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Lembrando de Vidas Passadas



Priscila Gonçalves


Aquele que adentra a Doutrina dos Espíritos, em algum momento durante sua jornada, normalmente no início dela se faz uma pergunta: será que eu consigo saber quem eu fui em outra vida?


É natural essa curiosidade, uma vez que este é um sentimento inerente ao ser humano, sempre buscando respostas e explicações sobre as questões existenciais e do universo, tentando explorar outras experiências, espécies, habitats. Às vezes alguns buscam as chamadas terapias de regressão, conduzidas por terapeutas e profissionais da área da psicologia devidamente especializados neste assunto, já que se trata de uma questão muito delicada ao explorar a mente do indivíduo. Nunca se sabe o que se pode encontrar e, neste ambiente, em condições pouco favoráveis, um trauma pode ser engatilhado, causando catástrofes inimagináveis.


Kardec, no momento da codificação do pentateuco, questionou à Espiritualidade acerca das lembranças de vidas passadas. Presente em O Livro dos Espíritos, vejamos:


392. Por que perde o Espírito encarnado a lembrança do seu passado? Não pode o homem, nem deve, saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro. Esquecido de seu passado, ele é mais ele mesmo. (KARDEC, 2009. p. 144).


Sabiamente, nos é esclarecido que o véu do esquecimento (leia mais sobre esse tema clicando aqui) auxilia a sustentar nossa sanidade mental e nos possibilita, assim, o progresso. Imaginem agora a seguinte a situação: um indivíduo inserido em uma família que tem lá seus desacertos, lembra que, em determinado momento, seu pai tirou a sua vida e de todos os familiares de forma brutal. A pessoa então, muito provavelmente, sem o devido esclarecimento, passará a nutrir sentimentos nem um pouco saudáveis pelo pai, vendo-o como um grande inimigo que a qualquer instante pode agir da mesma maneira, e ele, então, resolve tirar a vida do pai, antes que ele repita a crueldade praticada séculos antes.


Conseguem, queridos leitores, imaginar o quão trágico seria se isto acontecesse? Conseguem entender que este véu que, por amor, Deus nos concedeu, nos dá uma nova oportunidade para refazer laços, reparar erros cometidos contra nós próprios e contra outrem?


Temos, a cada vida que entramos, uma nova oportunidade de nos aprimorar e dar ouvidos à nossa intuição, que, claramente, são nossos amigos espirituais disponíveis para nos auxiliar em nosso caminho.

393. Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas de que se não lembra? Como pode aproveitar da experiência de vidas de que se esqueceu? Concebe-se que as tribulações da existência lhe servissem de lição, se recordasse do que as tenha podido ocasionar. Desde que, porém, disso não se recorda, cada existência é, para ele, como se fosse a primeira e eis que então está sempre a recomeçar. Como conciliar isto com a justiça de Deus? Em cada nova existência, o homem dispõe de mais inteligência e melhor pode distinguir o bem do mal. Onde o seu mérito se se lembrasse de todo o passado? Quando o Espírito volta à vida primitiva (a vida espírita), diante dos olhos se lhe estende toda a sua vida pretérita. Vê as faltas que cometeu e que deram causa ao seu sofrer, assim como de que modo as teria evitado. Reconhece justa a situação em que se acha e busca então uma existência capaz de reparar a que vem de transcorrer. Escolhe provas análogas às de que não soube aproveitar, ou as lutas que considere apropriadas ao seu adiantamento e pede a Espíritos que lhe são superiores que o ajudem na nova empresa que sobre si toma, ciente de que o Espírito que lhe for dado por guia nessa outra existência se esforçará pelo levar a reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das em que incorreu. Tendes essa intuição no pensamento, no desejo criminoso que frequentemente vos assalta e a que instintivamente resistis, atribuindo, as mais das vezes, essa resistência aos princípios que recebestes de vossos pais, quando é a voz da consciência que vos fala. Essa voz, que é a lembrança do passado, vos adverte para não recairdes nas faltas de que já vos fizestes culpados. Na nova existência, se sofre com coragem aquelas provas e resiste, o Espírito se eleva e ascende na hierarquia dos Espíritos, ao voltar para o meio deles. (KARDEC, 2009. p. 144).


Não temos, via de regra, a lembrança do que houve (a não ser em raríssimos casos, e quanto ocorrem ou quando são reveladas, é algo natural e de acordo com o merecimento de cada um), mas dispomos do planejamento reencarnatório, assunto este que consideramos primordial para o bom entendimento do homem acerca de sua existência, podendo, assim, compreender onde e com quem temos faltas a sanar. Neste processo, que ocorre junto à Espiritualidade Superior na preparação para nossa existência, somos orientados amorosamente por nossos amigos, e em especial, por aquele Espírito amigo que é designado para nos acompanhar na jornada a partir da nossa chegada a este mundo, nosso mentor espiritual (ou anjo guardião). Sabemos, e podemos, dependendo de nosso grau evolutivo, escolher por quais principais provas vamos passar, em qual família vamos nos inserir e, com o passar dos anos e gradualmente adquirindo mais inteligência, o que necessitamos mudar.


É um trabalho um tanto quanto árduo, uma vez que temos que ultrapassar os limites que nosso ego nos impõe, e até mesmo traços de personalidade que nos fazem acreditar que somos mais especiais que outros, que derivam de puro orgulho e excesso de amor próprio mal trabalhado. Mas, mais uma vez, dando ouvido às intuições, observando os cenários a que somos submetidos, observando as pessoas que entram em nossas vidas, permanecendo por longo tempo ou não, e também nossos padrões de comportamento, pensamentos, emoções e sentimentos, temos uma noção de que tipo é nossa personalidade e, com isso, não necessariamente descobrimos quem fomos, mas podemos ter uma noção de como nos comportamos no passado.


Há alguns relatos de casos sobre pessoas foram submetidas a sessões de terapia de regressão para auxiliar no tratamento de fobias graves, que interferiam em demasia em sua qualidade de vida. Com ressalvas, um bom aconselhamento, e muito estudo e entendimento, acreditamos que pode ser de uma utilidade superior, para o auxílio em uma enfermidade mais séria, quando o caso. No geral, é desaconselhável, principalmente quando se trata de uma mera curiosidade. Este cenário não é nem um pouco saudável para o indivíduo e, como dito anteriormente, pode ser catastrófico.


O que podemos fazer é confiar na Providência, confiar em nossos amigos espirituais e em nós mesmos, e na nossa capacidade de transmutar, na medida em que somos capazes, os maus sentimentos, pensamentos, emoções e traços em bons, e refletir isto para a humanidade, reparando nossas faltas.

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REFERÊNCIAS

CARVALHO, Evelyn Freire de. A Imortalidade da Alma. 1ª. ed. Campos dos Goytacazes: Letra Espírita, 2020.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capivari: EME, 2020.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 182. ed. [S. l.: s. n.], 2009.

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