção da intolerância.


SEMELHANÇAS ENTRE O ESPIRITISMO E A UMBANDA:


-Crença na imortalidade da alma e reencarnação;


-São Monoteístas. A Umbanda também acredita em um Deus supremo. Diferente do que muitos pensam, os Orixás na Umbanda são considerados os Engenheiros Astrais, as forças das emanações de Deus na Terra através da natureza;


-Trabalha com a manifestação de fenômenos espirituais e extrafísicos;


-Realiza o desenvolvimento das faculdades mediúnicas;


-Acredita na Lei de Causa e Efeito;


-Ensinamentos através de Espíritos de consciências mais elevadas que a nossa;


-Doutrinação de almas e espíritos sofridos, obcecados, revoltados, desorientados, atrasados, estacionados, adormecidos, perturbados, viciados.


-Cura através de passes espirituais e/ou magnéticos;


-Doação e manipulação de ectoplasma;


-Uso de água fluidificada;


-Estudo de amplo alcance religioso, físico, filosófico, psicológico e doutrinário por diversos meios como: livros, internet, vídeos, palestras, ensinamentos através da mediunidade, vivências interpessoais e “interespirituais” em desdobramentos, o que ocorre quando a alma se emancipa e, livre do peso da matéria corpórea, interage naturalmente com o plano espiritual.

-Reforma íntima;


-Não cobram pelas sessões, passes, atendimentos e trabalhos de qualquer natureza;


-Respeita a Lei do Livre Arbítrio, logo, amarrações, aconselhamentos ou qualquer trabalho que venha a prejudicar quem quer que seja, infringe a Lei Divina e foge dos princípios da Umbanda e também do Espiritismo. Existe uma frase muito famosa de um Caboclo no meio umbandista que diz: “A Umbanda não é responsável pelos absurdos praticados em seu nome, assim como Jesus Cristo não é responsável pelos absurdos que foram e que são praticados em seu nome e em nome de seu Evangelho”


-NÃO REALIZA O SACRIFÍCIO ANIMAL (os templos que possuem raízes africanas mais fortes, sem ligação cristã, podem ou não realizar o sacrifício). Sobre este assunto, o LIVRO DOS ESPIRITOS DE ALLAN KARDEC, NOS ORIENTA DA QUESTÃO 669 À QUESTÃO 673.


Importante esclarecer que os espíritos que se manifestam na Umbanda, utilizam-se de ARQUÉTIPOS populares e organizam-se em LINHAS que trabalham em áreas edificantes de diversas formas. A ESPIRITUALIDADE É UMA SÓ e de inteligência ilimitada, usufruindo de didática fantástica para que a mensagem de Deus tenha alcance em todos os níveis de consciência. Por isso, um espírito evoluído pode escolher trabalhar com o arquétipo de um Preto Velho, por exemplo. Para trazer ensinamentos de maneira simples e eficaz, com a rica oportunidade de utilizar de suas experiências nestas encarnações humildes e muitas vezes sofridas, grandes lições de superação, crescimento moral e espiritual.


Em verdade, os espíritos que trabalham na Umbanda, assim como os que trabalham no Espiritismo (muitos espíritos atuam nos dois), não precisam de nenhum item material, quem precisa SOMOS NÓS, mas eles respeitam nossas necessidades. Se eles percebem que precisamos de uma vela para nos conectar com a espiritualidade, eles usarão a vela, se eles percebem que precisamos ter conosco um objeto magnetizado pelo poder do pensamento, eles irão manipular sim, amuletos e talismãs com seus fluídos que a Física Quântica vem nos esclarecendo a sua potencialidade para que todo e qualquer instrumento contribua com auxílio do necessitado. Dizer que não precisamos mais de nada ainda é uma ilusão. Todos nós, uns mais outros menos, ainda somos apegados à matéria. Um exemplo bem simples são as fotografias que utilizamos para matar a saudade e rememorar pessoas ou acontecimentos. São meios facilitadores de conexão. Ainda são importantes pra gente.


Em resumo, a grande e mais bonita SEMELHANÇA que estes dois divinos ELOS com Deus possuem é a PRÁTICA DO BEM E DA CARIDADE!


Nós, enquanto médiuns, podemos contribuir com a evolução uns dos outros, seja em qual religião for, com amor e atitudes verdadeiras.


Devemos em qualquer situação, RESPEITAR AS DIFERENÇAS e nos APEGAR às semelhanças, confiando nos desígnios da misericórdia e justiça divina para o que sair dos propósitos de Deus.


TODA RELIGIÃO É IMPORTANTE, em todas elas existem espíritos de todas as ordens, todos possuem utilidades importantes para o progresso e nenhuma porta que se abre em nome do amor deve ser desprezada.


Cabe a cada um de nós em nossas crenças, seguir a mais sublime e poderosa LEI:


Amarmos uns aos outros como a nós mesmos e termos sempre as portas abertas a todos os nossos irmãos, ainda que ele seja ateu, pois em tudo e em cada um de nós, sem exceção, está Deus.


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Fontes e referências:


Curso gratuito de Iniciantes da Umbanda - Casa D.E.U.S. anos 2015 e 2018, presidido pela médium dirigente Sônia Cadenazzi e Tacilla Cadenazzi;

Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Umbanda#cite_note-FOOTNOTEBARBOSA_JR.201418-21)

O Livro dos Espíritos de Allan Kardec – FEB;

A Bíblia Sagrada;

Ensinamentos de diversos espíritos trabalhadores da Umbanda por manifestação mediúnica de incorporação.


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