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Uma Real Reflexão Sobre o Natal


Ana Paula Martins


No mês de dezembro, especialmente em países de maioria cristã, comemora-se o Natal. Atualmente, é uma época de celebração, com reunião da família e troca de presentes, baseando-se no nascimento de Jesus. Entretanto, a real importância da comemoração é muitas vezes esquecida: o aniversariante e o seu significado em nossas vidas.

 

Para falar de Natal de uma forma mais abrangente, é preciso entender um pouco mais desta tradição. A maioria das pessoas acredita que a tradição natalina é unicamente originada do nascimento de Jesus, mas isso não é verdade; esta tradição (conhecida hoje como Natal) ocorreu muitos anos depois, mas interligada a outras tradições originadas anos antes da vinda do Menino Jesus.

 

Conforme registros da Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledg (uma enciclopédia religiosa de 1853), a celebração de Natal tem origem há mais de 2000 anos antes do nascimento de Jesus Cristo, tendo início com o festival mesopotâmico de Zagmuk, que simbolizava a passagem de um ano para outro. Este período marcava a chegada do inverno e os mesopotâmicos acreditavam que junto vinham os monstros do caos, que enfureciam seu principal Deus: Marduk. Assim, o festival de Zagmuk era realizado para ajudar Marduk em sua batalha contra o caos.

 

A Mesopotâmia influenciou vários outros povos, entre eles o povo grego, que absorveu costumes do Festival de Zagmuk para celebrar a luta do deus grego Zeus contra o titã Cronos (festival que deu origem à Olimpíada).

 

Posteriormente, o festival grego influenciou os antigos romanos no festival Saturnália, que homenageava Saturno, comemorando o solstício do inverno, marcado em 25 de dezembro, quando o Sol se encontrava mais fraco, reiniciando seu crescimento e espalhando a vida pelo planeta. Durante a Saturnália (que começava em 17 de dezembro e terminava em 1º de janeiro), as pessoas não trabalhavam, eram realizadas festividades pelas ruas e se ofereciam grandes jantares aos amigos, onde árvores verdes eram ornamentadas com velas, para afastar os maus Espíritos da escuridão. Também tinham o hábito de presentear os amigos com velas (com o mesmo propósito). A Saturnália foi comemorada até a Era Cristã, porém com o nome de Brumália (que ocorria no início do inverno com uma festa em honra ao deus Baco).

 

No início do Cristianismo, a principal comemoração era a Páscoa, a celebração em memória à crucificação e à ressureição de Jesus Cristo. Não havia nenhum tipo de comemoração pelo nascimento de Jesus.

 

Não se sabe ao certo a data de nascimento de Jesus, mas muito possivelmente não foi no mês de dezembro (do calendário gregoriano – criado em 1582). Lucas disse que os pastores estavam no campo em vigília ao rebanho (LUCAS, 2,8); em dezembro, seria inverno e os pastores não estariam no campo. Outro indício de não ser no mês dezembro é que a viagem de Maria e José não seria apropriada na época de inverno, devido às limitações da época.

 

Muitos afirmam que Jesus nasceu no outono, com base no nascimento de João Batista, trazendo uma possibilidade muito viável em relação ao mês. Em seu Evangelho, Lucas informa que João Batista nasceu antes de Jesus, ficando Isabel grávida quando Zacarias, seu marido, ministrava no Templo como Sacerdote (LUCAS, 1, 8). O anúncio do nascimento de João Batista (LUCAS, 1, 11-13) e o início da gestação de Isabel teria sido no mês de julho, tendo o nascimento ocorrido em março ou abril. Lucas ainda afirma que Maria ficou grávida quando Isabel estava no sexto mês de gestação (LUCAS, 1, 26-31), sendo assim, Jesus teria nascido em setembro ou outubro.

 

Na época da vinda do Messias, o povo romano era basicamente pagão. Nos anos que se seguiram à crucificação de Jesus, os cristãos não eram bem-vistos, foram, até mesmo, perseguidos, pois não adoravam o Imperador, mas sim outro tipo de rei: Jesus. No ano 313, o imperador Constantino proclamou o Édito de Milão, garantindo a liberdade para cultuar qualquer deus, o que facilitou o Cristianismo se tornar religião oficial do Império Romano no ano de 380, por ordem do imperador Teodósio I, através da lei conhecida como Édito de Tessalônica.

 

Muitos acreditam que o dia 25 de dezembro foi escolhido como parte de uma estratégia da Igreja de enfraquecer comemorações pagãs que ainda aconteciam nesta data, como o festival da Saturnália. Sendo assim, colocar o Natal no dia 25 de dezembro era uma forma de esvaziar as festividades pagãs e direcionar as pessoas ao cristianismo. Existe grande possibilidade de que, durante os séculos III e IV, a comemoração natalina em 25 de dezembro se tornou tão popular que o Papa Júlio I estabeleceu a data no século III e o Imperador Justiniano considerado feriado no ano de 529. O primeiro registro escrito do Natal nesta data é do ano de 354.

 

Em relação ao ano do nascimento de Jesus, há algumas passagens bíblicas que fazem menção a um período.        

 

No Evangelho de Lucas, há uma narrativa do decreto de César Augusto para que todo mundo se alistasse (LUCAS, 2, 1-3) e o primeiro alistamento foi quando Quirino era governador da Síria. Entretanto, o censo ocorreu em 6 d.C., então, esta data está imprecisa. Porém, há uma passagem na Bíblia de Jerusalém que diz que o recenseamento foi anterior ao realizado quando Quirino era governador da Síria.

           

É sabido que Jesus nasceu antes da morte de Herodes (que ocorreu em 4 a.C.), entre 8 e 5 a.C. A chamada Era Cristã foi estabelecida por Dionísio, O Pequeno, no século VI, ocorrendo, assim, um erro de cálculo.

 

Algumas revelações espíritas podem contribuir com os historiadores, em relação ao ano de nascimento do Mestre.

 

Em mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, Jesus pergunta para João se lembrava do Seu aparecimento na Terra e ele responde: “Recordo-me, Senhor. Foi no ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedade de frei Dionísio, que colocou erroneamente o Vosso natalício em 754, calculando no século VI da era cristã” (XAVIER, 2017, pg. 45). Desta forma, o nascimento teria ocorrido no ano 5 a.C.

 

No livro Há Dois Mil Anos, Emmanuel informa o ano 33 como ano da crucificação de Jesus (XAVIER, 2017, p. 104), concluindo-se que iniciou seu ministério com 34 ou 35 anos e desencarnado com 37 ou 38 anos.

 

Aqui é preciso questionar: é tão importante a precisão da data de nascimento de Jesus Cristo? Acredito que a resposta é não! Nada muda se Jesus nasceu em setembro, outubro ou dezembro.

 

Ao longo dos séculos, o significado do Natal passou por modificações e adaptações.

A figura do presépio foi introduzida por São Francisco de Assis, no ano de 1223, quando pregava no interior da (atual) Itália. Para que fosse compreendido mais facilmente por aqueles que o ouviam, construiu um presépio para falar sobre o nascimento de Jesus. Assim, o presépio acabou se popularizando e se espalhando pela Europa, como símbolo natalino.


A árvore de Natal é outra característica nas comemorações. Alguns acreditam que esteja relacionada aos povos de origem pagã, que a usavam como enfeite e parte de seus rituais religiosos. Outros dizem que é associada aos povos escandinavos e germânicos, que usavam pinheiros como enfeites durante o Jól (festival religioso que acontecia na Escandinávia na época do Natal cristão). Existe ainda a história de que Martinho Lutero, pai dos cristãos protestantes e evangélicos atuais, andava pela floresta no mês de dezembro, do século 16, e ficou impressionado com um pinheiro coberto de neve e iluminado pelas estrelas no céu. Chegando em casa, disse aos filhos que a cena lembrava Jesus, que deixou as estrelas no céu para vir à Terra. Assim, arrancou um pequeno pinheiro e o colocou em um vaso; decorou-o com pequenas velas acesas nas pontas dos ramos, papéis coloridos e outros ornamentos, passando a ser usado como símbolo de Natal em sua casa (influenciando outras famílias depois).

 

Outra figura natalina muito conhecida é Papai Noel, o velhinho de barba branca que se desloca em um trenó puxado por renas, entregando presentes para as crianças. A história de Papai Noel remete a São Nicolau, um bispo dos séculos III d.C. e IV d.C., que utilizou a riqueza que herdou para distribuir presentes aos menos favorecidos.

 

Também é atribuída a troca de presentes com as ofertas de ouro, incenso e mirra que os três reis magos levaram para o recém-nascido rei dos judeus.

           

Atualmente, é observada uma grande valorização material nas comemorações natalinas, com grandes trocas de presentes, mesas fartas de iguarias, ornamentações dos ambientes, enfatizando o mundo materialista que é o planeta Terra. Para algumas pessoas, o Natal é basicamente isso.

 

Assim como a data precisa do nascimento de Jesus Cristo, nenhuma destas tradições é essencial nesta época. O elemento fundamental dessa comemoração é o nascimento de Jesus! Ele sim é a razão de qualquer tipo de celebração.

 

Foi bem explicado por Emmanuel o planejamento da vinda de Jesus ao planeta Terra (XAVIER, 2017, p. 13). Ele explicou que existe uma comunidade de Espíritos Puros, do qual Jesus é membro, que se reuniram duas vezes na proximidade da Terra, para solucionar seus problemas. A primeira, na própria formação do planeta (no momento que a orbe terrestre se desprendeu da nebulosa solar), quando Jesus liderou o processo de formação e colonização para abrigar e orientar Espíritos em reencarnação (por isso Jesus é considerado nosso Governador Planetário). A segunda vez ocorreu na ocasião em que se decidiu “a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção”.

 

O nascimento de Jesus marca uma nova percepção de luz para a Humanidade sofredora. Os ensinamentos e Jesus servem para transformar as pessoas.

 

É conhecido que Moisés foi o primeiro a revelar as Leis de Deus, ao receber, no Monte Sinai, a tábua dos Dez Mandamentos. Naquela época, Moisés mesclou a Leis Divinas com as leis humanas. O Espiritismo mostra que Jesus personificou a segunda revelação da Lei de Deus. Ele trouxe novas interpretações e retificações das antigas leis. O Mestre apresentou a supremacia da Lei do Amor e do Perdão (não havia mais espaço para a lei do “olho por olho, dente por dente”). A Boa Nova ensinou a Lei de Causa e Efeito, a Lei da Justiça Divina (não como castigo, mas consequência dos próprios atos das pessoas), a existência de vida futura. Jesus encarnou na Terra para tirar todos da ignorância, da infância espiritual, para ser o modelo da Humanidade.

 

No Natal, é necessário dar significado para cada fato ocorrido naquela ocasião, à luz do momento espiritual da comemoração.

 

É sabido que José e Maria viajaram de Nazaré para Belém: “E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi)” (LUCAS 2, 4). Belém situa-se a 6 km de Jerusalém e a 800 metros de altitude, nos montes da Judéia (por isso a expressão “subiu da Galiléia à Judéia”). Vivendo o casal em Nazaré, é possível considerar esta cidade como o dia a dia, a vivência da razão cotidiana; o nascimento de Jesus em Belém pode ser marcado como início de um novo tempo emocional. Sendo assim, reunindo os três elementos, é plausível estabelecer que este momento deve significar que se deve caminhar da razão pura e simples para a vivência racional juntamente com a emocional, em verdadeiro equilíbrio. Também é considerável que a subida nos montes corresponde a necessidade da elevação espiritual, em busca da compreensão do Cristo em toda Sua grandeza.

 

No Evangelho foi especificado o local humilde do nascimento: “E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem” (LUCAS 2, 7). Este momento deve ser significado como uma lição de simplicidade. Aquele Espírito Puro poderia ter nascido em qualquer palácio, cercado de conforto e riqueza, mas escolheu reencarnar em um ambiente humilde, desprovido de qualquer comodidade, para marcar que nenhum bem material é verdadeiramente importante para a Vida Imortal. Foi estabelecido o marco da importância da humildade, o primário de todas as virtudes. Da mesma forma, é possível interpretar que a falta de lugar na estalagem, significa que não há lugar para os interesses materiais na vida de uma pessoa.

 

Foi relatada a visita dos reis magos: “E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: onde está quele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo” (MATEUS, 2,1-2). “E, vendo eles a estrela, regoziram-se muito com grande alegria. E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra” (MATEUS 2, 10-11). Esta narrativa deu errônea interpretação para a atual troca de presentes. A palavra “dádivas”, usada no Evangelho, não significa literalmente presentes, mas sim doações espontâneas de algo valioso, seja material ou não. Nem todo presente dado por alguém é de forma espontânea, muitas vezes um presente é oferecido por obrigação ou algum interesse particular. Muitas pessoas, inclusive, não consideram ganhar de presente algo que não seja material. Também é preciso observar que os magos “abriram seus tesouros”, ou seja, algo que já lhes pertenciam, conquistados por eles. Assim sendo, é possível considerar que é necessário dar valor ao que é de si próprio, as conquistas individuais. Em relação a cada item ofertado, o ouro pode ser referido à autoridade sobre as coisas materiais; o incenso à autoridade sobre as questões espirituais; a mirra ao quesito curativo (além de incenso, a mirra era utilizada como remédio na Antiguidade). Desse modo, é preciso reconhecer a autoridade espiritual de Jesus sobre as coisas materiais, através de seus ensinamentos.

 

E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (LUCAS, 2,10-11).

 

Na comemoração natalina é primordial abandonar vaidades no vestir, interesses no presentear, ambições na refeição. É indispensável que Jesus seja o principal personagem!

 

O nascimento de Jesus representa o início de uma nova era de verdade, amor, pura fraternidade e caridade (lembrando que fora da caridade não há salvação). Os valiosos ensinamentos do Mestre devem ser renovados em todas as pessoas, em cada ação, todos os dias. Agir conforme Suas palavras, Seus exemplos é seguir para a maioridade espiritual. A Boa-Nova trazida deve estar presente no cotidiano de cada um.

 

Sim, é Jesus, o amigo fiel, que volta ..... Não hesistes! Ouve-lhe a petição e faze algo! ... Sorri de novo para os que te ofenderam; abençoa os que feriram; divide o farnel com os irmãos em necessidade; entrega um minuto de reconforto ao doente; oferece numa fatia de bolo aos que oram, sozinhos, sob ruínas e pontes abandonadas; estende um lençol macio aos que esperam a morte, sem aconchego do lar; cede pequenina parte de tua bolsa no auxílio às mães fatigadas, que se afligem ao pé dos filhinhos que enlanguescem de fome, ou improvisa a felicidade de uma criança esquecida .... Não importa se diga que cultivas a bondade somente hoje quando o Natal te deslumbra! ... Comecemos a viver com Jesus, ainda que seja por algumas horas, de quando em quando, e aprenderemos, pouco a pouco, a estar com ele, com todos os instantes, tanto quanto ele permanece conosco, tornando diariamente ao nosso convívio e sustentando-nos para sempre” (XAVIER, 2005, pg. 10).

 

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Referências

 

XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da luz, pelo Espírito Emmanuel. 38ª ed. Brasília: FEB, 2017, p. 13.

 

XAVIER, Francisco Cândido. Antologia mediúnica do Natal, diversos Espíritos. 1ª ed. Brasília: FEB, 2009, p. 10.

 

XAVIER, Francisco Cândido. Crônicas de além-túmulo, pelo Espírito Humberto de Campos. 28ª ed. Brasília: FEB, 2017, p. 45.

 

XAVIER, Francisco Cândido. Há dois mil anos, pelo Espírito Emmanuel. 49ª ed. Brasília: FEB, 2017, p. 104.


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