Espiritismo e Ciência
Graziele Cruzado
É fato que a religião institucionalizada sempre renunciou à evolução científica, e temos nomes que são claros exemplos disso como Copérnico, Galileu, Darwin, entre diversos outros.
Essa renúncia se dava em razão da crença limitada de que as teorias científicas eram incompatíveis com os relatos bíblicos. O exemplo mais lúdico seria a teoria evolutiva de Darwin, renegada pela Igreja porque a sua ideia de evolução das espécies ao longo do tempo seria, supostamente, contrária à criação.
A crença espírita, por outro lado, é impossibilitada de ignorar provas científicas em prol de uma ideia, isso porque sua base define exatamente isso. Kardec mesmo já deixou muito claro que em caso de a ciência provar o erro de alguma ideia espírita, devemos escolher ficar com a ciência 1.
A investigação e consequente desenvolvimento da Doutrina Espírita teve, como sabemos, sua base em observações de fenômenos 2.
Essas observações foram realizadas por Kardec e colaboradores, que buscaram manter certo rigor científico, a fim de não “contaminar” as provas mediúnicas obtidas.
Não obstante, até os dias atuais a discussão de se o espiritismo é ou não ciência é contraditória. A dificuldade se encontra no fato de que na ciência, é impossível definir a existência, ou não existência de algo. O que podemos, é avaliar fenômenos e suas relações com outros fenômenos, que sim, é exatamente o que Kardec se propôs a fazer, observando as mesas girantes, por exemplo (Essa é a razão pela qual, se o espiritismo negasse a ciência, estaria negando a si próprio).
O que sustenta a teoria, nesse caso, é a observação rigorosa de fenômenos, e o estudo constante das descobertas recentes. Por isso, não devemos nunca apenas aceitar algo como certo, coisa que o próprio fundador da doutrina não fez; É necessário mantermo-nos atualizados, e assim buscar respostas, pensando na filosofia espírita como algo não 100% pronto e definitivo, mas sim algo de que não temos, ainda, conhecimento completo e precisamos desenvolver dentro de nós e também para o mundo.
A resposta de se espiritismo é ou não ciência é complicada. A verdade é que espiritismo é ciência no que concerne a ser gerada a partir de observações técnico-científicas, e de aceitar questionamentos. O objetivo nunca foi ser fundamentalista, ou ser uma ciência pura e sozinha, mas sim uma conjunção de conhecimentos, que juntos nos levam a uma evolução tanto do entendimento do ser humano como criatura espiritual, quanto evolução instrutiva para entender os fenômenos espirituais à nossa volta.
A verdadeira fé enfrenta a razão e os fatos, buscando entender como as coisas se relacionam, ao invés de temer apenas estar errado em suas conjecturas. Podemos estar errados em alguns pontos, e podemos descobrir novas verdades, e temos que aceitar e estar abertos a isso, para que não nos percamos em verdades absolutas que não existem.
Toda a construção da doutrina é baseada na observação cuidadosa, e essa observação deve continuar, assim como o desenvolvimento da filosofia em si, para que não nos percamos no tempo. Para isso, meu conselho aos irmãos espíritas é, e sempre o será, que não temam a ciência, ou as novas descobertas, porque foi da ciência e de novas descobertas que a luz do espiritismo nos encontrou. Se hoje não entendemos porque algo funciona, como funciona, ou acontece de determinadas maneiras, e se isso parece contrariar tudo, não nos desesperemos, pois tudo vem a seu momento e a verdadeira fé aceita ser confrontada.
REFERÊNCIAS: 1 "Robson Pinheiro, escritor: “Kardec diz que, se um dia a ciência ...." 6 ago.. 2009, https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/tubo-de-ensaio/robson-pinheiro-escritor-kardec-diz-que-se-um-dia-a-ciencia-provar-que-o-espiritismo-esta-errado-devemos-ficar-com-a-ciencia/. Acessado em 27.mar. 2021.
2 "As Mesas Girantes - Portal do Espírito." 30 jun.. 2015, https://espirito.org.br/artigos/as-mesas-girantes-3/. Acessado em 27 mar.. 2021.
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