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O Tríplice Aspecto da Doutrina Espírita


Carla Silvério Barbosa


A Doutrina Espírita é estudada sob três aspectos distintos: ciência, filosofia e religião.


Nesse sentido, no tocante aos aspectos científico e filosófico, na obra “O que é o Espiritismo,” diz Kardec (2005, p. 50):


“O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações.”


Já sobre o aspecto religioso, na obra “O Livro dos Espíritos”, Kardec (2007, p. 632) coloca a seguinte lição: “O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios de filosofia e de moral que delas decorrem e o da aplicação desses princípios.” (aspecto religioso – grifo nosso).


Em “Obras Póstumas” Kardec (2005, p. 260-261) complementa seus ensinamentos elucidando que o Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, alma e vida futura.


Para que o tríplice aspecto da Doutrina seja melhor compreendido, necessário o estudo pormenorizado de cada um deles de forma individualizada.


Inicialmente, para melhor adequação didática do estudo proposto, destaca-se o aspecto científico.


Sobre esse tema, Gabriel Delanne (1989, p. 13), grande nome no estudo da Doutrina Espírita, em sua obra O Fenômeno Espírita, destaca que o Espiritismo é uma ciência cujo fim é a demonstração experimental da existência da alma e sua imortalidade, por meio de comunicações com aqueles aos quais impropriamente tem sido chamados mortos.


A Ciência Espírita teve seu início na aplicação de metodologias analíticas de estudo dos fenômenos físicos-mediúnicos (mesas girantes), em que Kardec e outros mais cientistas de sua época buscaram estudá-los para compreenderem quais as forças físicas estariam animando aqueles objetos inertes.


Como poderiam mesas interagir com seres humanos e trazer respostas a indagações propostas? O que de extraordinário haviam nesses fenômenos?


Foi pela observação atenta e cuidadosa de Kardec e tantos outros cientistas que o Espiritismo iniciou-se pelo seu aspecto científico, portanto.


Em seus estudos e experimentos, Kardec sempre buscou respostas dentro da ciência material da época para somente após esgotadas todas as hipóteses possíveis e não haver concluído por ação de quaisquer das leis da física ou da natureza, se passava então a cogitar a atuação de forças invisíveis extracorpóreas.


Conforme explicou Kardec (2005, p. 67) a Ciência Espírita é composta por duas partes, a experimental e outra filosófica, sendo a primeira relativa aos fenômenos em geral e a segunda, relacionada às manifestações inteligentes. E, segundo o insigne professor, somente compreende o âmago da Ciência Espírita os que refletem e estudam no íntimo do silêncio e do recolhimento todas as lições passadas pelos Espíritos, pois a verdadeira ciência espírita está justamente no ensino que os Espíritos deram, levados de forma séria e perseverante, com a finalidade última de melhoria íntima dos homens e de toda da humanidade.


O Espiritismo, pois, não estabelece com o princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou não ressalta logicamente da observação. [...] Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto


Assim, pelo aspecto científico da Doutrina Espírita comprovamos a existência da alma e sua imortalidade e ainda a existência do mundo invisível e o intercâmbio concreto entre os planos materiais e espirituais, pela comunicabilidade dos Espíritos com os seres humanos encarnados.


Seguindo o estudo, passa-se a analisar o aspecto filosófico do Espiritismo.


Por Filosofia Espírita entende-se todos os ensinamentos trazidos pelos Espíritos a colaborar para a reforma íntima dos homens, sua melhoria e depuração de suas arestas, para evolução individual e coletiva de todo o orbe terrestre.


O estudo da Filosofia Espírita, portanto, tem por objeto o estudo do homem e no mundo em que vive, do Espírito e do Universo como um todo interconectado, buscando compreender como as coisas são, de onde vêm, para onde vão e como tudo se mostra no fim em perfeita harmonia.


Como ensina Evelyn Freire (2019, p. 28):


“Espiritismo é filosofia porque analisa a Criação Divina, explicando qual a razão de Deus ter criado o homem, qual a sua origem e sua destinação, reflete sobre as causas da felicidade e infelicidade humanas.

[...] é uma filosofia que ensina o autoconhecimento como instrumento indispensável à evolução intelecto-moral do Espírito, tendo um profundo potencial para transformar o mundo a partir do indivíduo.”


Nesse sentido, Pedro Franco Barbosa (2002, p. 101) esclarece que definindo as responsabilidades do Espírito, esteja ele encarnado (animando corpo físico) ou desencarnado (já liberto do corpo material), o Espiritismo enquanto filosofia é a regra moral de vida e comportamento para os seres da Criação, dotados de sentimento, razão e consciência.


O Espiritismo está para a compreensão de todos, não se opondo à difusão da luz trazida à humanidade por meio das lições passadas pelos Espíritos. Não exige crença cega, mas ao contrário, estudo sério e perseverante, pois o homem deve saber os motivos concretos e reais de sua crença e não apenas aceitar passivamente dogmas outrora impostos por homens de outras épocas mais remotas da evolução humana, sempre apoiando-se na razão.


É na sua filosofia que o Espiritismo encontra a sua força.


Sobre a filosofia espírita, elucida Kardec (2005, p. 630) que mesmo os que não tenham presenciado qualquer fenômeno material-metafísico encontram nela a explicação do que nenhuma outra havia explicado antes, tão somente pelo raciocínio lógico, demonstrações do que de fato interessa ao futuro, ao passo que conduz o seu estudioso a calma e firmeza da certeza no porvir.


A Lei do progresso é uma lei natural e como tal se aplica a todos indistintamente, e por meio do Espiritismo, em especial seu aspecto filosófico, a humanidade progride moralmente, se aprimora e se depura, consequência inevitável (KARDEC, 2005, p. 627).


Por fim, há o aspecto religioso da Doutrina Espírita.


Em “Obras Póstumas”, Kardec (2005, p. 260-261) diz que a Doutrina Espírita é filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, uma vez que tem as bases fundamentais de todas as religiões: Deus, alma e vida futura, contudo seu aspecto religioso é diverso do que tradicionalmente se entenda por religião.


O Espiritismo não tem rituais próprios e tampouco culto pré-estabelecido. Não tem paramentos e nem templos estruturados com decorações padronizadas e não tem sacerdotes ou celebrantes (KARDEC, 2005, p. 260-261).


No dizer de Evelyn Freire (2019, p. 28-29):


“O Espiritismo é religião porque desencadeia, a partir da apreciação dos princípios que traz, uma moral que conduz o homem à ética do amor exemplificada pelo Divino Mestre.


Em discurso publicado na Revista Espírita de dezembro de 1868 (2005, p. 490-491), Kardec explica o aspecto religioso da Doutrina Espírita ao dizer que no sentido filosófico o Espiritismo é uma religião, doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre as bases mais sólidas: as leis da natureza.


O Evangelho Segundo o Espiritismo (KARDEC, 2008, p. 89-90) ensina que o objeto da religião é conduzir o homem a Deus, haja vista que este não chega ao Criador senão após atingir o mais alto grau de perfeição. Assim, toda religião que não transforma o homem em um novo ser, melhor e depurado de suas mazelas, não atinge esse objetivo.


O Espiritismo visto sob o aspecto da religião revela aos homens as leis do mundo moral, suas penas e recompensas como consequências naturais da vida terrestre e na vida futura, se apoia em Deus, mostrando aos homens o caminho para a verdadeira felicidade, esperança e fraternidade (KARDEC, 2005, p. 629).


As práticas ritualísticas, paramentos, vestimentas e tradições criadas pelos homens não podem estar em primeiro plano em detrimento dos verdadeiros mandamentos de Deus.


O Espiritismo enquanto religião, proporciona aos homens, portanto, acolhimento, com solicitude, todos os que carregam consigo seus tormentos e suas dores, com a incerteza de suas indagações mais íntimas e profundas, não respondidas outrora por qualquer outra religião, ciência ou filosofia (KARDEC, 2004, p. 15), ele é O Consolador prometido, apaziguando as angustias existentes nos corações e nas almas dos homens (KARDEC, 2004, p. 329; 349).


Por fim, é no aspecto religioso que repousa a grandeza divina da Doutra Espírita, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus, promovendo a renovação espiritual do homem (CARVALHO, 2019, p. 29).


REFERÊNCIAS:


BARBOSA. Pedro Franco. Espiritismo Básico. 5ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. O espiritismo filosófico. Segunda parte, p. 101.


CARVALHO. Evellyn Freire de. Doutrina Espírita sem Segredos. 2ª ed. Editora Letra Espírita. Campos de Goytacazes-RJ, 2019. Coleção Conhecendo o Espiritismo.


DELANNE. Gabriel. O Fenômeno Espírita. Tradução de Francisco Raymundo Ewerton Quadros. 8ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1989.


KARDEC. Allan. Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 38ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Primeira parte, p. 260-261.


KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 358ª ed. Tradução de Salvador Gentile. Araras-SP, IDE, 2008, Cap. VIII, p. 89-90.


KARDEC. Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra, 1ª ed. comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Conclusão VII, P. 632.

KARDEC. Allan. O que é o espiritismo, 53ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Preâmbulo, p. 50.


KARDEC. Allan. Revista Espírita. Jornal de estudos psicológicos. Ano 1868. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Ano 11. Dezembro de 1868. Nº 12 Item: Discurso de Abertura pelo senhor Allan Kardec: O espiritismo é uma religião?, p. 490-491.


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