VOLTE PARA "A" CASA
Jackelline Furuuti
Nós nos acostumamos.
Nos acostumamos a viver mais fora do que dentro de nossos lares e quando nele estamos, damos um jeito de escapar para dentro das telas. Sozinhos? Nem pensar!
Mas agora a vida nos convida à introspecção.
Não adianta buscar subterfúgios para escapar deste momento, pois tudo te levará a isso.
Se não for a temida crença da Quaresma, será a pandemia, se não for a pandemia, serão as fortes chuvas, e corre pela rota de fuga virtual, mas coincidentemente acaba a luz.
Presos fogem e você outra vez se vê prisioneiro.
Incomoda o medo da falta de dinheiro, da falta de comida, da falta do álcool em gel, da falta de paciência com as crianças em casa, da l.i.b.e.r.d.a.d.e, mas no fundo o que mais incomoda, e você não percebeu porque nem gosta de pensar nisso, é o tempo que te sobrará para ficar com você e seus pensamentos sem ter para onde ou com quem ir. Há apenas um lugar, seu interior e uma companhia, a sua.
Essa fase nos ensina duramente, como um pai cansado de ensinar de todas as formas e a gente não aprende, que tudo o que precisamos está dentro da gente.
E como crianças a gente esperneia porque não podemos ficar sem nossas muletas.
Procuramos por culpados, mas a lição não é esta. Não é sobre culpados, esta não é uma audiência judicial, esta é uma medida preventiva, mas também e por quê não, de conscientização do autoconhecimento e, principalmente, sobre o entendimento de que somos o coletivo, que somos todos parte de uma grande rede onde o que acontece em qualquer parte dela, reflete no todo?
Já tivemos tempo demais de teorias sobre empatia, senso coletivo e evolução espiritual. Agora é a hora de pôr tudo isso em prática.
Grande parte dos templos estão fechando para que você possa entender que o templo maior está dentro de você.
O mundo precisa de trabalhadores, muitos, mas estes precisam entender e confiar nos seus poderes e principalmente aprender sobre a verdadeira caridade e por em movimento o que se aprende nos templos.
É hora de recolhimento, de caridade, cooperação, de reflexão. Nada é por acaso e nem acontece sem a permissão Divina.
A quarentena é muito mais que prevenção de um vírus se você parar para pensar.
Ela é também um convite ao respeito e preservação dos seus ancestrais e reconexão com os seus descendentes que hoje são criados no modo automático.
Talvez falte conforto, talvez falte luz, alguns itens.
Mas você precisa aprender e praticar o amor ao próximo, precisa agir com gentileza. Essa é a falta que mais agride a humanidade.
Porque quando tudo isso voltar ao normal, se você não tiver aprendido, sempre te faltará algo que você não saberá nem ao certo o que é.
É momento das folhas caírem, do silêncio, da troca de terra, de perseverança, de paciência.
A Primavera há de chegar, mas para apreciarmos as flores é preciso compreender e aprender com os galhos secos.
São as estações sentidas por nós humanos, já tão compreendida pela natureza.
Não há polos, não há time, não há partido e já era hora de algo acontecer para evitar algo ainda pior.
Todos somos um.
Que sejamos gratos à oportunidade de podermos ficar com nossos pais e filhos, pois nem todos ainda têm este privilégio. Que sejamos gratos por estarmos saudáveis, apenas nos prevenindo, de estarmos aprendendo sem sofrer como muitos país afora estão.
E os outros? O que faremos diante do sofrimento do próximo? Já parou para pensar no que você pode fazer para amenizar estes impactos na comunidade que você vive?
A Pátria Mãe chama seus filhos para a casa interior. Que sejamos para ela, bons e obedientes.
Que possamos escutar o que ela tem a nos dizer.
As flores voltarão, se você cuidar do seu jardim.
Volte para "a" casa.
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