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Sonhos: uma porta para o Mundo Espiritual

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Alan Lira


No fim da década de 1990 e início da década dos anos 2000, eu costumava ir frequentemente às bancas de jornal em busca de leituras que pudessem me atualizar acerca dos acontecimentos da semana, bem como em busca de entretenimento com revistinhas de palavras cruzadas, revistinhas de música, cinema e quadrinhos. Na diversidade de conteúdos reunidos nas prateleiras, uma publicação que sempre se destacava era o livro de significado de sonhos. Naqueles livros, pois eram de diversos autores, tinham uma lista, em ordem alfabética, de fatos que iam de objetos inanimados a animais, de situações do cotidiano a alimentos, uma miscelânea de conteúdo que, além de sugerir a explicação do motivo do sonho, trazia números ou cores que compreendessem a nossa sorte naquele dia.

 

A popularidade de vendas daquele tipo de conteúdo reflete o fascínio causado pelos sonhos e a forma de lidarmos com eles. Sejam com aspecto revelador ou de fantasia, apenas uma lembrança de algo ou de alguém, ou sem nenhum sentido, certamente os sonhos causam sensações que nos fazem refletir um pouco acerca deles.

 

O interesse em pesquisar esse tema vem bem antes da popularização de revistinhas em bancas de jornal. Caverna (2024, on-line) apresenta resumidamente as perspectivas de quatro filósofos que também abordaram o sonho como questões filosóficas. Primeiramente perspectiva de Platão ao afirmar que “os sonhos poderiam ser um meio de acessar uma realidade mais profunda, uma espécie de reflexo das ideias perfeitas que habitam o mundo das ideias”, em seguida a perspectiva de Aristóteles que entendia o sonho como “simplesmente uma continuação do que acontece enquanto estamos acordados, como se fosse uma forma de processar o que a gente viveu e sentiu durante o dia”, por terceiro o francês René Descartes questionando “como posso saber que agora, neste exato momento, eu não estou apenas sonhando?”, e por último os princípios de Carl Jung afirmando que “acreditava que os sonhos eram uma forma do inconsciente se comunicar com o consciente, mostrando aspectos da nossa personalidade e desejos escondidos.”

 

No que concerne a interpretação de sonhos, Freud, em 1900, lança o livro intitulado A interpretação de sonhos, e que, segundo Morettini, “Freud nos diz que o sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente [...]. Para Freud, o sonho é um desejo reprimido que está em latência no inconsciente. Nem sempre o sonho é o que parece, e interpretá-lo não é uma tarefa tão simples. O sonho é repleto de símbolos que se tratam de manifestações distorcidas da realidade” (MORETTINI, 2025, on-line).

 

Além da importância apresentada por todos esses filósofos, a temática onírica é vivenciada em alguns textos bíblicos. Naqueles textos, Deus utiliza os sonhos como uma forma de se comunicar com Seu povo. No Antigo Testamento, dentre tantas passagens, destacamos quando Deus se dirige, descendo de uma coluna de nuvem, a Arão e Miriã dizendo: “Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele” (NÚMEROS 12:6).  No Novo Testamento, destacamos a passagem do Evangelho de Mateus 1:20, onde José, pai terreno de Jesus, recebe em sonho um Anjo que o orienta a não temer Maria como esposa por estar nela o filho gerado pelo Espírito Santo.

 

Pertinentemente congregado à filosofia e ao cristianismo, a Doutrina Espírita também dedica importante espaço destinado às orientações de como o sonho permeia nossa existência.

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Lançado em 1861, O Livro dos Médiuns traz algumas elucidações acerca da temática dos sonhos. Naquele momento, Kardec (2023, p. 104) informa que a ciência não tinha subsídios para a explicação dos sonhos, que eram atribuídos a efeitos da imaginação, porém sequer explicavam o que seria a imaginação e, consequentemente, não explicara o que seriam os sonhos. Tatsch, em 2024, ou seja, 163 anos após o lançamento de O Livro dos Médiuns, apresenta em um artigo algumas considerações pertinentes aos sonhos, a partir de hipóteses lançadas pela renomada revista Science. Duas das hipóteses apresentadas afirmam que “o sonho seja fruto de uma organização das informações que a gente vivencia no cérebro”. [...] Outra hipótese é a da consolidação da memória. Durante o sonho, essas informações seriam guardadas em gavetas para que, no momento oportuno, possam ser usadas (TATSCH, 2024, on-line).

 

Ocorre que a Doutrina Espírita, subsidiada a partir dos escritos de Kardec, consegue atribuir fundamentos que explicam a experiência onírica que todos já experimentamos em alguma fase da vida. No capítulo 8 de O Livro dos Espíritos, em que se vislumbra os ensinamentos acerca da emancipação da alma, o tema sobre o sonho recebe uma dedicação específica.

 

Inicialmente, a partir da abrangência de Kardec (2022, p.176-177), precisamos compreender que nossas almas, presas ao cárcere material de nossos corpos físicos, conseguem se emancipar parcialmente durante o nosso sono, colocando-se em contato com os demais Espíritos desencarnados ou não, sendo o sonho o elemento procedente dessa libertação, demonstrado a partir de nossas lembranças, mesmo rudimentares ou desconexas com nossos sentidos terrenos.

 

Considerando a afirmativa de que “o sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono” (KARDEC, 2022, p. 177), a depender da evolução do Espírito, os sonhos vão imprimir as suas atividades, levando-nos a viajar, conversar, trabalhar e nos instruirmos juntos à Espíritos Superiores, acontecendo também a possibilidade de maus Espíritos se aproximarem das almas fracas e tortuosas, podendo nos conduzir a “mundos inferiores à Terra, onde os chamam velhas afeições, ou em busca de gozos quiçá mais baixos do que os em que aqui tanto se deleitam” (KARDEC, 2022, p. 177).

 

Consolidando a influência dos Espíritos de acordo com seus aprimoramentos, consideraremos as manifestações que se dão durante o sono, por meio do sonho, serem chamadas de visões, podendo ser: “uma visão atual das coisas presentes, ou ausentes; uma visão retrospectiva do passado e, em alguns casos excepcionais, um pressentimento do futuro. Também muitas vezes são quadros alegóricos que os Espíritos nos põem sob as vistas para dar-nos úteis avisos e salutares conselhos, se se trata de Espíritos bons; para induzir-nos em erro e nos lisonjear as paixões, se são Espíritos imperfeitos os que no-lo apresentam” (KARDEC, 2023, p. 98).

           

Tendo uma pessoa encarnada, estando em estado de vigília ou sonambúlica, a capacidade de ver os Espíritos, é considerada como médium vidente, pois conservam a lembrança precisa do que viram, e são consideradas realmente como médiuns ostensivos. Por meio dos sonhos, podendo ver os Espíritos e, mesmo lembrando parcialmente, dos fatos ocorridos, possui-se uma espécie de mediunidade, mesmo que não se seja chamado de médium vidente, pois todos somos mais ou menos médiuns, tal como afirma o item 159 de O Livro dos Médiuns. 

 

Por meio dos sonhos podemos ter a chance de desenvolver atividades juntos à Espiritualidade do Mundo Maior. Uma porta nos abre para possibilitar nosso aprimoramento no que se diz respeito à evolução de nossas almas. Por meio dos sonhos conseguimos nos desdobrar e, de acordo com a nossa moralidade, trilhamos caminhos pertinentes à nossa elevação moral, portanto alguns cuidados como a vigilância de nossos hábitos, as preces, e o desejo de aprender para servir melhor, são imprescindíveis para desenvolvermos as nossas missões terrestres.

 

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Referências:

1 – CAVERNA, Professor. O que é o sonho? H2Foz. Paraná, 17 de outubro de 2024. Disponível em < https://www.h2foz.com.br/filosofia-para-o-dia-a-dia/o-que-e-o-sonho/> Acesso em 23 de julho de 2025.

2 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. Campo dos Goytacazes: Letra Espírita, 2022.

3 – KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. Campo dos Goytacazes: Letra Espírita, 2023.

4 – MORENETTI, Thays. Freud e a interpretação dos sonhos. Ibrapsi. 2025. Disponível em <https://ibrapsi.com.br/freud-e-a-interpretacao-dos-sonhos/>. Acesso em 23 de julho de 2025.

5 – TATSCH, Constança. Por que sonhamos? A ciência explica o motivo e os significados dos sonhos. O Globo. São Paulo, 10 de março de 2024. Disponível em <https://oglobo.globo.com/saude/bem-estar/noticia/2024/03/10/por-que-sonhamos-a-ciencia-explica-o-motivo-e-os-significados-dos-sonhos.ghtml>. Acesso em 23 de julho de 2025

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