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Reconciliação com os Adversários na Visão Espírita


Rafaela Paes de Campos


A prática efetiva do perdão é uma das tarefas mais difíceis do Espírito encarnado, eis que diante do véu do esquecimento, há a cegueira dos muitos porquês que transformam relações complicadas em verdadeiras pedras nos sapatos durante a caminhada pela vida na Terra.


O estudo das realidades espirituais já nos ensinou que há na vida de todos nós a existência de relações antipáticas, pessoas com as quais necessitamos conviver a fim de aparar as arestas de problemas pretéritos que carregamos em nossa bagagem entre as sucessivas vidas.


Eis a primeira lição: na imensa maioria das vezes essas antipatias nasceram, sim, no pretérito, em vidas das quais não nos recordamos, mas que instintivamente nos faz gostar ou não de alguém. É bastante comum que por vezes a gente diga: “Meu santo não bate com o de tal pessoa”. São as latentes lembranças que nos dão uma espécie de alerta para o “perigo".


Sabemos também que hoje somos a melhor versão do que já fomos um dia, haja vista que a lei é a do progresso, ou seja, o Espírito não retroage na escala evolutiva, podendo apenas permanecer estagnado. Basta que raciocinemos para compreender tais antipatias pois, se hoje ainda é muito difícil para nós conviver com as diferenças e estabelecer relações plenamente saudáveis, imaginemos como já foi mais difícil ainda, quando nossa evolução era ainda mais inferior.


Assim sendo, diante dessas situações que vivenciamos na atualidade, é preciso que entendamos que não há acasos. Se as pontas soltas precisam ser juntadas para que assim sigamos crescendo, tais relações se mostram em nossas vidas como meio de exercitar o que se faz necessário para a subida desses degraus.


O Evangelho Segundo Espiritismo nos ensina no Capítulo X “Bem-aventurados os que são misericordiosos”, no item Reconciliar-se com seus adversários:

“Na prática do perdão – e na do bem em geral -, mais do que um efeito moral, há também um efeito material. A morte, já se sabe, não nos livra de nossos inimigos; os Espíritos vingativos muitas vezes perseguem além do túmulo, através de seu ódio, aqueles contra quem conservaram o rancor. Por isso, o provérbio que diz: “Morto cão, morto o veneno” é falso quando aplicado ao homem. O Espírito um espera que aquele a quem quer o mal esteja preso a seu corpo, para que, estando este menos livre, possa atormentá-lo mais facilmente, e atingi-lo em seus interesses ou em seus afetos mais caros. É preciso enxergar nesse fato a causa da maior parte dos casos de obsessão, sobretudo daqueles que apresentam uma certa gravidade, como a subjugação e a possessão. O obsidiado e o possesso são, portanto, quase sempre vítimas de uma vingança anterior, à qual provavelmente deram espaço devido à sua conduta” (KARDEC, 2019, p. 108).


Temos plena consciência de que não há ação sem uma reação correspondente, sendo esta a justiça de Deus de forma material, eis que dá a cada um segundo das suas obras, nunca mais, nunca menos, mas na medida exata daquilo que se fez um dia. Se houve momentos em que erramos, ou que erraram conosco, situações ocorrerão nesta vida para que resolvamos tais problemas, ou ao menos tentemos.


E a questão vai muito além dos convívios antipáticos, entrando na senda dos processos de obsessão, eis que aquele que se julga prejudicado, ao desencarnar, pode buscar na vingança o meio para se sentir satisfeito, o que claramente não ocorre, mas que dá início a processos muito tristes e complicados tanto para o Espírito quando para o encarnado. Eis a importância de aparar arestas e corrigir erros o quanto antes.


É claro que é bastante difícil, já que somos propensos a nos afastar de forma instintiva daquilo que nos tira a paz, mas é preciso que entendamos que enquanto uma lição não for aprendida, ela se repetirá até que a solução para ela seja aprendida. E justamente o meio do qual dispomos para ultrapassar tais antipatias reside no complicado exercício do perdão, que se torna ainda mais doloroso quando a antipatia extrapola o mero aborrecimento.


Segue O Evangelho Segundo o Espiritismo lecionando que:


“Do ponto de vista de sua tranquilidade futura, importa, pois, reparar o mais depressa possível os erros que se cometeu para com seu próximo, e perdoar a seus inimigos, a fim de extinguir, antes de morrer, todo motivo de dissensões, toda causa fundada de animosidade ulterior. Por esse meio, de um inimigo encarnado neste mundo, pode-se fazer um amigo no outro; ao menos, fica-se do lado do justo direito, e Deus não deixa o que perdoou servir de alvo à vingança. Quando Jesus recomenda que se reconcilie o mais cedo possível com seu adversário, não é apenas para apaziguar as discórdias durante a existência atual, mas para evitar que elas se perpetuem nas existências futuras. Não sairá dela, diz ele, até que tenhas pago o último ceitil, quer dizer, satisfeito completamente a justiça de Deus” (KARDEC, 2019, p. 109).


É no perdão que encontramos o bálsamo para lidar com tais situações, pois aquele que perdoa paga o seu débito e, se a vingança morar no coração do outro, este é débito que não se transfere a quem agiu conforme as regras que regem as encarnações. Lembre-se sempre: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus, cap. V, v. 7).


Por mais complicado que pareça, a recompensa vem de forma grandiosa ao que age com misericórdia e segue a via da evolução, entendendo que não há acasos e que, mesmo em relações complicadas, há grandes lições a serem aprendidas. Àquele que te faz mal, o perdão, o que não necessariamente significa precisar conviver, eis que há situações que nos colocam em situação de perigo e não devem ser alvo de insistência, já que a fé precisa ser racionada e não cega. Perdoar é deixar ir, tirar a mágoa de dentro de si e permitir que o outro caminhe com seus erros e acertos. Se disso há possibilidade de convívio, que assim seja! Se não, deixe ir com a certeza de que a sua parte foi feita!

REFERÊNCIA


KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução e redação final de Matheus Rodrigues de Camargo. 43ª Reimpressão. Capivari-SP. Editora EME. 2019.

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