Equilíbrio Nas Festividades de Carnaval
Por: Aryanne Karine
Fevereiro de 2022, a data tão aguardada por muitos como o reinício de uma 'vida normal'. Há os que são indiferentes a esta festividade, mas também os que são tradicionais foliões de blocos carnavalescos e não deixam passar um dia sequer sem aproveitar ao máximo a energia de diversão e descontração que a folia oferta.
Indiferentemente de a vida ainda não ter voltado ao normal, aliás, será mesmo que voltará? Ou melhor, o que mesmo significa a vida normal? A de olhos vendados aos nossos irmãos sofredores enquanto marchamos os passos que a estrutura social capitalista nos impõe de aquisição, poder, status, enfim; há de ficar a reflexão individual do que é e do que deveria ser normal em nosso mundo, onde mais de 2,1 bilhões de pessoas dizem-se cristãos (DANTAS, 2022), enquanto poucos agem realmente como um, entendendo e valorizando Seu Evangelho, exemplos e lições.
Ainda que não em sua 'normalidade' por ocasião inoportuna, porém que tanto se faz necessária em nossa evolução como seres ainda imperfeitos, não estamos aqui para falar sobre ter ou não carnaval, se temos ou não motivos para festejar com tantos desencarnes. A abordagem será pura e inteiramente pensada no equilíbrio nas festividades, um tema até atemporal, que podemos usar como exemplo para outros tipos de festas similares.
Porém, antes de abordarmos como manter o equilíbrio nesses momentos, precisamos contextualizar a folia em questão sobre a qual iremos refletir, o carnaval, passando rapidamente para entender as nossas festividades atuais, que muito diferem das folias de outrora. Diferentemente do que muitos pensam, o carnaval não é tradicionalmente brasileiro; pelo menos, não foi algo criado aqui no Brasil.
O carnaval chegou no Brasil através de uma brincadeira portuguesa chamada entrudo, que teve sua popularidade entre os séculos XVI e XIV. Basicamente, "o entrudo poderia ser realizado de diversas maneiras, como manifestações de zombarias públicas. A forma mais conhecida era o jogo das molhadelas, realizado alguns dias antes da Quaresma e que consistia em uma brincadeira de molhar ou sujar as pessoas que passavam pela rua. Poderia ser realizado publicamente, mas também poderia ser realizado de maneira privada." (SILVA, 2022).
Não prolongando muito sobre sua história, é de relevância mencionar que, após esse período, foram criadas várias festividades diferentes ao redor de todo o país, algumas locais, como o frevo, entre outras. Foi através da tradicional festa portuguesa que, ao unir culturas diferentes, como a cultura africana representada pelos escravos, criou-se o samba, e, assim, essa diversidade de culturas e a transformação social que vivemos em nossa história, principalmente com o crescimento do capitalismo, transformou o nosso carnaval no que conhecemos hoje.
Mas ok, entendendo um pouco de onde surgiu, conseguimos entender como chegamos aqui, como o que conhecemos, as festividades que movimentam bilhões de reais em nosso país, impactam milhares, se não milhões de famílias de norte a sul de nosso território, transformou-se de uma festa portuguesa para uma das características mais marcantes do Brasil mundo afora.
Espíritas conservadores podem tecer comentários maldosos sobre o carnaval como vivido hoje, e, não à toa, trouxe as informações acima para ilustrar, porque aquilo que para uns soa como uma festa que deveria já ter sido extinta, em nossa sociedade capitalista, para outros é o sustento de muitas famílias que tiram da festa sua maior fonte de renda anual, e, caso para nós isso ainda pareça pouco, para muitos deles é a oportunidade de não passar necessidade.
Então, pensando nisso e antevendo a pergunta de "Espírita pode pular carnaval?", é sempre importante relembrar Coríntios, capítulo 6, versículo 12, onde diz ' "Tudo me é permitido", mas nem tudo convém. "Tudo me é permitido", mas eu não deixarei que nada me domine.'(BÍBLIA, 2022). Assim como também é importante relembrar que tão somente nossa consciência é responsável por cobrar nossos atos. Nem Cristo, nem Deus, nem nenhum Espírito do mais alto grau irá julgar nossos atos se não nós mesmos em nosso regresso ao plano espiritual.
Sendo assim, quaisquer comentários discriminatórios perante a conduta e escolhas de nossos irmãos falam muito mais sobre quem somos e nosso falho nível de compreensão das leis de Deus, quando inferiorizamos o outro perante suas escolhas sem nem ao menos ter a compreensão do contexto de sua trajetória.
Entendendo esse ponto, podemos então entrar mais a fundo na questão doutrinária de como conseguir equilíbrio em um momento de festividade como o carnaval. E, para isso, precisamos ter a compreensão de que forma somos afetados em ambientes regrados a bebidas e energias sexuais (nas festas onde não se cultua a cultura carnavalesca e alegria apenas, mas que se assemelham à folia popular conhecida). Para compreender tal ponto, precisamos falar sobre egrégora, e, para ilustrar essa explanação, podemos usar o artigo já publicado em nosso blog Letra Espírita, de Jackelline Furuuti, onde a mesma explica:
"A egrégora consiste na alteração vibratória de um espaço devido à soma de pensamentos semelhantes. Tudo o que pensamos emite ondas vibracionais e é neste momento que captamos e nos conectamos com essas ondas semelhantes que ocorre a egrégora." (FURUUTI, 2022).
Exemplificando, se entramos em um ambiente onde muitas pessoas estão emanando energias sexuais, essa egrégora formada pela energia emanada de cada pessoa do local irá chegar até nós, sendo conscientes disto ou não. Por isso, por exemplo, conseguimos por vezes sentir a energia quando chegamos a um local onde acabou de haver uma discussão. Quanto mais sensíveis e ligados ao plano espiritual, mais as energias nos afetam. Ou quando encontramos pessoas felizes reunidas e rapidamente somos tomados por aquela energia, ainda que nosso dia não esteja tão bom. Somos influenciados não só pela energia que emanamos, mas também pelos locais que frequentamos.
Em uma festividade como o carnaval, é inegável que na folia, em meio às músicas com conotações sexuais que se misturam com marchinhas tradicionais, as companhias espirituais a que os foliões se ligam através dos pensamentos que emanam nem sempre serão companhias que gostaríamos de ter ao nosso lado. E aí está a questão pertinente ao nosso tema: como equilibrar nossa energia em ambientes assim.
Simples, porém, difícil. Cristo nos deixou então um recado para esses momentos: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca." (BÍBLIA, 2022). Para conseguir manter o equilíbrio nesses momentos, o primeiro passo é entender como os Espíritos que ali estão tentam nos influenciar através do processo obsessivo, para, aí sim, conseguir vigiar nossos pensamentos.
Muitos espíritas, por compreenderem esse processo obsessivo, resolvem guardar-se de momentos e locais com tais sintonias, pois sabem o quão moroso pode ser o trabalho de vigiar pensamentos. Muitos nem sintonizam com tais festejos e para si não faz sentido ali estar. Há os que gostam de blocos carnavalescos e folias com amigos e familiares, e não há nem certo nem errado. Cada um de nós é um universo inteiro dentro do nosso mundo. Cada um possui seus gostos e peculiaridades, e como condenar, por exemplo, os que festejam em blocos em casa com seus familiares?
Lembremos sempre que, não importa muito aquilo que fazemos, o que vale é a intenção que empregamos naquilo que decidimos fazer. Jesus era amor, seja em meio a festejos, ou no monte, orando; sua única religião era amar!
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Referências Bibliográficas:
BÍBLIA On. Coríntios 6:12. Disponível em: https://www.bibliaon.com/versiculo/1_corintios_6_12/ . Acesso em 12 jan. 2022.
BÍBLIA On. Mateus 26:41. Disponível em: https://www.bibliaon.com/versiculo/mateus_26_41/. Acesso em 12 jan. 2022a
DANTAS, Gabriela Cabral da Silva. As Cinco Maiores Religiões. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/as-cinco-maiores-religioes.htm. Acesso em 10 jan. 2022.
FURUUTI, Jackelline, Egregora. Blog Letra Espírita. Disponível em: https://www.letraespirita.blog.br/single-post/egregora. Acesso 12 jan. 2022.
SILVA, Daniel Neves. História do Carnaval no Brasil. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/carnaval/historia-do-carnaval-no-brasil.htm. Acesso em 11 jan. 2022.
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